Há horas estou represando as lágrimas. Ler o jornal não ajudou, ao contrário.
Como se já não fosse muito dura a realidade do tratamento, que acabou vindo à tona na Folha, dispensado por PMs a supostos bandidos, parte da manifestação a respeito, provinda do chefe da PM, indica que a opinião pública teria aprovado aquele comportamento horripilante. Eu mesma já observei que "Bandido merece morrer" sai de inúmeras bocas supostamente cristãs com convicção semelhante àquela com que sublinham a "fé". Ler sobre isso piorou meu estado psicológico.
Quantos desses casos ocorrem todos os dias? E perpetrados, com a mesma insana indiferença, por protagonistas que não veem, jamais verão, exagero ou erro no que fazem. Para eles, bandido não apenas "tem de morrer" - tem de agonizar sob berros o mais sarcásticos possível, modulados por um sadismo que é tão-somente aparado pela percepção do "problema" que pode gerar para eles, os "durões". E esse problema é nenhum.
Bem sabemos, o segurança que matou Dácio, executivo e herdeiro dos filtros Europa, foi solto. Quem matou o aluno da FEA-USP? Sua identidade não foi divulgada para o público, que leu no jornal que um comparsa confesso negara-se a delatar o assassino. A execução da juíza vem rendendo e rendendo dividendos de uma sequência de matérias de gosto duvidoso. Sob o título garrafal "Sem limites", reportagem da Folha pobremente redigida (apenas mais uma) emenda episódios sem data e que, sem fundamento, induzem a imaginação desse povo "sábio" a uma personalidade-problema. E um saltinho besta de raciocínio para lá de embotado logo conclui: a juíza plantou a própria morte.
Moral nacional: quem resolve os crimes - e a jato - é o povo, pois a polícia não resolve não. O "dono do porsche teve, graças à campanha da mídia s.a., julgamento em tempo sumário, definitivo: estava a 150 km/h. Condenado. Ponto. Cadê o laudo? (sobre a velocidade), pergunto a ombudsperson do jornal, findo o prazo para que aquele saísse. Não obtive resposta. Para que laudo se o "julgamento" já ocorreu!? E há mais casos quentes na praça?
Se ao menos o tempo estivesse bom. Minha depressão seria mais facilmente superada. Estou com uma cara horrível. Ainda assim, procuro pensar que ninguém nota isso.
Além dos PMs, temos os seguranças de empresas, que passaram a lidar diretamente com o público. Já denunciei alguns casos aqui. Pareciam muito graves. Estava enganada.
O segurança encosta em mim. Afasto-me. Ele se aproxima de novo, e encosta. Dirijo-me ao empregado lourinho: O segurança de vocês cola assim no cliente? Ele não se envolve. Como a matéria "Sem limites" da Folha sugere, se envolver e acabar na delegacia é condenável, passível de execução arbitrária com 21 tiros.
Diante da impavidez do empregado, o segurança levanta a voz. Tento ver o brochinho com o nome da empresa. Ele me agarra, e engrossa: "Não põe a mão!". E aquele olhar de assassino. Não demonstro medo. Ele retoma, trovejando: "Sou o responsável. Você atrapalha. Tenho de ficar de olho. Aqui não tem obra de arte para ficar olhando". Eu, escutando. Como eu não reagia da forma de ele previa, ele então declara: "Fora daqui"! Vou até o empregado de novo e pergunto: "Não há um gerente aqui"? O segurança agarra-me por trás e me arrasta. Grito. Derrubo coisas. So-cor-ro!! Derrubo uma gôndola, que caiu parcialmente em cima de mim. Por fim, o segurnaça me lança na áspera calçada. Mais dois empregados surgem e observo a reação deles, atônita. Eu, bem claro, é que estou atônita. Dois deles esboçam risos. O loiro me olha fixamente. Mas nada além disso. O segurança ainda acha que é preciso mais e berra pondo limites a mimha locomoção: pela porta da loja não posso passar.
Que loja? Pasmem. O rei das drogas, quase monopólio. DROGASIL. Na zona leste? Não, Na Av. Angélica, perto do Parque Buenos Aires. Não consegui ver número na fachada. Mas não há dúvida.
Vagarosamente, levanto-me. Estava de salto alto. Vem-me à cabeça, claro, ir à polícia. Mas... cadê testemunhas? E a lembrança bem nítida de minhas experiências em delegacias... Continuo a observar os que eram as testemunhas - os empregados que consentiam com o que ocorria. "Vai embora, vai embora", disse um deles. "Para que a senhora vai criar caso?", diz o outro.
O segurança vai para dentro. Ficaram os três empregados, arrumando o que tinha ido ao chão. De pé, continuei na calçada, em frente à loja. Um carro passava quando eu era atirada na calçada pelo segurança. Mas só vi o veículo de relance. Depois não vi mais ninguém na rua. Um dos empregados morenos, cabelos totalmente encacheados, com uma expressão de riso contido, vem para a porta e diz: "Ele vai jogar água, água fria, na senhora. A senhora vai querer ficar molhada?" Diante da tranquilidade com que me diz isso, respiro e pergunto, como se não fosse comigo: "E você acha isso normal?" Ele não titubeia: "Sim. Acho sim."
Pergunto-me: cadê as câmeras? Claro, há câmeras. Será que foi isso o que o segurança foi fazer lá dentro - apagar e desligar a gravação?
É. O que fazer?, perguntei-me. Acordar um amigo àquela hora? O segurança volta. Da entrada, olha fixamente para mim. Eu olho para ele do mesmo modo. Desenho seu rosto na mente. A frieza e o desafio em sua expressão. Uma mulher sozinha. Gente, eu já cansei de propolar: eles só dão asas à neurose deles de valentia com mulheres sozinhas, total covardia, total abuso. Mas esse não "apenas" esmurrou porta, berrou, ofendeu, arrancou minha leitura das mãos (como fez o chefe da segurança do shopping Iguatemi) e me catou, aos berros, no banheiro das mulheres (o "assistente" do chefe da segurança do Iguatemi). Eu fiz pouco até agora. O empregado de loja próxima, para quem relatei o ocorrido, está certo: "Você não pode deixar barato".
Não vou deixar. "Você não quis fazer BO... Tem de fazer.", ele declara.
Sem um advogado, não dá mais para encarar uma delegacia. Já cansei de ir à delegacia, para sair de lá pior. Mas o que aconteceu não pode mesmo ficar "barato". Lembrei-me dos rebeldes de Londres. Olhem, que tal saquear certa farmácia... Claro, tudo vem à mente, ainda mais quando você vive num país onde não há parâmetro algum na prática. Não, não há. E não há porque o povo é ignorante e, como já argumentei aqui, retardado moralmente: "Rouba mas faz". E empregados da monstruosa Drogasil: "A senhora está criando caso". Portanto, "É normal você ser arrastada, atirada à calçada e ainda levar um banho de água fria": "Nós bem que avisamos!!"
Não estou convocando uma revanche, um saque. Ou planejando um assassinato. Estou pensando, escrevendo. Até o escritório do advogado reabrir. Mas você tem razão: não fazer nada de "subversivo", diante de tanta violência gratuita e humilhação, dá depressão. Se você não é capaz de efetivamente pensar, você parte, sem dúvida, para a violência, sem a cobertura de uma mega-corporação, o selo de uma "empresa de segurança", e sem três testemunhas que, forçosamente ou não, estarão "do outro lado", por pura idiotice moral, pusilanimidade.
Quantos casos não ocorrem, e não saem nos jornais. Não há "vontade" de publicar certos casos. E todos o fossem, certamente, deixariam a edição mais encorpada que um estadão. Poderia ser chamada de "Vergonhão".
E você não acredita em mim?
A classe emergente - todos os atores da ocorrência na Drogasil hoje - não sabem fazer contas, ler e interpretar um texto. Estão cercados por uma cultura da covardia, do "discutir é criar caso". Quem não foi educado para discutir, faz exatamente o que eles fizeram: na "melhor" das hipóteses, se omitem, como o fez o empregado loiro.
O segurança me chamou de vagabunda. Com base em que ele fez isso? Base? Isso é coisa de quem aprendeu a pensar. Não é o caso de nenhum daqueles protagonistas. Como eu não cheguei de carro, não parei um carrão na calçada, não ostentava objetos de valor, pronto. A avaliação, fruto do "extenso" treinamento que forma tais seguranças, está pronta e acabada.
E essa classe de seguranças é parte enorme do que ora sustenta esta nossa economia de punjante fantasia. Acabem com esses seguranças. E afundamos na recessão. Não há obras para a Copa que empreguem todos eles. E outros países não querem esses caras furando fronteiras.
Mas estou determinada a superar este meu tenebroso estado de melancolia, bem justificado. Meu tornozelo esquerdo ainda dói. O ardido da coxa direita já não incomoda. Nada de água no meu casaco. Ah! Percebo que fiz bem eu ir embora, após "fotografar" a cara do segurança. A água fria iria retirar o resto de pele dele que deve haver em meu casaco.
"Eles vão apagar a fita", diz outra pessoa, para quem relatei o ocorrido.
"Se apagarem, é prova de que alguma coisa houve".
Pois. Se fazem isso com quem não é bandido, o que julgariam "de mais" fazer com um bandido? O que essa nossa "cultura" miserável, armada, não torna "normal"?
É. Vai ser difícil levantar o astral. Escrever ajudou só um pouco.
Se a melancolia persistir, talvez seja até bom: não se atenuará a vontade de ir embora. Que não nasceu hoje, pós-Drogasil. Mas voltou com ímpeto avassalador.
Termino com uma provocação inútil, de alguém, eu, "sem limites" segundo a mentalidade nacional: Se você fosse um dos empregados da Drogasil, que papel você teria desempenhado? Você moveria uma pena que fosse, contrariamente ao segurança? Diria um tênue "para com isso" que fosse?
Amanhã acontece com você.
Não espere ter a sorte de ter eu por perto para defender, ou ajudar você.
Much of the discourse all around is power-oriented. Our texts, rather, will be appreciated by those brave enough to leave the good life of obedience in order to grow and take risks for the benefit of a multitude of others. Welcome! PORTUGUÊS acesse "apresentação do blog" abaixo
Saturday, August 27, 2011
Violência gratuita, apoiada por empregados, em loja do Rei das Drogas
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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