-[...] Eu acreditava que estava em guerra com o desejo. Desprezava o mundo e o meu próprio corpo, que ansiava por todas as delícias do mundo.
- Mas isso certamente não é um erro - disse Assaji. - Do contrário, não faria sentido fazer votos. A vida santa deve ser diferente da vida mundana.
- E se não houver vida santa? - perguntou Buda. - Entendam: mesmo a santidade é alimento para o ego. Vocês desejam ser diferentes. Querem estar seguros. Querem ter esperança.
- E por que isso seria errado? - perguntou Assaji.
- Porque essas coisas são sonhos que os tranquilizam.
- E o que veríamos se não estivéssemos sonhando?
- A morte.
[...]
- Todos vocês têm medo da morte, assim como eu tinha. Então, inventam uma história para eliminar o medo. Depois de algum tempo, acreditam nessa história, mesmo que tenha sido criada pela própria mente de vocês.
Buda fez uma pequena pausa antes de prosseguir:
- Voltei para lhes dizer que vocês podem ser completos. [...] Não existe vida santa. Não há uma guerra entre o bem e o mal. Não há pecado nem redenção. Nada disso importa para o seu eu verdadeiro. Mas tudo tem enorme importância para o seu eu falso, aquele que acredita num ser à parte. Vocês tentaram levar o seu eu isolado, com toda a sua solidão, sua ansiedade e seu orgulho, até as portas da iluminação. Mas ele jamais atravessará essas portas, porque esse eu] é uma ilusão.
p. 213-214 de Buda, por Deepak Chopra
