Thursday, August 11, 2011

FUVEST perguntas e respostas 2- tecnologia e façanhas maracutaicas, nota de redação em 3D (três desvios) e mais!

Por que boicotar o FUVEST 2012

Segunda sessão de esclarecimentos sobre
as 10 irregularidades no FUVEST 2011


Mariangela, as inscrições para o próximo FUVEST começam no dia 26 e ainda tenho muitas perguntas sobre sua denúncia envolvendo o vestibular do ano passado.

M: O assunto é, sem dúvida, muito importante. Vamos dar, hoje, prioridade a ele. Pode fazer a primeira pergunta.

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A primeira sessão de perguntas e respostas está aqui
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Bem, como você percebeu que havia algo errado com o vestibular da FUVEST? Na sessão de perguntas e respostas anterior, você disse que ficou duas semanas pensando sobre as artimanhas.

M: Até eu me voltar para as sutilezas das artimanhas, o que me tomou mais tempo, houve outras etapas, mais imediatas. Primeiro, saiu a primeira convocação para a matrícula ("aprovados"), mas eu não tinha visto nota de ninguém em lugar nenhum. Caramba, pensei. Onde estão as notas? Não tinha visto relação alguma de notas nos principais jornais, nos murais da universidade, nada. Que estranho!

Então?

M: Enviei email para a FUVEST, perguntando pelas notas. Recebi a resposta mais de uma semana depois. O prazo para a matrícula da primeira chamada já tinha passado. Fiz dezenas de concursos; nunca vi isso na vida. Finalmente, recebo a resposta da FUVEST, dizendo para eu fazer cadastro para saber o meu desempenho. Para que outro cadastro? (o candidato já se cadastra para fazer a inscrição para o vestibular) Fiz o cadastro, enorme, que inclui até nome dos pais. E... sacan... No lugar da imprescindível lista geral com o desempenho de todos, todos os candidatos, pregada em "praça pública", como tem de ser, a FUVEST enfeita a página virtual, que o candidato acessa mediante login, com gráficos - uma ardilosa tática com jeito de modernidade mas que, de fato, exala falcatrua.

Que gráficos?

M: Gráficos do tipo curva normal, indicando em que ponto da curva o candidato está, dado seu desempenho em relação aos demais. Perante o Ministério Público, a FUVEST-USP alegou que isso permitia ao candidato "conhecer suas chances" e, portanto, tudo estava legal. Isso é de um descaramento total. O candidato não pode se satisfazer com "chances". Realizadas as provas, todos os candidatos têm o direito de saber exa-ta-men-te QUEM está na frente (desempenho melhor) e com que NOTAS. E nada disso é informado. Se fizer o tal cadastramento, o candidato terá as notas dele apenas e, além de não saber as notas dos outros, não sabe as opções de cursos dos outros candidatos por ordem de preferência. Ou seja: não há como policiar a convocação para matrícula, verificar se as convocações seguem, de fato, a ordem de classificação dos candidatos e, ao mesmo tempo, contemplam a melhor opção do candidato ante a existência de vagas, conforme promete a FUVEST.

Essa falta de condições de fiscalização basta para que um concurso não tenha credibilidade. Se o concurso, ainda assim, tem credibilidade, é porque o povo está sendo enganado. O que, no caso do povo brasileiro, é muito fácil.

Como o povo está sendo enganado exatamente?

M: O povo vai pelo nome da instituição. E pelos rumores (ou a falta deles) - se a "grande" Rede XX não fala mal, então tudo está bem, pensa. Há a omissão de muitos, que se calam porque têm vínculo com a USP: são professores, ou funcionários, ou outros que não querem ficar "mal" com a universidade porque dependem de seu apoio de alguma forma, para indicações, ajuda financeira, etc. Quem não está seguindo o processo de perto, porque já "passou por isso" e não tem mais interesse, é levado a crer que tudo está dentro dos padrões, através de manchetes enganadoras como a do Estado de S.Paulo: "Fuvest divulga notas e classificação dos candidatos". A FUVEST não divulgou, não. Mas quem lê a manchete no jornal, acha que divulgou. Esse "divulgar" é uma distorção do termo, diz respeito apenas a facultar o registro de login para que cada candidato, privativamente, saiba suas notas e "classificação", que está entre aspas porque há problemas com tal classificação também.

E isso vai continuar no próximo vestibular, o FUVEST 2012?

M: O Manual, nesses aspectos, não mudou em relação ao do ano passado. Tudo indica que sim; que, de novo, haverá a convocação para matrícula, sem que notas sejam de fato tornadas públicas. Sem que jamais tais notas se tornem públicas.

Qual é a alegação da FUVEST-USP perante o Ministério Público?

M: A instituição alegou que protege os candidatos de assédio, e de constrangimento em caso de desempenho ruim. Ora, o direito público de transparência num concurso público sobrepõe o direito particular. A alegação é de tarimbada hipocrisia.

O Ministério Público acatou isso?

M: O promotor que pegou minha representação (denúncia), Marcelo Duarte Daneluzzi, fez um inquérito para inglês ver e mandou arquivar tudo, agindo flagrantemente fora dos padrões de lisura. "Eu não vi nada", declarou ele. Entrei com recurso. Não obtive mais comunicação, nem resposta a email em que pergunto se já há solução para o recurso. Terei de fazer nova viagem até a sede do MP, para tentar apurar em que pé está minha luta solitária, porque a sociedade é muito fraca, raquítica em cidadania, em defesa de princípios constitucionais, em zelo pelo que é público. Estamos, por isso, com corrupção tremenda por todo lado, mesmo considerando só o que os jornais decidem revelar.

O que mais chamou sua atenção de imediato, além da falta de publicação das notas?
M: Após ter visto minha "página" virtual, com minhas notas e os tais gráficos de "chances", enviei outro email para a FUVEST, perguntando sobre minha nota de redação e levantando questões sobre a "classificação na carreira". Em resposta, a FUVEST me informa minha nota de redação com "máximo de pontos possíveis" em desacordo com o Manual.

Jura? Como assim?

M: Veja você que, onde há fumaça, há mesmo fogo. Se há truques para deixar os candidatos apenas com "chances" depois das provas supostamente corrigidas, há mesmo pecados, irregularidades. E eu consegui - para "desgraça" da FUVEST - ter a comprovação disso. Em email, a FUVEST escreveu que minha nota de redação aparecia em lugar da página virtual do candidato onde ela não aparece e, ainda, errou no que tange à nota em si, de toda maneira possível. Minha nota, escreveu a FUVEST, era 42 pontos em um máximo possível de 80 e estava no canto inferior direito da página eletrônica. Nada havia em tal canto e, mais importante, o "máximo possível" não era 80, mas 50, conforme muito claramente declarava o Manual do Candidato. Mais: não fiz redação para 42 de 80. Fiz ótima redação.

O que aconteceu depois?
M: Ainda por email, questionei a nota para a FUVEST, que não respondeu. Reiterei o email na semana seguinte. Dias depois, respondem "não respondendo", ou seja, alegam que já me haviam fornecido todas as informações importantes e que seguiram o Manual.

Só isso?

M: Só isso. Então, elaborei a representação para o MP.

MP é Ministério Público?

M: Sim.

Essa maracutaia na sua nota de redação foi um dos pontos da representação. O que a FUVEST-USP respondeu perante o promotor?

M: Que a nota 42/80 "jamais existiu".

Mesmo?

M: Mais ainda: a FUVEST-USP aparece com outra nota de redação para mim: 26/50. Note que isso é uma confissão de erro. Aqui, o máximo é 50. O 26 saiu de onde? Do mesmo saco de gatos de onde saíra uma nota que, agora, "jamais existiu". A FUVEST mantém a proporção, ou seja, 42 está para 80, assim como 26 está para 50. A nota não se altera, pois as frações são equivalentes. Mas, está claro que há falcatrua, porque não se recorre a frações equivalentes à toa. Foi com esse recurso matemático que a FUVEST forçou o enquadramento de uma nota em desacordo com o Manual. Mas a nota permanece fajuta porque, sobretudo, não reflete meu desempenho. E a FUVEST nega vistas de prova.

E isso também passou como normal para o promotor?
M: Aqui, ele abertamente detona o inquérito, porque sai em defesa da FUVEST-USP, dando outra explicação para a questão da nota, defesa que ele julga mais robusta. O promotor inventa uma escala de conversão de notas, que avilta totalmente o Manual - nada há neste sobre tal escala.

E, tendo feito isso, o promotor manda arquivar o caso?

M: Exato. É um descaso com sua própria função de promotor, com toda a sociedade, que paga o salário dele, paga por toda a estrutura do MP. A prepotência é chocante, típica de sistemas autoritários, certos de que podem tudo e qualquer coisa porque nada os torna de fato responsáveis por seus atos. É essa a "democracia" que temos...

Entrando agora naquelas irregularidades não comentadas na primeira sessão de perguntas e respostas...

M: Sim. São essas as irregularidades que exigiram mais ponderação; são irregularidades mais difíceis de serem capturadas por pessoas comuns.

Ora, Mari, ninguém pegou nenhuma das irregularidades!

M: Lamentavelmente, isso é verdade. Vamos dizer, então, que essas outras irregularidades, mesmo depois de serem apontadas, ainda não ficam nítidas para as pessoas comuns.

OK. O que tais irregularidades implicam exatamente?
M: Fiquei com a impressão de que nem a FUVEST-USP, nem o promotor, entenderam de fato tais irregularidades, por descaso. Leram correndo, com o intuito apenas de se livrar do abacaxi. O promotor escreveu, em seu relatório, que eu alegava que "não havia definição de carreiras". Nem de longe isso é a irregularidade seis. O próprio Manual do Candidato diz que há carreiras com vários cursos e carreiras com um curso só.

E daí?

M: Isso representa uma diferença óbvia - a já apontada (há carreiras de um curso, há outras com mais de um). E representa outras diferenças não óbvias: as irregularidades seis, sete e oito referem-se a diferenças não óbvias. Para começar, ao optar por uma carreira de um único curso, o candidato terá mais condições de acompanhar o preenchimento de vagas do que um candidato que optar por uma carreira "múltipla" (vários cursos).

Por quê?

Porque a USP-FUVEST só informa - na página virtual do candidato - a "classificação na carreira". Em carreiras múltiplas, jamais é informada a classificação no curso para o qual o candidato é convocado. Se há um só curso na carreira, a classificação na carreira é igual a classificação no curso. Assim, dado o número de vagas nesse único curso, o candidato está mais esclarecido em relação à sua convocação do que um candidato em carreira múltipla. Por exemplo, uma carreira só com o curso de gastronomia (hipotético), com 5 vagas. O candidato com "classificação na carreira" 6 (sexto colocado) prontamente sabe que depende de uma desistência para ter direito a vaga.

Comparando com uma carreira com onze cursos, 450 vagas, no total, a "classificação na carreira" 800 deixa o candidato no ar. Os 799 candidatos à frente dele não concorrem a um mesmo curso, mas a quaisquer dos onze cursos. Portanto, concorrem inclusive a cursos a que ele, candidato "800", não concorre. Isso porque cada candidato só pode optar por até quatro cursos e, agora, temos onze. Cada candidato à frente do candidato "800" possui uma combinação de cursos não conhecida do tal candidato - diferem os cursos e/ou a ordem de preferência pelos cursos. Sua classificação "800" na carreira não lhe dá nenhuma possibilidade de fiscalizar o rigor do preenchimento de vagas, já que não conhece as opções dos demais candidatos em relação às suas próprias opções. São onze cursos embolados.

Isso é uma irregularidade.

M: Sim, sem dúvida. É o que aponto como "irregularidade 8: a classificação informada pela FUVEST pode ser o mesmo que nada, dependendo da carreira".
Todos os candidatos - melhor, toda a sociedade, qualquer cidadão - têm de ter condições de fiscalizar tal preenchimento de vagas. Isso é de interesse público. A USP é mantida pela sociedade. Mas a irregularidade oito não é tudo.
Tal não é propriamente "inédito" diante do fato de que as classificações dos candidatos são mantidas "privativas", irregularidade antes discutida.

O que mais há de irregular?

M: Todos os candidatos têm de concorrer a uma vaga em igualdade de condições no que tange ao desenho do vestibular. Claro que os candidatos são desiguais. Mas as condições inerentes ao concurso têm de ser as mesmas para todos, admitidas apenas distinções que sejam plenamente justificadas: por exemplo, há provas de aptidão para certos cursos. Mas, aí, todos os candidatos a esses cursos têm de prestar tais provas.

O bônus para alunos de escolas públicas é simplesmente um vexame. Um prêmio à mediocridade do ensino. É um marketing de caridade, típico de quem tem culpa na consciência, melhor, no cartório maior; tem culpa perante toda a sociedade. O Programa Inclusp - que visa aparentemente a "incluir" um perfil social determinado - choca-se de todo modo com o Enem. Por isso, a USP não considera o Enem.

Enfim, não cabe impor condições diferentes que não se justifiquem. Esse é o caso que descrevemos envolvendo nosso suposto candidato a gastronomia, que tem como acompanhar - até certo ponto - o preenchimento das vagas ao curso de gastronomia, o único a que concorre, em contraste com o "candidato 800", que fica totalmente no ar. Não há como justificar essa diferença de condições entre candidatos. Isso leva ao enunciado da "irregularidade 7: informação desigual entre candidatos, em virtude de diversidade na definição de carreiras". Acrescento que tal desigualdade sequer é informada no Manual.

Agora está bem claro. A "diversidade na definição de carreiras" diz respeito a carreiras com um só curso ao lado de carreiras com vários cursos.

M: Isso mesmo.

E a irregularidade seis?

M: Aqui, aponto que há "competição desigual" entre candidatos, em virtude daquela mesma diversidade de definição de carreiras, desigualdade que tampouco se justifica. A competição é desigual porque, em carreiras de um só curso, todos os candidatos concorrem ao mesmo curso, enquanto em carreiras de vários cursos, cada candidato tem sua "classificação na carreira" em parte determinada pelo desempenho de candidatos que concorrem a outros cursos. Por exemplo, minha classificação na carreira foi determinada também por candidatos concorrendo a Física, sendo que eu não escolhi Física.

Gostaria de ilustrar ainda mais alguns desses pontos, bem como discutir a irregularidade 9, muito importante. Como esta já está longa, comprometo-me a fazer mais uma sessão.

OK, Mari. Obrigada. Isto foi muito esclarecedor. Até a próxima.

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