revisto em 09/02
Esta postagem contém o relato de um recente encontro inusitado com uma rara amiga minha, seguido de um trecho extremamente importante, de autoria de H A Aalmas.
Ontem estive com uma amiga por horas. Finalmente nos demos tempo para estarmos juntas. Só então descobri que ela está tomando medicação tarja preta, além de outros remédios. Não podia imaginar. Ela, sorrindo, no local de seu trabalho, dissera-me que estava com a "síndrome do pânico". Não levei muito a sério.
Sentada confortavelmente no sofá de uma livraria, ela fixou o olhar em mim e começou o que parecia uma entrevista: "Você acredita em Deus"? Ela ainda não tivera espaço para me fazer tal indagação, para minha desolação tão corriqueira, porque só nos víamos no local de trabalho dela. Ela prossegue:
"E os santos"? "Você tem medo de morrer"? "Você acha que morreu acabou"?
Ela recebeu minhas respostas despretensiosas, mas incomuns, com atenção e sem agressividade alguma. Então, diante de minha surpresa em relação ao diagnóstico e tratamento a ela conferidos, mostrou-me uma receita médica recente e umas pílulas que trazia na bolsa. "Hum! Para dormir? Então há outro [remédio] para acordar" - afirmo. Ela hesita por segundos, sorri diferente agora e por fim atesta: "Sim... há outro para eu acordar"...
Fizemos uma pausa para "refrescar" e, depois, procuramos um vendedor:
"Este livro salvou minha vida. Isto e o divórcio".
Minha amiga, Vivi, permanecia com aqueles olhos muito atentos, quase arregalados. Mas, síndrome do pânico? "Ninguém nota. É algo que só eu sinto, dentro de mim, comigo mesma"- ela também dissera há pouco.
Após obtermos dois livros do vendedor, sentamo-nos novamente e ela me pergunta: "Fale sobre seu divórcio".
Com o prosseguimento de nossa conversa, soube ainda que ela, há tempos, tentava engravidar, sem sucesso. "Os médicos não encontraram nada de errado comigo". "E ele [o homem com quem vive há sete anos] tem preguiça de ir ao médico".
"Diga a ele que você então vai procurar outro [homem]" - disse-lhe.
"Sou mal vista no trabalho por ser autêntica" - ela também revelou.
Falei-lhe muito - movida pela espontaneidade, sem vestígios de roteiro algum - de minhas diversas decisões "drásticas" na vida. Falei-lhe de coragem, de abertura para viver. Narrei-lhe episódios de minha vida, ilustrando a teoria. "Você nem mesmo usa relógio, né"? "Não, não uso. Aprendi a deduzir a hora pela luz natural, pela passagem do próprio tempo".
Ela também ouviu sobre alguns de meus "discípulos" mais notáveis, como uma de minhas alunas - igualmente ansiosa para engravidar, que me usou, durante anos, também como psicóloga - uma alta executiva que podia ir ao psicólogo mais caro da cidade, mas que jamais me pagou um chá, bebida que eu tomava durante nossos encontros que podiam durar quatro horas, sempre parecendo voar. E houve o padre, que foi banido da Igreja Católica, a quem tanto me dediquei, em vão, pelo menos até esta altura dos acontecimentos. "Descobri seu email no site da ordem; envio-lhe escritos de vez em quando; embora ele jamais me responda, eu sei que ele os lê". Minha missão em relação ao último me rendeu a pecha de "pe-ca-do-ra". Minha aluna, a Márcia, em um dos encontros disparou o que me tocou mais fundo até hoje. Tendo percebido que ela estava diferente, perguntei-lhe o que havia. Ela respondeu, muito séria: "Tenho medo de não ter mais jeito". Revelou seu medo de não ser mais capaz de crescer!
Perdi ambos os discípulos. E concluí: "Ninguém, Vivi, ninguém que tão-somente ouviu de mim sobre a teoria de desenvolvimento humano - que não é minha - voltou a sequer falar comigo". "A estatística é esta: mais de noventa, noventa por cento das pessoas não ultrapassa o estágio inferior de desenvolvimento humano, como definido nessa teoria", acrescentei.
Ela fixou ainda mais os olhos em mim. Decidi ler alguns dos trechos - de diversos autores, diversas fontes - anotados em papéis que trazia na bolsa. Encaixavam como uma luva. Como sempre. (Os trechos são substituídos com frequência; eu vou tirando uns da bolsa e colocando outros, à medida que os vou encontrando em minhas leituras e pesquisas.) Antes que eu lesse mais um trecho, Vivi me interrompe, com insistência: "Senão vou esquecer. Sabe como foi que eu reparei em você? Você se lembra da primeira vez que falou comigo lá no trabalho"?
Movi a cabeça, exclamando: "Não tem como! São várias atendentes. Falo com quase todas"...
Vivi completa: "Acho que você vai se lembrar". Então ela narra, com detalhes, aquela breve interação entre nós duas, que se deu há muito, muito tempo... Não me lembrava daquilo, embora o relato de Vivi me fizesse perceber que tal poderia ter de fato ocorrido. "Tais "provocações" são típicamente minhas", comentei. Ela sorria, com satisfação.
Vivi faz um discreto movimento e percebo que ela já deveria estar a caminho do trabalho, mas continuou me ouvindo atenta. "Este trecho vou postar em breve no meu blog".
Eu não tinha ideia de como arrematar toda aquela conversa. Então, ela me fez uma pergunta não ensaiada: "A religão impede isso [o crescer]"? "Sim"!! - respondi com firmeza. "Religião, psicoterapia, todas as psico-alguma-coisa que estão por aí - tudo isso vai contra o que tem de acontecer! Tentam abafar todo esse processo, sossegá-lo, quando você tem de deixar o vulcão explodir"!
"Agora você disse tudo o que eu queria ouvir!"
Puxa - disse para mim mesma.
Então, mandei-lhe parar já de tomar toda aquela porcaria, que causa dependência. De pé, acrescentei: "São como rodinhas. Sabe quando você começa a aprender a andar de bicicleta? Alguém já conseguiu andar de verdade com aquelas duas rodinhas"?
Ela sacode a cabeça.
"Então, quanto antes você se livrar delas, melhor".
"Ótima comparação" - ela reage.
"Você vai cair. Caia. Não há outro jeito. Mas você vai se levantar".
"Nâo suma"! - ela me diz sorrindo.
Eu então sacodi a cabeça, indicando que não ia sumir.
"Às vezes você some".
Sorri.
"Preciso sair correndo".
E se foi.Esse encontro me deu uma medida mais real de uma situação chocante, que eu já conhecia mais "por teoria": basta você ir a um médico - e o de minha amiga é um "orto-sistêmico", ou seja, da escola da medicina ortomolecular, que um livro me deixara com a impressão de ser uma "medicina natural" - com um problema, menor que seja, que não possa ser diagnosticado como um mero acidente, que você é entupido de medicação tão ou mais "brava" do que drogas proibidas. "Indústria farmacêutica..." - eu dissera também para a Vivi . "Você não se livra mais"... Havia-lhe mostrado as anotações que eu fizera sobre o recente artigo, publicado no caderno mais! da Folha, de um professor carioca, que denuncia justamente isso.
Na consulta médica, disseram-lhe que ela tomaria aquela medicação "fraquinha" (esse termo é do médico, não meu) por um ano. "Um ano! Isto é muito tempo" - ela me contara de sua reação. "O tratamento então termina"? O médico respondeu-lhe: "Um ano é só o início - só para eu te acompanhar".
Tão tocada fiquei com o que acontece com Vivi, que senti o ímpeto de começar imediatamente a escrever um livro sobre isso. Não posso me dispor a fazê-lo agora. Mas recorri a minha biblioteca e trago, para vocês - que certamente conhecem alguém com a síndrome carro-chefe dos mais rentáveis negócios da hodierna indústria farmacêutica -, a tradução de um trecho de um dos livros de A H Aalmas. Nada parecido com a Palavra de Deus, ou com palavras de médicos supostamente "naturais" e salvadores. Claro! A verdade e o que faz bem não estão jamais em cada esquina e jamais adotamos, a não ser com muita, muita "ressurreição" nossa mesmo, porque a Inteligência é a primeira coisa a cair e, então, passamos a seguir "raciocínios" como este: "Se todo o mundo usa, deve ser bom". Assim, por exemplo, se uma pessoa anda sempre sozinha, só pode ter algo de muito ruim... Vivi desponta, nesse sentido, como uma rara pessoa, o que ela revela, a cada instante, de fato ser ainda.
Mais um "raciocínio", para ilustrar: "Se a Bíblia, a Palavra [a versão que está em toda igreja lotada] não fosse a verdade, não teria durado tanto tempo". Ouvi esta última da secretária da minha igreja católica, na qual sou A Herege; é... eu sou a herege... A história se repete mesmo.
A CHAMA DA BUSCA
A H Aalmas
Por que estou aqui? Para onde vou? Precisamos saber o quão honesto podemos ser com nós mesmos ao tentar responder a essas questões. Essas duas perguntas estão relacionadas.Ou seja, muitas pessoas pensam que estão aqui porque há um propósito; elas querem ir a algum lugar. Para onde você quer ir? Você provavelmente acha que sabe. E sabe? Você acha que eu sei aonde você deve ir? Se você acha que eu sei, poderia dizer-lhe? E se eu disser, você aceitará a resposta e a seguirá? Você seria capaz de seguir minhas instruções?
Estas são questões que você não pode responder com sua mente. Estas são questões que devem permanecer questões. Não tente respondê-las apenas mentalmente. Estas questões são como uma chama. Se você responde a elas com a mente, você extinguirá a chama, porque a mente não sabe, não pode saber as respostas. Quando você responde a essas questões com a mente, e então acha que aprendeu, a pergunta desaparece...
[Meu comentário: O autor refere-se à "mente" como o que ela geralmente é: um repositório de "aprendizados", uma engrenagem de "raciocínios"; enfim, como me vem agora a metáfora, a mente da maioria é como um farol abandonado.]
Se você resolve essas questões em tal nível, você viverá como a maioria da humanidade, que presume que sabe por que está aqui e para onde estão indo.Tal vida tipicamente é percebida como vazia e insignificante. Uma vida sem questionamentos fundamentais é uma vida vivida segundo fórmulas, de acordo com o que se ouviu de outros. Mas por que você deveria acreditar no que os outros lhe dizem sobre a vida?
Você de fato não sabe ainda o que é verdadeiro para você, o que é importante para você, o que funcionará para você.
É melhor permanecer ignorante do que fingir que é sábio.
Se você reconhece que é ignorante e não finge o oposto, há uma questão que permance viva e continua a queimar dentro de você. Uma profunda busca pela verdade.
...
Você sabe realmente, em seu coração, o que deve acontecer? Você alguma vez se permite questionar, ter uma pergunta em brasa - sem apagar a chama rapidamente com a primeira resposta que obtém?
Você apaga a chama para que você retorne a seu senso de conforto e segurança.
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Sua mente está cheia de ideias e planos e sonhos sobre o que realizará você, o que o (a) tornará feliz, o que lhe dará liberdade. Mas essas ideias silenciam a pergunta, dá conforto à sua mente e apaga a chama.
Portanto, comece com a constatação de que você não sabe as respostas. E esteja ciente das tentativas febris de sua mente para convencê-lo de que você sabe.
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Somos capazes de deixar que nosso corpo seja um ponto de interrogação?... Não há nenhum objetivo à vista.... Não esconda a chama, não a apague, não a deixe sumir. Apenas deixe-a existir. Deixe-a consumir você... Deixe que a chama ponha abaixo todas as suas concepções sobre o que é bom ou mau... Os insights que você teve no passado podem ter sido acertados, mas como pode você saber que eles são o que você precisa agora e no futuro?... Saltamos sobre a primeira promessa de salvação que aparece. Por que não permancer com a questão?