Thursday, August 6, 2009

Nossa Caixa, nossa Corrupção ilustrada

Da postagem de ontem (Edgar Morin, Corrupção e USP), talvez o que mais tenha causado assombro tenha sido isto:

...povo faminto de quê? Posso apostar que é de mais corrupção.

Poderia recorrer, para defender e explicar esse ponto, a teorias e algumas pesquisas empíricas em psicologia. Mas vou usar uma ilustração, um caso real, algo que aconteceu há pouco, num banco, ou melhor, num posto de um banco - Nossa Caixa - situado aqui, na Praça dos Bancos da Cidade Universitária, campus Butantã.

Vamos, primeiro, aos fatos:

1) Entreguei meu passaporte válido para a empregada de cabelos até a cintura, no guichê número 3, ao lado do guichê para "preferenciais"(idosos, etc.).

2) Ela pegou o papelucho escrito à mão, que era uma ordem de pagamento. Revirou o passaporte e não encontrou... o número do RG.

3) A senhora não tem o RG?

Como ela não era a primeira que fazia esta pergunta estúpida, eu já sabia que os funcionários ali pagam pelo número do RG. Se alguém encontrar meu RG e for até lá, sabendo dessa ordem, tal pessoa levará o dinheiro. Sabe, não duvido nada que possa ser até um homem. Os empregados que atuam como caixa não veem a foto, não conferem a - sequer batem os olhos na - assinatura. Vão, feito macacos treinados (treinados até o que um símio também é capaz de fazer), pegar o RG, procurar o número e conferir com o que está na lista na pastinha. Bateu? Pronto. O empregado vai devolver o documento. Sim! Já neste momento. DEPOIS, vai pedir para quem está na frente dele assinar. Faça qualquer rabisco - o empregado não vai olhar. Conferir assinatura é mais do que um símio pode fazer. E o assim banalizado empregado vai então tirar o dinheiro da gaveta e pagar.

Você duvida? Já dei as diretrizes, não? Nossa Caixa, Praça dos Bancos, no campus da USP no Butantã. Mas você, com tendências fortes para golpista, não vai ver nada diferente disso se for à Caixa Econômica Federal. Enquanto os golpistas aprendem, ficam mais sofisticados, os empregados de bancos emburrecem. Não há dúvida.

Agora, o ponto principal, que eu queria defender com este caso, era o da corrupção. Então, continuemos, refocando:

Tudo aconteceu conforme o acima. A empregada do guichê 3 pediu o RG. Eu disse o número - não é isto que está aí? Então, ela ainda perguntou a sua colega, uma "japonesinha", mais velha, se "podia o passaporte". Duvida? Estou recrutando testemunhas para daqui a um mês. Estão todos convidados!

A japonesinha, com certa ênfase, fez que sim com a cabeça. Então, a branquicela do guichê 3, estilo de quem teve de sair a contragosto de um convento muito pouco inspirador, me devolveu o passaporte, após escrever algo na listinha, que deveria ter sido o número do passaporte, mas ela não tinha certeza sobre isso, já que tal informação não estava na listinha. Gente, não é exagero! Continuem acompanhando e verifiquem.

Então, eu me daria mal. Sabe por quê? Eu fui tentar ensiná-la! Gente, como pude ser tão... ingênua!
Sabe, isso me faz lembrar, de pronto, da defesa de anteontem, a insistência da Profa. Tania para que Elza tivesse o "estalo". As pessoas não querem aprender. Escrevo isto para MIM. Para ver se não dou uma de ingênua de novo!

Pois. Ingênua, eu fui ensinar, melhor, tentar ensinar a tal... autômata empregada do banco: "Isto está errado. Você teria de conferir minha assinatura, antes de devolver o documento".

Ela, claro, ficou com raiva... Bem, não seria raiva, mas, sabe, aquela de orgulho ferido. Os olhos claros dela eram frios como... arre!

Fatos. O que aconteceu então?

Tendo ela me devolvido o passaporte e pedido DEPOIS para eu assinar, eu assinei, assim que "dei a lição", para quem... isto! Não quer aprender mais NADA. NADA.

Então, ela me sacan... Sim... Todos entenderam, não? Um orgulho ferido tal, como se eu tivesse roubado o amante favorito dela. Ou arranhado sua bicicleta novinha...

Com a fichinha assinada (duas vias) por mim, ela vai embora, em vez de me pagar. Não posso pagar, ela volta dizendo.

Minha filha, seus colegas já me pagaram noutras vezes.
Mas está errado. (Todos os outros estão errados; ela, certa.) Você tem de apresentar o RG. Eu preciso conferir o número que está aqui na listinha.

Eu fui dizer que ela tinha feito algo errado. Então, ela "devolveu" - a senhora está errada. O interessante é como a empregada vingativa encontra partidários, gente com a mesma tendência. Neste caso, o aliado seria a supervisora Sonia "Só", que ganha espaço abaixo.

Ressalto agora como é fácil aos corruptos angariar aliados, ao passo que ninguém aceita ser testemunha para denunciar a corrupção. Alguém discorda?

Os maus estão unidos; os bons não se unem. Isso foi um padre que declarou num sermão dominical. Mas ele mesmo se aliou aos corruptos, pouco tempo depois de proferir isso. E houve o membro da Guarda Universitária (sim, da USP) que me disse, "cada entre nós": "Estou adorando o que você está fazendo. Se mais gente fizesse isso, as coisas seriam diferentes". Ele também, dias depois, estaria assumidamente corrompido e, sob meus incisivos olhares, declararia: "O sistema é assim". O sistema? O sistema são pessoas!

Proteger a corrupção se alastrou como o vírus da pandemia. E a OMS não percebeu, até onde sei. Isso é uma doença. Continuem lendo, e entenderão melhor essa ideia.

Ponha isto no papel. E eu vou embora!

Ela some e volta. "Espere ali no lado que minha supervisora já vem".

Isto ela não esperava, porque todo o mundo... faz o jogo da corrupção. Mas NÃO EU: Não vou ficar ali "no" lado. Eu fiquei na fila para ser atendida. E você ainda não acabou de me atender.

E eu, então, comecei a achar que era golpe mesmo. Porque ela já estava com a fichinha ASSINADA, com o meu RECEBI. E ela não havia pago!

Olhei em volta, para ver se havia algum conhecido. Não encontrei. Ao lado, havia um rapaz que parecia de classe mais alta um pouco do que o resto. Por favor, daria...Eu estou com pressa! Fale logo! É que eu já assinei o papel, preciso que alguém... Não posso me envolver com isto!

E nem a japonesinha, a outra empregada que dissera que sim, estava "viva" então. Ela se fazia de morta para mim.

Isso não lhe cheira a corrupção, caro leitor? Claro, né.

A branquicela insistiu! Sim, ela disse, então, que estava me explicando. E a fila atrás de mim parecia apoiá-la, sem nem saber o que estava em discussão. Isso porque quem discute, quem "cria caso" é sempre o que deve ser apedrejado. Ah, leitor, claro que você já testemunhou isso, em algum outro lugar qualquer...

Vá "criar um caso" você também. E me conte depois, tá? Então, elaboraremos uma tese sobre "Quanto mais corrupção melhor - a cultura de um povo extremamente.... religioso". Só não lhe garanto que vamos defender isto... na USP!

Não fale bobagem.
É o procedimento do banco.
Não, o banco não vai assumir isso, porque é um absurdo.
Absurdo ou não, é o procedimento do banco e eu estou... explicando para a senhora!

Claro, tive sorte de não ser linchada. Vejam, a empregada estava explicando, e a senhora [eu]disse que se tratava de bobagem!

Vou repetir, em maiúsculas, leitor, porque você, se divertindo tanto daí, não assimilou bem isto:
ABSURDO OU NÃO, É O PROCEDIMENTO DO BANCO.

Pois.

Lembram-se da Teoria de Personalidade Autoritária de Adorno? Dos experimentos em que os estudiosos comprovaram que o participante do experimento acatava as ordens de aumentar cada vez mais as descargas elétricas, sem sequer saber por que a vítima era levada ao ponto de eletrocução por ele, o participante?

Pois. A branquicela, com olhos frios. Que brilhavam mais à medida que eu contraía meu rosto, me controlando diante do crescente assédio moral dela.

Onde parei? Sim. Na eloquente fala dela: absurdo ou não, é o procedimento.

Eu respondo:

Não, o banco não pode fazer absurdo, minha filha. Não pode. Isso não é assim, cada banco faz o absurdo que quiser.

Ela vai embora de novo.
E os outros empregados, nos caixas?
Ninguém nem olhava para nós. Não sabiam de nada. Não é COMIGO. Esse comportamento não lhe é familiar, caro leitor? Pois. Corrupç... Que bom que já convergimos, tendo em vista o objetivo inicial.

Sim, esperei bastante. Não fui para o "lado". Permaneci no guichê. E mesmo assim, a tal supervisora demorou muito a vir.

Quando veio, disse, com estupidez:

Senhora, mês que vem a senhora terá de mostrar o RG e o CPF (claro, sempre complicam mais ainda... sacanag... pouca é bobagem! Agora o CPF também é necessário), porque os números que estão aqui...

Ponha por escrito.
Não vou pôr por escrito.
Qual é o seu nome?
Sonia.
De quê?
Sonia. Só.

Ela se dirige a branquicela - Pode pagar.

E a branquicela não obedece. Ela ainda quer me sacane... por causa da lição que eu lhe dei. E que outro motivo pode haver? É, leitor, talvez isso não seja nem a razão de tanta vontade de me estragar a vida. Ela apenas é assim, ruim, em especial com quem não abaixa a cabeça, não é corrupto, é diferente dela. Gente assim está acostumada a... obedecer cegamente. Quando tem uma oportunidade... mostra-se o déspota mais desvairado. Mas, conforme combinado, evitemos as teorias desta vez.

Não, ela não paga, apesar de a supervisora já ter dito para pagar. E, bem calma, bem fria mesmo, me pede de novo o passaporte, para "tirar uma dúvida".

Gente! O que ela iria fazer com meu passaporte??

Eu já assinei e não vou fazer mais nada enquanto você não me pagar.

Sim, a coisa foi tão "suave" assim. Tão "normal", tão de acordo com os procedimentos típicos de um país... democrático.

Então, ela começa a tirar o dinheiro da gaveta. E eu, claro, guardo-o logo. Peço uma cópia do recibo, como sempre. Quem elabora o tal papelucho usa um carbno só, para a via dele mesmo. Por que se importar com o favorecido?

Ela nega a cópia.(claro!) "O procedimento não é este", de novo com aquela frieza, que ressalto justamente por ser ela crucial para o nosso ponto, que é demonstrar a corrupção DELA, porque nenhuma "instituição" é corrupta, mas as pessoas que constituem tal instituição o são. Como a Sonia Só também.

Fiquei. Faltava a cópia.
Foi então que reparei ainda melhor na frieza dos olhos dela, empregada.
Ela usou de gestos, para indicar que eu era uma tonta, uma louca, por ainda estar ali. Eu recorro à mímica. Sim, imito sua expressão, exagerando um pouco. E repito a dose, com o gesto seguinte, de desdém dela. Então, ela pede para uma colega dela tirar a cópia. A colega é bem rápida. Mas... não, a branquicela não me entrega o papel - "Me seu passaporte"...

Gente, demais. Sim, ela já me havia pago. Que diabólica! Eu tentei pegar o papel, ela segurou forte.

Me de o papel. Eu preciso ir embora. Você está me assediando moralmente.

Ela se volta para a japonesinha "morta". Você viu só, viu, né? E então consigo o papel.

Claro, fui embora. Certa de que teria de vir com testemunhas, câmeras e gravadores na próxima vez. Leitores estão convocados para "tirar a teima". Sei que a palavra "testemunha" assusta vocês também... E isso é corrupção.

Legado. Legado de autoritarismo político, de outros autoritarismos.
Memórias do prazer tal qual o que a branquicela sentia em agir daquela maneira, porque, claro, não nutriu a alma com outros prazeres. Não há, portanto, outras memórias. Mas, como disse no início, não vou me adentrar nas teorias. A ilustração, estou ora convencida, é mais contundente, eficaz.

Agora, a moral da história - Não, não "crie caso". Tire só vantagem para você. E não denuncie, claro, porque você está enroscado também. Esse sistema é ótimo! Que sobreviva o mais "esperto", o mais... corrupto. E fogo aos babacas que tentam... dar lições, especialmente as de moral! (Chi! Tô mais do que lascada!) Fogo aos babacas que ousem "estar acima", como o Espírito Santo. (Essa eu ouvi de um professor doutor daqui da USP.)
Claro, no bar, vale a hipocrisia total, e lamentar do "jeito que as coisas andam". E arrematar, apesar do cansaço que é pensar: "Onde é que isso vai parar"?

Bem, depois não diga que eu não tentei... ensinar. Isso tudo aí é "fim de mundo" e não há essa coisa de quem crê será salvo. Aliás, você bem que já não crê mais nisso. Finge que crê, porque lhe interessa.

Bye.

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