Monday, August 31, 2009

Suely Vilela, escrava dos rankings, mentiria em qualquer caso

Resposta a Suely Vilela, em artigo na Folha (o artigo dela é reproduzido abaixo deste)

O texto promocional da reitora da USP, Suely Vilela, publicado em 30 de agosto, na Folha, em espaço notório por abrigar apenas textos de cunho exclusivamente intelectual, fez-me assolada de perguntas aquela ensolarada manhã de domingo. Dentre elas, parece-me merecer mais visibilidade esta pergunta: como tal universidade vem galgando, segundo a reitora, posições em excelência – em comparação a outras universidades – se há pelo menos uma década não são atribuídas notas às teses, mas apenas “aprovado” e “reprovado”? E a reprovação em sessão de defesa não é algo crível; se há registros de reprovação, não há dúvida de que se trata de ato político, pontuado de estratégias secretas para penalizar o candidato a doutor, e continuar encobrindo tudo o que delineia um quadro bem mais honesto da USP.

Não conheço Vilela. Cheguei a falar com seu secretário, quando de ocorrência bastante grave, em março de 2005, mas não consegui o encontro com ela que solicitara. Apresentei, em seguida, documentação para abertura de processo na seção de protocolo da Reitoria. O processo sumiu, sequer foi aberto.

Conheço professores da USP saudosos dos idos do real stuff. Como havia então excelência de fato, nenhuma serventia possuíam os rankings. Tais docentes hoje esperam pela aposentaria: “o que fazer?”

Reduzindo a USP a rankings de visibilidade internacional, que iludem os incautos (a maioria), a reitora mostra, com seu texto, o quão distante ela mesma se faz ao falar da universidade, hoje, até paisagisticamente, repleta de contrastes.


Várias são as obras não acadêmicas em andamento: desde uma sala de duzentos mil reais no degradado prédio das “Sociais”, até uma Biblioteca Brasiliana, que desponta para desafiar o mundo e confundir ainda mais os rankings. A paisagem, assim, aliada a tais listas internacionais, causa uma certa impressão aos olhos ora pueris e deslumbrados, em vez de críticos e sábios como os da coruja.

A excelência há muito se foi; não mais dela se tem do que reminiscências de professores que não veem como cobrar tal excelência de seus orientados. Se o fizerem, as teses não chegarão às sessões de “defesa”; nenhum novo doutor fará acionar o gatilho dos rankings.

Por que jornalistas não comparecem às sessões de defesa? São incapazes de avaliar o que lá acontece? Não é preciso ser especialista para constatar que teses são corriqueiramente aprovadas por bancas (ou “comissões”) examinadoras que apontam não haver conclusão na tese; não haver análise crítica, mas apenas enorme listagem de pesquisas anteriores, para encher páginas. Não haver, ainda, justificativa para a adoção de determinado método em vez de outro, mais bem avaliado na literatura, conforme deixa escapar o próprio candidato a doutor. Além de não haver sequer a linguagem acadêmica.

A arguição consiste apenas, segundo os próprios membros da banca examinadora, de “comentários para o futuro”, o que exime o candidato a doutor de uma defesa de fato. Isso não tem tanta visibilidade, apesar de os cartazes sobre as sessões de defesa de mestrado e doutorado serem rigorosamente afixados nos murais, ao alcance de qualquer um, isso ao menos na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis e Atuariais).

Lamentavelmente, tais sessões são acontecimentos familiares ou, mais comumente, sessões que, a família ausente, não atraem nenhum outro pesquisador. O que é, sim, um indicador cabal de que algo está errado, mas que permanece alheio aos tais rankings, em que se escora Vilela.


Esta foi a mais perniciosa troca, que o texto tão artificial de Vilela esconde: saíram as notas às teses; entraram os rankings. Rankings políticos, com marca internacional, proxies de orgulho nacionalista, de “emergência” que sequer “arranha” o inglês, que dirá ser proficiente.


Os rankings reverenciados por Vilela mostram isto mesmo: saltos (de uma posição para outra). E, como na quase totalidade das teses, toma-se tal informação espúria como “conclusão”, deixando de fora os princípios científicos e, não mais surpreende, também a linguagem acadêmica.


A lisura e a verdade são também princípios acadêmicos. Ou o foram um dia. Se alguém quiser a demonstração de que tais princípios foram, ao que parece definitivamente, excluídos da “excelência” uspiana, basta perguntar à tal reitora sobre meu processo que desapareceu. Ou indagar-lhe por que eu, após mais de quatro anos matriculada em curso de doutorado, acabei de ser desligada, às vésperas de protocolar a tese, sem parecer assinado por ninguém. Ela vai mentir, em qualquer dos casos.






A seguir, o texto de Suely Vilela:


USP e reconhecimento internacional


(Folha de S.Paulo,TENDÊNCIAS/DEBATES, 30 de agosto de 2009)


SUELY VILELA


A SOCIEDADE moderna exige ações inovadoras para se sustentar em um mundo globalizado, fortemente competitivo, em que o conhecimento assume papel de alta relevância e a qualidade é o marco da diferenciação das competências.


Universidades plenas, em que atividades de ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis e às quais se soma significativa inserção internacional, representam meio sólido de enfrentar os desafios da nova sociedade.


Não raro polêmicos, como a maioria dos processos de avaliação, muitas vezes em razão dos critérios utilizados, os rankings das melhores universidades mundiais são instrumentos que conferem visibilidade internacional às instituições.


A Universidade de São Paulo consolida seu perfil de universidade de classe mundial ao se alinhar às principais características de instituições dessa natureza.


Autonomia, excelência na pesquisa, qualidade do ensino, fértil relacionamento com a sociedade, diversidade e cosmopolitismo somam-se às propriedades que distinguem essas universidades e qualificam esse universo de instituições de significativa visibilidade internacional.


Tais características são a base do prestígio que a USP alcança, em especial nos últimos quatro anos. Refletem-se na evolução comprovada nos principais rankings mundiais.


No Webometrics, Ranking Web of World Universities, a USP subiu 49 posições ao ocupar, em julho deste ano, o 38º lugar. Esse ranking classifica 6.000 instituições no plano mundial e tem como base, além da visibilidade, o desempenho global, incluindo indicadores de pesquisa e de qualidade de estudantes e docentes.


Ranking entre os mais aceitos no cenário mundial é o Higher Education Evaluation & Accreditation Council of Taiwan, que avalia por meio da pesquisa, tendo como critérios produtividade, impacto e excelência na investigação científica.


Por essa classificação, a USP ocupa o 78º lugar, o correspondente à subida de 22 posições em relação a 2008. Ultrapassa, assim, universidades de prestígio e firma-se como primeira da América Latina e primeira brasileira.


Essa evolução reflete a qualidade da pesquisa desenvolvida por docentes e estudantes da universidade e repercute o aumento substantivo (58,1%) da produção científica indexada de 2005 a 2008, registrando-se, nos últimos dois anos, crescimento de 26%.


Reflete, além disso, a qualidade da pós-graduação e sua importância como indicador de visibilidade institucional, tendo-se em vista que ao redor de 90% da pesquisa é desenvolvida por pós-graduandos e orientadores e que a USP é responsável por 28% dos programas de excelência do Brasil.


É preciso destacar que grande parte das publicações da USP se origina de teses de doutorado e que a instituição forma número de doutores maior do que as melhores universidades norte-americanas.


Do ranking Webometrics faz parte o Ranking of World Repositories Top 300 Institutions, que classifica as instituições por meio das bibliotecas digitais de dissertações e teses. A USP ocupa o 57º lugar, um crescimento de 29 posições em relação a 2008.


Além de políticas de valorização da pós-graduação, é significativo o investimento da universidade na integração de pós-doutores em seus 1.814 grupos de pesquisa, que aumentou sete vezes comparativamente a 2005.


Os pós-doutores, pela maior autonomia no desenvolvimento e proposição de projetos, agregam valor à pesquisa, repercutindo na evolução ainda maior da produção científica indexada. É, portanto, imperativo atrair cada vez mais esses talentos.


Temas estratégicos fazem parte da pesquisa que gera conhecimento de ponta na universidade e contribui para o progresso socioeconômico brasileiro. A política de criação de redes temáticas, atualmente implementada, tem o condão de fortalecer esse papel da universidade.


Bioenergia, mudanças climáticas, biotecnologia e doenças negligenciadas fazem parte do rol de temas multidisciplinares dessas redes.


A parceria com outras instituições e a participação nos programas estratégicos estaduais e federais permitem que a capacidade inovadora da instituição se converta em políticas públicas em benefício do país.


Nesses 75 anos de existência, a USP evoluiu no espaço internacional, e o comprometimento de sua comunidade com a excelência permite que alcance melhores posições no cenário mundial da pesquisa e da educação superior.


Há determinação, fôlego e capacidade para essas novas conquistas.
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