Wednesday, August 3, 2011

Manual da FUVEST - a interpretação necessária - perguntas e respostas

As irregularidades do FUVEST - vestibular da USP - que denunciei, sozinha, foram abençoadas pelo Ministério Público. Nova demonstração de que, no Brasil, os "reis" estão acima das instituições tidas "democráticas".

Quem não quer estudar de graça? E numa universidade como a UUUUSSSPPP?

Eu também já fui iludida a respeito da USP. Se o critério é não pagar, vá em frente. E... boa sorte: a roleta está, de novo, prestes a girar.

Mas se você tiver consciência, boicote. Faça outros vestibulares. Ao fazer o vestibular da FUVEST, você diz "sim" à maracutaia que, há anos, rola sem que ninguém se de conta.

Leitor: Mari, você é um gênio. Mas, para ser sincero, ainda não entendi por que você diz que o vestibular da FUVEST é ilegal.

Mariangela: Ok. Vamos fazer aqui uma rodada de perguntas e respostas, para que todos entendam. Faça a primeira pergunta.

1. Mari, o vestibular FUVEST 2012 continua ilegal como o anterior?
Resposta: Sim. Observando o Manual que foi colocado no site da FUVEST anteontem, verifiquei que a USP, através dessa sua fundação (FUVEST), pretende cometer os mesmos abusos de antes.

2. Que abusos?
O principal deles é divulgar uma lista de convocados apenas com nomes em ordem alfabética. Ou seja, a classificação de cada candidato é mantida sigilosa. Este é o único concurso público que conheço que tem a cara de pau de fazer isso. E tudo fica por isso mesmo.
Na pág 2 do Manual 2012, está escrito:
"Data de divulgação” é aquela
em que a FUVEST torna pública
a lista de convocados em seu
site (www.fuvest.br).

Interprete corretamente: "divulgar" diz respeito apenas a uma lista de convocados. O Manual deste ano (2011) diz exatamente o mesmo. Portanto, não espere mudança alguma. A USP, de novo, esconderá a classificação de cada candidato, o que, num concurso público, é piada. A alegação de que a USP quer preservar os candidatos que se dão mal é de uma hipocrisia medonha. Num concurso público, isso não existe. Ou... não deveria existir!

3. Por que a classificação faz falta?
Ora, como você, os demais candidatos, enfim, toda a sociedade vão fiscalizar se a FUVEST cumpre mesmo o que diz na página 37, se não têm conhecimento da classificação de todos os candidatos, num único documento/comunicado aberto a qualquer um, sem restrições?

4. O que diz a página 37 quanto a isso?
O trecho aqui em discussão é este:

O preenchimento das vagas será feito,
dentro de cada carreira, rigorosamente, de
acordo com a classificação obtida, segundo
o critério descrito anteriormente.

A palavra 'rigorosamente' está em negrito no manual. Para enganar, passar um sentimento de confiança ao candidato. Ora, afirmar que será feito não basta. Todo o princípio de transparência dos atos da Administração Pública não teria razão de ser se bastasse o órgão público escrever, com ou sem negritos, que fará tal coisa. E isso bastasse. A sociedade tem de ter a lista GERAL POR CLASSIFICAÇÃO (primeiro lugar, segundo lugar, etc.) para acompanhar a convocação e verificar se a ordem de classificação está mesmo sendo respeitada.

5. Cada um dos candidatos pode se cadastrar e obter um login para então ter acesso a sua classificação na carreira. Isso não é suficiente?
Em mais de 99 % dos casos, não. Veja por que não é. Se você obtiver uma excelente classificação - algo como vigésimo colocado (ou classificação melhor ainda) numa carreira com 400 vagas -, você sabe que tem de ser "convocado". Mas, ainda assim, ao olhar apenas para seu "umbigo", você deixa de considerar que, ainda que você venha a ser convocado, você não tem como saber se a convocação de todos foi feita com aquele rigor. E a legitimidade do vestibular importa para todos. São muitos os candidatos e, assim, muitos recebem uma classificação "na carreira" que não lhes garante nada. Ou seja, a classificação não permite que o candidato saiba se deve ser convocado. Há outros fatores que deixam esse quadro mais nebuloso ainda: "carreiras" com mais de um curso, inscrições em mais de um curso segundo a preferência do candidato (que não sabe a preferência dos demais e, portanto, desconhece com quem concorre exatamente). As carreiras com mais de um curso (às vezes isso significa apenas turno diferente) aglomeram muitos candidatos. Como saber se o rigor no preenchimento das vagas está prevalecendo, se há centenas de candidatos "embolados" numa carreira, ou seja, com diferentes preferências por cursos? A carreira 790 chega a ter 455 vagas e 11 cursos! Se a classificação do candidato for algo como 500, ele saberá se deve ser convocado? Não. Além disso, não sabe se os convocados fizeram matrícula na melhor opção deles, na segunda, na terceira opção, opções que não se conhece. Portanto, o candidato está às cegas. Restará "torcer", sem fiscalizar se o preenchimento está respeitando o que está declarado na pág. 37.

6. Você acha que há maracutaia?
Sim, posso dizer que tenho certeza de que há. Isso porque pedi à FUVEST, por email, a lista com a classificação dos candidatos na minha carreira, que determinaria o preenchimento das vagas. A FUVEST não respondeu. Quando reiterei o email, ela simplesmente disse que seguiu o manual. Ora, se a FUVEST esconde essa lista, é para que não constatemos que a convocação está furada, não segue rigorosamente aquela classificação. E, apesar de isso já ser o bastante para que um concurso público não tenha legitimidade, seja nulo, houve a questão em torno da minha nota de redação, que deixou tudo claramente roto.

7. O que houve com sua nota de redação?
Quando acessei a página com meu desempenho no vestibular anterior (2011), não avistei minha nota de redação. Pedi essa nota por email à FUVEST. Ela respondeu que minha "nota de redação" foi "42/80 - quarenta e dois pontos de um máximo possível de oitenta". O manual diz que a prova de redação vale 50 pontos (p.36 do manual 2011). Se o máximo é 50, que 80 é aquele? Claro. Há algo por trás que não está de acordo com o manual.

8. E daí?
Eu questionei a nota. A FUVEST não respondeu. Ao reiterar o email, ela dá aquela resposta que já revelei antes: que havia respeitado o manual e ponto. Ao levar isso como "Irregularidade 1" em representação junto ao Ministério Público, a USP respondeu que a tal nota "jamais existiu". Ao voltar a acessar a página com meu desempenho, encontrei não "nota de redação", mas "desempenho em redação". Passe a notar o ardil dos ímpios: desempenho não é o mesmo que nota, é um percentual: 52.5%. Sim, corresponde a 42/80, e aí é que está o problema, ainda: 80 não é o que o manual diz como máximo de pontos na redação. Então, na resposta à representação junto ao Ministério Público, a USP/FUVEST alegou que 42/80, repito, jamais existiu e disse que minha nota era 26/50, o que corresponde a 52,5%, mas considerando o máximo de 50 pontos, em vez de 80. E insinua que eu era ignorante ao ponto de não conseguir fazer tal "mero cálculo aritmético". Ora, por que a FUVEST não respondeu ao meu email, se a resposta era tão óbvia?

9. E o Ministério Público aceitou isso?
O promotor que abriu um "inquérito" - pura fita, na verdade - decidiu ajudar à FUVEST (belo inquérito!) e deu a sua próxima explicação em seu relatório, que parece, aos avoados, mais "consistente".

10. Jura?
Não é preciso jurar. Há o documento, que já está no meu blog. O promotor inventa um sistema de conversão de notas que ele chama de pesos. Ele escreve: quem tirar 80 tem peso 50 e assim sucessivamente. Onde está isso no manual? Pois.

11. Inacreditável...
É. Sou a única contra a todo-poderosa, com vestibular que arrecada, em um curtíssimo lapso (uns 15 dias de prazo de inscrição), mais de uma dezena de milhão de reais. O repórter da Folha.com, Fabio Takahashi recebeu o todo o teor da representação, com as dez irregularidades. Sumiu depois disso. A Folha. com tem uma pauta bem parcial.

12. Seguindo a sua relação de irregularidades, temos que a quinta irregularidade é que a lista de convocados sai antes da disponibilização de acesso privativo ao desempenho do candidato. Por que isso é irregular?
Num concurso público de fato, a lista por classificação (do primeiro lugar ao último) dos candidatos é o resultado do concurso. O resultado não é uma lista nominal alfabética dos que a instituição promotora do concurso decide convocar.

13. Mari, agora está bem claro! É como numa seleção de emprego, em que eu não tenho ideia do perfil dos outros candidatos. Ou posso até imaginar que tenham perfil semelhante ao meu, mas não posso dizer por que eles são convocados e eu não. Não há transparência.
Exato. Os candidatos se iludem. Confundem o acesso privativo, apenas ao desempenho de cada um, com transparência. O Estado de S.Paulo contribuiu para tal ilusão ao estampar manchete: "FUVEST divulga notas e classificação". Ela não divulgou. Ela tornou facultativo o acesso, por cada candidato, mediante login, a, tão somente, seu próprio desempenho (com notas de redação substituídas por "desempenho"...) e com classificação "na carreira" - e não por curso - que, para quase todos, não diz nada.

14. Então, a sociedade confunde o acesso privativo ao desempenho individual com "transparência" digna de um concurso público?
É. Nossa sociedade chegou a esse ponto. Um efeito paralelo à despolitização, à falta de formação cidadã, à pífia qualidade da escolaridade.

15. O Manual deste ano não mudou em relação ao de 2011?
Muito pouco. Mudou muito, sim, apenas nos procedimentos relativos à última convocação. O texto relativo à nota de redação está igual. A condenável existência de carreiras com um só curso ao lado de carreiras com mais de um curso persiste. A USP mudou, contudo, um trecho, que remete à irregularidade 10 de minha representação.

16. Que trecho é esse? O que reporta a irregularidade 10?
Tal irregularidade aponta que, após a segunda convocação - e correspondente prazo de matrícula - houve (2011) obrigatoriedade de o candidato que quisesse permanecer concorrendo a vagas comparecer em determinado local (na capital, o Instituto de Oceanografia) e fazer uma "reinscrição", quando então poderia manter ou alterar suas opções de curso, dentro da mesma carreira. Claro que isso estabelecia toda uma nova ordenação para que tal rigor no preenchimento de vagas de fato se desse. Só que os candidatos ficavam ainda mais no escuro. Quantos ainda estão concorrendo e para que cursos, em que preferência? Quantas vagas restam? O Manual deste ano muda isso totalmente, em trecho da página 67.

17. O que diz tal trecho?

O texto da página 37 visa, sem dúvida, eliminar a irregularidade 10, flagrante, para o que a FUVEST nada alegou em sua resposta ao Ministério Público. Mas a mudança no manual 2012 foi feita. Aqui está:

Após a 3a Chamada, os candidatos não matriculados, e que não tenham
sido eliminados ou desclassificados do Concurso Vestibular, poderão
manifestar interesse pelas vagas ainda não preenchidas, por meio de um
novo processo de opção, denominado “Reescolha”.
Na Reescolha, o candidato poderá manifestar opção por, no máximo, 2
(dois) cursos de quaisquer carreiras (inclusive da própria carreira indicada
no ato de inscrição ao Vestibular FUVEST 2012), em ordem de preferên-
cia, dentre os que possuam vaga ainda não preenchida, respeitadas as
restrições de cada curso.
No caso de o candidato realizar a opção por 2 (dois) cursos, estes poderão
ser de carreiras distintas.

Essa "reescolha" é nova. A FUVEST não chama a atenção para essa modificação, para não levar as pessoas a notarem que antes a coisa estava "sinistra". Não há mais cinco chamadas, mas 4 e a "reescolha" não se dá após a segunda convocação, mas após a terceira, sendo que tudo mudou nessa reescolha: agora o candidato saberá em que cursos ainda há vagas e poderá optar por até dois cursos quaisquer, ou seja, não será preciso se manter preso à "carreira". Há também uma nova nota - NFR, nota final de reescolha - determinada por critérios diferentes daqueles para a primeira classificação (a sigilosa). Ainda na pág 67, temos que os candidatos participantes dessa reescolha serão ordenados segundo essa nova nota. Mas não temos como saber - o manual é omisso - se a lista ordenada com todos os candidatos será de fato divulgada, entendendo-se por "divulgada" o que o termo deve significar: todos, sem restrição alguma, podem ter acesso a tal lista. Esperemos para ver. Mas é digno de nota que a FUVEST tenha resolvido fazer uma reescolha "decente". Meu esforço de elaborar a representação, etc. valeu muito nesse aspecto. E indica que todo a processo até a terceira chamada deve ser mudado também.

Mari, você é mesmo um gênio. E muito esforçada. Quantas horas você levou para chegar a levantar todas essas irregularidades e elaborar a representação?
Muitas, muitas horas. Não contei, mas lembro que, por duas semanas, ou algo assim, fiquei matutando "direto" sobre as maracutaias mais sutis, difíceis de perceber. E que permaneceram neste novo manual, para o próximo vestibular. Dizem respeito às irregularidades ainda não comentadas aqui: a seis, sete e nove - e a oito, com mais profundidade.

Vamos falar sobre elas?
Sim, mas proponho deixá-las para uma próxima rodada. Tudo bem? Agora não tenho mais tempo.

Tudo bem.
Até breve, então. E pensem no que proponho: o boicote. Deem preferência a outras instituições. É a maneira justa e democrática de a sociedade repudiar as maracutaias.

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Link
A segunda rodada está aqui

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