Friday, December 30, 2011

Luiz Felipe Pondé fechou o ano com preguiça e afrontando os ateus

Aqueles que me seguem neste blog de fato já sabem que o venerado colunista da Folha e professor da PUC-SP simplesmente se esquivou (fugiu, no termo popular) quando eu, por intermédio da 'ombudsman' do jornal, Suzana Singer, via email, cobrei de Luiz Felipe Pondé que reconhecesse que ele, em artigo de sua coluna, totalmente se esquivoca ao interpretar Chesterton e usá-lo como apoio argumentativo em seu artigo O Casal MacBeth, publicado em sua coluna em 27.09.2010 (o link permite que os não assinantes da Folha tenham acesso ao texto no site Conteúdo Livre).

No dia seguinte, 28.09, publiquei neste blog minha crítica: "Colunista da Folha projeta visão negativa da mulher em leitura de Chesterton", um título muito caridoso para a grosseria do erro de Pondé.

No dia 04 de outubro, sai aqui Luiz Felipe Pondé responde de forma vigarista. Título, desta vez, à altura dos fatos aqui divulgados.

Entre 28.09 e 04.10, houve troca de emails entre mim e Suzana, da Folha, pelos quais ela me encaminhou a resposta vigarista de Pondé e eu respondi, clamando que estava em jogo a honestidade intelectual. Suzana então alega a mim que enviou meu clamor para Pondé, mas previu que ele pularia fora, pois ela me escreveu que não podia garantir que Pondé daria resposta daquela vez. E Pondé de fato silenciou sobre seu grande erro, a partir de uma leitura enviesada, incorreta de um ensaio de Chesterton, em que o casal MacBeth também é objeto.

Essa não era minha primeira crítica a Pondé. Já trocara emails com ele diretamente. E ele já então mostrou resistência. Ele escreve mal, não apenas porque erra a grafia, concordânica, etc., mas porque sua escrita é evidência mesma de que ele pensa mal. Ter formação na USP - Pondé tem - não isenta todos, claro. Muito ao contrário, pode servir de escudo contra a luz - ou de imã para atrair gente ingênua, dada a seguir quem é seguido por muitos, já que não tem como avaliar por critérios válidos (quantidade de seguidores - sorry Twitter e Facebook! - não é válido) e distinguir por si os bons dos maus líderes.

Em 'Saudades de Deus', último artigo deste ano, publicado, portanto, segunda-feira, 28, Luiz F. Pondé repete tema e ideias de artigos seus anteriores, mas desta vez 'prima' (é sarcasmo, quero dizer justamente o oposto) por se referir à inteligência dos golfinhos ao avaliar a resposta ateia à questão de Deus. Assim, a inteligência de ateus é equipara (elogiosamente?) à inteligência... dos golfinhos, pelo professor venerado por muitos e muitos - veneração que não surpreende os que sabem como os personagens piores da história sempre conquistaram multidões, enquanto Jesus (antes de virar Cristo pela teologia vencedora) foi seguido por, no máximo, 6. Doze é conta de chegar da teologia, para 'harmonizar' com o número de tribos de Israel. Fecha travessão.

Estou profundamente indignada. Conforme um dos meus tuítes recentes, houve um leitor da folha, registrado, que registrou um "excelente texto" ao comentar o artigo Saudades de Deus, de Pondé. E isso foi tudo o que tal leitor disse sobre o referido texto. Se perguntássemos a ele com base em que ele deu seu 'excelente', descobriríamos que tal leitor é... mau leitor, no sentido de que, como a enorme maioria neste país, não sabe ler analiticamente. Bem, o próprio Pondé não o sabe, como restou comprovado.

Decidi, última hora, e faltam mesmo poucas horas para terminar 2011, incluir o texto de Pondé gerador de minha indignação aqui, na íntegra.

Está na minha pauta, para publicação aqui, análise detalhada e crítica textual dessa pavorosa, acintosa 'Saudades' - falta apenas organizar, preparar para digitação. Pondé - não precisaríamos da ajuda de Nostradamus como profeta - vai começar 2012, tudo indica, fugindo de novo...
Mariangela Pedro


Saudades de Deus
Luiz Felipe Pondé
extraído de
http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/luiz-felipe-ponde-saudades-de-deus.html
(acessado em 30.12.2011)

O ateísmo me parece, entre todas as hipóteses sobre o universo, a mais fácil e simples Tem coisa mais monótona do que discutir sobre a existência ou não de Deus? Ninguém crê em Deus "por razões lógicas". Isso é papo furado. Ninguém "decide" ter fé.Tentar provar que Deus existe porque ele seria "uma necessidade da razão" me parece um engodo.Primeiro porque a razão é risível em suas necessidades, como diria o cético Michel de Montaigne (século 16). A pergunta pela origem de tudo que existe (como numa espécie de aristotelismo aguado) não prova nada. Temos inúmeras necessidades que não são autoevidentes -por exemplo, que o bem deva vencer ao final das coisas.Muitas vezes o mal vence e pronto. Quase sempre. Por outro lado, é interessante se pensar de onde veio a matéria que explodiu um dia e o lugar onde ela explodiu.Mas isso nada prova acerca do Deus ocidental. O princípio pode ser uma mecânica estúpida.Aliás, o chamado "argument from evil" (argumento a partir do mal) do ateísmo é famoso. Autores grandes como Dostoiévski e Kafka, entre outros, já o frequentaram de forma brilhante.O argumento basicamente é o seguinte: se Deus é bom, por que o mundo é mau? Alguns já chegaram a supor que Deus seria mesmo mau, como o próprio Kafka.Duas questões são importantes apontar nesse debate, uma com relação aos crentes, outra aos ateus.Primeiro os crentes. Uma falácia comum por parte dos crentes é supor que seria impossível você ser uma pessoa razoavelmente moral sem alguma forma de religião. A história prova que ateus e crentes dividem o mesmo lote de miséria moral. Pouco importa ser ou não crente.Pessoalmente, acho que o acaso decide: o temperamento (o acaso de você ter nascido "assim ou assado") é quase sempre o juiz do comportamento humano e não "valores" religiosos ou éticos seculares (não religiosos).Portanto, a tentativa de afirmar que, se você é ateu você necessariamente não é "bom", é pura falácia. Tampouco penso que uma religião faça falta para todas as pessoas. Muita gente vive sem crise sem acreditar em coisa nenhuma "do outro mundo". Isso não significa que ela seja sempre feliz (tampouco os religiosos o são), a (in)felicidade depende de inúmeros fatores.E mais: "crer ou não crer" não é algo que você escolhe, "acontece". Grandes teólogos como Santo Agostinho, Lutero e Calvino diziam que a "fé é uma graça" (simplificando a coisa), alguns receberam o dom e outros não (portanto, ela "acontece", como eu dizia acima, não é você quem escolhe ter ou não). Acho essa ideia bem mais elegante do que esse papo furado acerca das necessidades racionais, sociais, morais ou psíquicas da crença.Quanto aos ateus, acho risível a ideia de que o ateísmo seja uma "conquista" da razão ou de alguma forma de rigor moral ou "coragem cosmológica".Nada disso, como já disse antes, e repito, até golfinhos conseguem ser ateus em sua maravilhosa vida aquática. Fiquei ateu quando tinha oito anos.O ateísmo me parece, entre todas as hipóteses sobre o universo, a mais fácil, simples, rápida e quase "fast food theory" (teoria fast food).Não precisamos nos esforçar muito para perceber que podemos talvez um dia descobrir a causa"natural" do universo, ou acabarmos como espécie antes de descobrir qualquer coisa. E "who cares" se sumirmos um dia?E mais: é quase evidente que somos uma raça abandonada na face da Terra e a indiferença dos elementos naturais para conosco (sejam eles externos ou internos ao nosso corpo) salta aos olhos.E mais: a possibilidade de estarmos sozinhos é sempre mais fácil do que acompanhados por um ser maravilhoso, dono do universo e que sabe cada fio do cabelo que você tem na cabeça.Não há nenhuma evidencia definitiva de que Deus ou que qualquer outra entidade divina exista. O ônus da prova é de quem crê. Além do fato de que os japoneses, caras bem inteligentes, não creem em Jesus na maioria das vezes.Acho Deus uma hipótese acerca da origem das coisas mais elegante do que a dos golfinhos. Mas, por outro lado, a ideia de que um dia o pó tomou consciência de si mesmo e constatou sua dolorosa solidão cósmica é bela como uma ópera.
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