Sunday, February 24, 2013

PRAZER QUASE SEXUAL -Pondé três vezes na semana

A Folha publicou, no dia 19, carta (ou parte dela) de um católico que escreveu: Deveríamos ter Pondé três vezes na semana. Ele não deve ir à missa três vezes na semana... Diante da angústia com a renúncia do papa, a frase revela que a cura veio de fora da igreja.

Pondé ofereceu, no dia 18, mais uma vez, sentenças vazias e impactantes, multiuso como as do horóscopo e modulares como certos móveis. Desta vez, elas serviram para contra-atacar a piada: "O papa está de aviso prévio". Quase certamente, uma das piadas mais originais e verdadeiras.

Por sua coluna do dia 18, Pondé foi elogiado por outros, que apontaram aspectos que seu texto de fato não contém.

Por que Pondé é genial? Bem... um... eu disse genial? Ah, não sei. É genial porque faz a gente p... pensar... O problema é que a gente tem preguiça de pensar. É isso. Mas não perco a coluna dele.

Nem eu.

Procuro, na verdade, não perder muito; ela faz parte de um fenômeno importante e, junto com as cartas dos eleitores, constitui evidência robusta e... super-em-conta (barata mesmo).

Você achou que a fala acima (em itálico)  tem idas e vindas, contradições? O texto de Pondé é bem assim.
Por seu texto ser o que é, Pondé, colunista do caderno Ilustrada da Folha (segundas-feiras), tem tantos seguidores que o odeiam, e tantos perseguidores que não vivem mais sem ele. Pelo menos por enquanto.

Pondé tornou-se um fenômeno, comparável ao papa em vários aspectos. No escrever, não! Papa nenhum escreve mal, muito menos terrivelmente mal.

Vamos à comparação. O primeiro aspecto: O dom de contrariar-e-abençoar. Pondé debocha e menospreza e intercala isso com afirmações 'reparadoras' banais, que soam definitivas; passo a chamá-las captions. Fiéis pondianos orgulhosamente declaram 'pensar' a respeito do conteúdo das captions. Na verdade, apenas saem repetindo-as feito papagaio.

Na Igreja, as captions acompanham as bênçãos papais (e as de padres com "bênçãos fortes"). Também estão em frases de sermões, bem como em versos pinçados da Bíblia e "devidamente" interpretados.

Outro aspecto de peso: pedofilia, lavagem de dinheiro, povos inteiros dizimados, muitos outros reduzidos a quase nada. Nem tudo isso tira do papa a aura de santidade, o ensejar respeito automático. Vai que eu acabo castigada por Deus por desrespeitar o papa!
É esse o "raciocínio" preponderante até entre não católicos. Inclusive os pondianos.

Pondé não defendeu a pedofilia como fez Gullar ("por que é considerada crime?", Repressão e Preconceito, Folha, 24.2.2008). Pondé escreveu "Páscoa" há quase um ano, e a reação foi tal que achei que ele ia cair. Que nada! Tal qual na Igreja, bastou um fuleiro "o que eu disse está de acordo com algo no livro tal; vocês não entendem de coisas antigas". Tudo ficou como antes.

Há um só papa de cada vez - vai continuar havendo um só - e um só Pondé que, como o papa, fala ao mundo uma vez por semana. Pondé três vezes por semana quebraria o feitiço.

O que nos enreda ao feitiço? A resposta está até na Bíblia, mas quase ninguém captou: nosso medo à liberdade. É por isso que adoramos Pondé? É. Ele nos leva a ter "noções cla-ras de tudo", tão "naturalmente" - isso é ópio para quem tem medo à liberdade. Sabe como muitos confessam isso com outras palavras que não são um soco no próprio estômago? Declarando que têm preguiça de pensar. (Uma preguicinha só, ora! E quem disse que pensar é obrigação? Só pode ser louco!)

Mais um aspecto: O papa e Pondé estão no centrão e a nosso serviço. O centrão é tomado como o céu. Mas não é. Nenhum lugar sem saída pode ser um céu. Se o rebanho não é livre, quem está no centro também não pode ser.

O papa, Pondé e Deus - todos estão a nosso serviço.
Isso não vale para Deus!
Não? "Deus fez tudo por nós". "Deus nos ama para que nós amemos também".
Deus não tem horário, nem limites no cargo: cria, julga, envia sinais, castiga, une homem e mulher, separa joio do trigo, faz milagres, contabiliza promessas, dá baixa nas cumpridas. Ver tudo o que acontece é o de menos.

Diante disso, o posto de papa parece tranquilo. Renunciar, isso não pode! Ele não pode ousar... abandonar o serviço a nós! Intriga da grossa, idade, nada justifica.

Pondé está com tudo para se tornar... um dos "papas" mais longevos. São também marcas inconfundíveis do seu papado a bajulação e a destruição implacável. O decoro é generoso com seus "irmãos" filósofos medievais (sim, todos já falecidos) e com outros que conquistaram seu espaço em época pré-pondiana; já o trator passa sobre os que desfrutam uma onda, quietos, curtindo a própria praia - não há perdão para isso. Os fiéis pondianos gostam mais das colunas com mais tratores.

Por fim, o aspecto que falta: a palavra. Como acontecesse com a Bíblia, a palavra escrita de Pondé conta muito, mas de um modo, admitimos, algo bizarro. Ao cabo da leitura de um texto Pondé, temos uma série de "noções":

a) temos a certeza de que autoridades nos agraciam com palavras finais; mesmo logo após a leitura, não lembramos de nada, porém.
b) encontramos algo que nos pica o emocional e fazemos nossos juros dispararem por isso. A noção, desta vez nítida, é de que Pondé é o máximo. Essa manifestação toma a coluna de leitores, mas caiem bem melhor em tuitadas.
c) logo após b), percebemos que nenhuma ficha de fato caiu. Mas o efeito foi ótimo enquanto durou. Por quê? Não sei... Graças a Deus... sai outra coluna genial na segunda-feira.

SEARCH BOX ~ BUSCA

THIS PAGE IS DESIGNED FOR A TINY GROUP OF
'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.