Não me importo se os cristãos vão tuitar, ou twitar, desvairadamente, chocados com o título acima. Ficar chocados é uma das atividades prediletas deles. Pavio curto, como os próprios tweets, cegamente rasos no raciocínio, teimosamente abarrotados de certezas tolas, perigosamente avessos à luz que insiste em brilhar, apesar da Cidade Eterna deste mundo - mais precisamente, apesar de certos quarteirões bem apartados da cidade de Roma, e apesar de tudo o que esse aparte representa, tendo em vista sua verdadeira história.
Os cristãos são maioria. E daí? Perguntem: o que seria deles se fossem minoria? Nada. São o que são, tão inflados de orgulho, apenas porque se tornaram - os meios já não importam a eles - a grande maioria.
Deus não reconhece maioria.
Deus está na singularidade. Desponta nos que encarnam a coragem de apontar a cegueira da maioria. E essa luz surge justamente do meio mais improvável. Saramago, não se esqueçam jamais, nasceu em Portugal, nação que se vergou com o efeito da cruz e há muito vive aos delírios de aparições e seus segredos manipulados. Os Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, em Lisboa, preservam o que restou (e ainda assim toma um enorme espaço) dos processos da Santa Inquisição.
Mas lá houve um Marquês de Pombal. E um José Saramago.
Saibam que Saramago vivia, desde 1993, numa das ilhas do arquipélago das Canárias, território espanhol. Em protesto. Seu país o impediu de participar de um concurso na União Europeia. Então, veio o Nobel. Que troco!
Portugal tem em Saramago uma saia justa, um tapa na cara da consciência, um lembrete indelével de como o veio inquisitorial se entranhou e envenenou um povo que começou a perder sua hegemonia quando passou a dar ouvidos à "reza" do Kzar Perpétuo de Roma. Como é-nos dífícil ouvir na escola que Portugal chegou a ser o dono do mundo, não é? Como acabou tão... desprezível? Um dos primos pobres da União Europeia?
Com o Tratado de Tordesilhas - costurado pelo papa (nem isso você sabia?) -, logo sobraria também para o Brasil. O Reino do atraso e da hipocrisia sem-fim viria a nós. E tome mão-beijada pelos Séculos-Amém.
Twitar? Para isso há exércitos, rasos, adestrados, em abundância. Eu, coração apertado, me pergunto: quem agora vai escrever como Saramago?
Ele estava com Deus quando escreveu aquele Evangelho, em especial aquele trecho em que Deus, o diabo e um dúbio Jesus negociam. Tanta lucidez não vem do diabo! Mas tweets que revelam total ignorância da história...
Não entrei ainda para o mundo das tuitadas. Um mundo rentável. Porque a maioria lá se sente em casa.
Soube por um dos jornais de hoje que Marina Silva, uma das presidenciáveis, emitiu um tweet sobre a morte de Saramago, e alguém reagiu assim: "Como podemos lamentar a morte de alguém que blasfemou sobre Deus a vida toda"?
Como responder a isso em até 140 caracteres?
O diabo leva vantagem, porque não usa a lógica. Qualquer coisa tola parece uma grande coisa, no mundo em que ninguém pensa. Esse é o mundo dos tweets também.
Blasfêmia. Isso ainda gera polêmica! Foi isso o que aquele jornal declarou. Que a grosseira resposta à mensagem de Marina desencadeou uma tremenda polêmica.
Blasfêmia é recurso da insituição que criou - cri-ou - o cristianismo do ocidente. Você é evangélico? Só é evangélico porque há a Bíblia, certo? E a Bíblia é também criação daquela instituição, embora você tenha sido adestrado para crer que ela foi escrita - numa época em que quase ninguém sabia escrever - por um apanhado de escritores especiais - um punhado de Saramagos. Sim, porque você não quer nem mesmo ouvir falar de intermináveis traduções da... Palavra de Deus. Ela, então, veio do céu em português.
O tweet da pessoa "genial" que repudia o respeito que seja à morte de Saramago é prova cabal. Prova cabal de que nossa "liberdade de expressão" não passa de - mais um - chavão hipócrita. Blasfêmia, senhor ou senhora tuiteira, é do tempo em que aquela Santa Instituição controlava - a ferro e fogo literalmente - o que dizer e escrever. E você ainda apoia isso, como revela seu tweet.
Assim, na nossa Santa Esquizofrenia - me perdoe, incurável -, temos até uma Constituição Federal que garante tantas liberdades, entre elas a de expressão e de não crer, mas uma legião de gente cheia de teias de aranha na mente pouco avantajada. Embora não seja capaz de muito mais do que costurar uns tweets (que saudade do tempo em que isso era só uma vestimenta elegante!), essa massa de gente bem cedo na vida "aprende" o que é a blasfêmia, apenas sob o ponto de vista imperial arcaico, mas ainda todo-poderoso. Aprende assim, e para toda a vida: é incapaz de vivenciar novos aprendizados.
Saramago aprendeu. Criou. Era ateu porque não dá para crer no Deus da Maioria S.A. - que, como Langdon aponta no filme Anjos e Demônios, é também um Banco. E o Banco do Vaticano investe em S.As mundo afora. Lava dinheiro do mundo global. Sim, o mentor do Deus da Maioria S.A. é o pioneiro da globalização.
Mas Deus está no Um.
Obrigada, Saramago, por ter deixado tanto, para tão poucos. Parabéns por ter sido um sucesso de vendas até mesmo no Brasil. Embora quase ninguém aqui seja capaz de entender sua obra, as pessoas compram para parecer o que não são, e isso também revela o que precisa ser revelado.
Vou reproduzir aqui aquele trecho magistral do Evangelho segundo Jesus Cristo, que mencionei antes. Em sua homenagem. Tenho ele reescrito, a mão, num caderno especial para mim. Não estou com ele a mão agora, mas logo o terei.
Saiba que o Estadão de hoje saiu com um caderno lindo só sobre você. A Folha também fez isso. Mas não com semelhante Qualidade.
Encontrei, bem cedo, um amigo no mercado. Ele, na verdade, não tem sido mais tão amigo, desde que soube que eu... pensava. Como você, Saramago, aprendi a pensar. Logo falei de sua morte para ele. Meu amigo disse que tinha "diferenças" em relação a você, mas que você é alguém muito reconhecido. Termos frios. Foi então que me lembrei que aquele sujeito era "guiado". Mais um soldado da Maioria S.A. Deixei escapar: "Entendo". Ele então, sarcasticamente, emendou: "Ele vai agora se encontrar com quem"? Ou seja, você, Saramago, não iria se encontrar com Deus.
Respondi: "Saramago estará esperando por sua mulher".
Meu amigo virou as costas, empurrando o carrinho de compras, ainda quase vazio.
Vazio. O mundo dos tweeteiros. Mas vamos perpetuar seu espírito, Saramago. Vamos sacudir este mundo virtual, encerrando esta homenagem a você com duas sentenças da... Bíblia:
Eu vou embora. Para onde vou, vocês não poderão ir. Vocês morrerão em seus pecados.
João 8, 21
Claro está isso, no Livro. Mas a Instituição, oficialmente dona absoluta dele, dá a interpretação dos "Entendidos". E o exército, pecador, diz amém. Curioso, é justamente no Evangelho de João (o autorizado) que é anunciado o Cordeiro de Deus que "tira o pecado do mundo". Logo, no capíutlo 8, Jesus condena todos a morte sem perdão.
A segunda sentença, extraída da narrativa oficial da Paixão de Jesus Cristo. Faz todo o sentido com a sentença anterior, do Evangelho de João. E com sua linda trajetória, Saramago:
Não chorem por mim. Chorem por vocês mesmas e por seus filhos.
Em não havendo perdão, Saramago nos ofusca, graças a Deus, com sua divindade própria. Como sempre fez.
Os outros? Estão onde cabem, no Tuiter.
Much of the discourse all around is power-oriented. Our texts, rather, will be appreciated by those brave enough to leave the good life of obedience in order to grow and take risks for the benefit of a multitude of others. Welcome! PORTUGUÊS acesse "apresentação do blog" abaixo
Saturday, June 19, 2010
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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