Dácio: crime na padaria e fermento errado
Não conheço ninguém da família Múcio de Souza. Conheci o "segurança" que matou.
O que levou a padaria a não registrar aquele empregado como segurança são evidentes. Mas ele efetivamente atuava como uma besta que rosnava segundo percepções e preconceitos de um homo caninus. A administração do estabelecimento estava ciente dessa atuação, que bem reflete uma mentalidade gerencial comum, embora hoje disfarçada com slogans condizentes com a evolução da TGA - teoria geral da administração.
O assassino confesso - orientado agora não pela real mentalidade gerencial que conduz o negócio, mas por advogados dos quais passou a depender a sobrevivência de uma fábrica de pães que entregou a morte - é como uma massa posta a fermentar, após misturada, tratada e moldada à custa das consequências de uma receita de preparo fácil e rápido.
O que se obtém com tal receita: dois adultos jovens, da mesma família, perturbam a rotina de um estabelecimento tradicional. Uma mulher fala alto depois da balada. Um homem, irmão mais velho daquela, discute com e ameaça um... empregado. Que é pai? Pai de quatro filhos? E daí?
No jogo insano de parecer o que não se é, a estatística do tamanho da prole entra no bolo. Que não sola; desola.
Lamento que haja tantos filhos de um pai que matou porque tem personalidade que o levou a ser escolhido pela padaria para "cão de guarda" do local. Toda a armação da defesa é um quitute com nome de direito, com um gosto insuportável para os açoitados em último grau.
Entrei na padaria Dona Deôla para ir ao banheiro, entre quatro e meia e cinco horas da manhã. Um empregado esmurrou insistentemente a porta do banheiro, quando eu estava lá dentro. Esperei os murros pararem para sair. Falei do ocorrido com funcionários que preparavam a bancada do buffet. O empregado logo aparece; esbraveja "tá reclamando"? "tá reclamando do quê"?, enquanto gesticulava e caminhava feito besta em minha direção. Parou bem perto de mim. Despejou toda sua energia insane e se justificou aos berros ainda: "Você não consumiu nada".
Meus estudos em psicologia me levaram a não reagir. O empregado saiu da minha frente. E eu saí do local para não mais voltar.
Se eu tivesse enviado uma carta registrada - a padaria não fornece endereços de email para comunicações no seu site -, se tivesse escrito para o Agora, se...
Somos microscópicas poeirinhas diante dessas estruturas com mentalidade própria, responsabilidade difusa, supremas em submeter exércitos de "colaboradores" e usar a arquitetura e a decoração de interiores para iludir. O que minha 'gritaria' como desprezível cliente, diante do ocorrido, teria alterado? Nada.
Uns oito ou nove meses mais tarde, tudo mudaria, sim, para uma família, por causa daquele mesmo empregado cão de guarda que esmurrou a porta, registrado provavelmente como auxiliar de-tudo-um-pouco, mas destacado intencionalmente por sua assustadora personalidade, considerada útil diante da falta de vocação para servir, e da grande motivação para fazer certo bolo crescer e crescer - não importa se com o fermento errado.
Passei grande parte de minha vida estudando administração de empresas, para vir a constatar que supervisores autoritários foram substituídos por recrutas zero truculentos, a quem os demais empregados se submetem por medo, a quem devem abrir suas bolsas ao deixar o local de trabalho e - por fim - nas mãos de quem consumidores, indesejados segundo tal mentalidade tacanha, padecem. Padecem.