Friday, August 7, 2009

A jovem elite e a gripe suína

"Você está com a gripe suína"? - dispara uma graduanda da Faculdade de Ciências Humanas da USP, em pleno laboratório de informática.

(Ninguém diz "influenza A", não tem jeito.)

"Veja! Eu apresento todos os sintomas, não é"? - eu retruco, sarcástica, o que se torna, infelizmente, costumeiro em mim.

"Você não está tossindo"...

"E a lógica é esta -primeiro fique doente, para então usar a máscara"!

Outro aluno dá uma risadinha, não sei se do meu comentário (o mais provável) ou se do que a outra dissera e que ele, graças ao meu comentário, então percebeu ser um disparate.


Eu continuei:

"Eu sei que pensar cansa... Mas eu garanto que, com o pensar constante, você se cansará bem menos".

Eu já estava de saída. E por estar justamente de pé, ela notara a mim e meu acessório nada "discreto", feito sob medida e colorido.

Então saí.

Como escrevi neste blog, eu comecei a usar a máscara em maio, assim que a OMS decretou alerta 5 (de uma escala até 6), sendo que ficara evidente que a organização não estipulara o 6 por pressões políticas. (Hoje o 6 já está estabelecido.)


Por aqueles dias, entrei na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP- a famosa FEA - formadora da elite deste País... O saguão estava apinhado. Eu, já com a máscara no pescoço, a ajustei ao rosto. Fui achovalhada - tal "elite" gritou sem parar "gripe suína", seguido de espirros e tosses provocadas. Eu atravessei todo aquele andar térreo do prédio principal da FEA sob tal "inteligentíssima" manifestação.

Cerca de um mês depois, a FEA fechou as portas - três casos de gripe foram reconhecidos, notícia na TV e jornais.

Sem aulas, a normalmente movimentatíssima faculdade anda numa pasmaceira sem precedentes. Eventos cancelados, alguns poucos, audazes - com palestrantes de universidades europeias - encurtados...


Os debochadores agora estão... com medo?

A ignorância não é só do "povão", como se vê. Tenho a impressão - cada vez mais acentuada - de que a diferença no bolso não significa diferença significativa em boas maneiras, cultura, instrução, ilustração, habilidades intelectuais superiores, ou seja, muita afinidade com o pensar. (Depois da declaração da Maria Fernanda Cãndido, então...)

A propósito, e diante da ênfase ao "lavar as mãos" para prevenir a gripe, entre num banheiro de shopping classeA e observe as madames (ou os senhores de bem) lavarem as mãos. A recomendação é de quinze a vinte segundos. Eu já observara esse comportamento também: as madames, no ritmo das torneiras automáticas desreguladas do Shopping Iguatemi, "lavam" em dois segundos. Quinze segundos é uma eternidade, vinte, coisa de outro mundo. Elas ficam balançando as mãos uns dez segundos - mais tempo ainda se houver alguém ao lado, claro. Para incomodar mesmo e resolver parte da questão existencial. O que esperar dos menos privilegiados?

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