A coluna de Contardo Calligaris, na Folha, é decepcionante. Foi ainda pior ontem, com "Jovens Delinquentes". Em reação ao texto, enviei o email abaixo para a ombudsperson do jornal.
Suzana,
Há tempos ignorava a coluna de Calligaris, por avaliá-la como ruim.
Ontem a chamada que dizia que crianças são más me levou a ler o texto.
Nova decepção.
Calligaris, um freguês de clichês e ideias banalizadas, ecoa que a cultura
pode tornar uma criança má em alguém bom. Bobagem. Não é a cultura,
nem no seu sentido mais sofisticado, que pode transformar um ser em humano. É o autoquestionamento; justamente é um dos méritos de Os Miseráveis mostrar isso brilhantemente.
Outro erro: incluir Javert na argumentação, como se ele fosse Bom. Javert sequer é civilizado. Ou será que não admitir que olhem em seus olhos é ser civilizado?
O sistema que Javert bem representa não faz ninguém bom ou civilizado. Produz marginalizados e soldados cegos. Estes, os Javerts, mandam para a cadeia Fantines, e prontamente acatam acusações, desde que partam de poderosos.
Calligaris diz que faltou um Javert em Belém. Ainda que não houvesse um bem ali, não faltam Javerts em nossa sociedade. E ela é tão atrasada justamente por isso.
Calligaris desdenha, porque não entendeu, a obra de Vitor Hugo. Atrasados, muitos de nós serão influenciados pelas bobagens repetidas por Calligaris. Se eu fosse ele, iria ter com o assassino jovem que matou o outro jovem. E pediria a ele, assassino, que me olhasse nos olhos.
Por favor, Suzana, sugira ao colunista que assim o faça.
Mariangela Pedro