Saturday, June 27, 2009

A longa conversa de hoje


Hoje conversei com o Ricardo (um estranho até então). Um tempão; numa livraria. Ele estava com um monte de gente, inclusive criança. A família dele. Ele acabou se sentando do lado mais próximo da mesa que eu ocupava... Pronto. A família acabou se levantando e ficamos nós dois.

Ricardo prestava bastante atenção. De repente, ele se desligou. Eu, na hora, não percebi isso claramente. Mas, depois que nos despedimos, eu, como de costume, revi todo o encontro e constatei que, provavelmente por causa de algo que eu dissera, ele se fechou e passou a disparar coisas meio agressivas e que, até mesmo, contradiziam o que ele transmitira antes.

Além do "boa-sorte", Ricardo me dissera, enquanto sua família ainda estava à mesa: "O que é do homem o bicho não come". E chegara até a mesa que ocuparia enaltecendo o Jackson (Michael Jackson) que "fizera história". "Isso é importante"! - frisou ele.

Pois o que se sucedeu depois que ele se transformou, durante nossa conversa, foi que Ricardo, nada delicadamente, recomendou para mim: "Vá para a FGV - eles não estão nem aí para Jesus, etc." (Ou seja, se você não conseguiu o título de doutora na USP, por causa do tema, basta ir para a FGV... que não estaria comprometida, como a USP, com o Vaticano.)

Eles não têm história social lá - eu consegui dizer, com dificuldade, pois ele não mais me deixava responder.

"Pô, a Igreja (católica) consegue ser o que é apesar de toda essa mentira! Então eles são ótimos"! - ele declarou.

Concordo. Já escrevi isso, Ricardo. Eles são, de longe, longe, o número 1 em marketing - retruquei.

"Quando descubro que alguém é tão bom assim, eu quero mais é imitar! Por que você não faz o mesmo"?

Para mudar a história! - eu exclamaria em inglês, logo traduzindo. Pois... Eu usei Ricardo contra Ricardo (Tinha sido ele quem chegara falando da importância de fazer história...). Assim, ao rever o encontro, descobri a tão comum... contradição dos meros mortais.

"Isso é muito difícil"- retruca Ricardo já de pé, bastante agitado.

Ora, e quem jamais disse que era fácil? Fácil é imitar a Igreja e "se dar bem", pensei ao relembrar tudo.

Revendo a "fita", ainda me veio a imagem de um médico. Um médico que resiste à pressão incrível dos laboratórios, cujos representantes vivem aparecendo no consultório dele, enchendo-o de amostras de remédios... perigosos e muito caros. Mas esse médico tinha outra linha, outra filosofia, outro método. Já tinha poucos clientes, justamente porque a maioria das pessoas acha que o médico é bom se ele faz uma receita enorme. E esse médico dificilmente receitava algo além de uma vida boa - com disciplina, com paixão por uma causa, com entrega, com bons sentimentos.

Os representantes começaram a ameaçar o médico que, ao continuar resistindo, passou a ser vítima de uma campanha difamatória. Perdeu os poucos pacientes que tinha. Então, perdeu seu carro, sua casa e sua esposa logo foi embora para sempre. Seus filhos o recriminavam, até que também o abandonaram. Ele perdeu tudo.

Tudo?

Ele mantinha a única coisa que importa mais do que tudo - sua fé. Não, gente, não era religião. Sua, sua inocência, seu próprio ser. Sua alma.


Um dos filhos, antes de partir, aconselhou agressivamente: Por que você não receita esses malditos - malditos - remédios? Isso é tão difícil assim para você, quando todos os outros fazem justamente isso?


Estou certa de que Ricardo, muito inteligente, entendeu. Entendeu essa minha analogia. Ao me mandar para a FGV, etc, Ricardo foi para mim como o filho desse médico, na minha história.

É. Talvez daí nasça mais um livro meu... Um romance...

Aline, a bela mulher de Ricardo (mulher? assim eu deduzi), retorna e nós ainda estávamos lá... Disse para ela do que falava. Ricardo, ainda agitado, insiste: "Isso não serve de nada. Ninguém vai mudar. Não vão ter o que colocar no lugar (no lugar da mentira da "fé" intolerante, perigosa). Eu concordei mais uma vez. E declamei, de modo que outros também acabaram ouvindo:

Se eles são, como diz o filme (Anjos e demônios) uma instituição que inspira um bilhão de almas perdidas, parabéns! Só que eles não vão conseguir me inspirar. Não adianta ameaçar colocar a mim na fogueira, ou o que for, porque eu não sou uma alma perdida!! E é graças a Deus que não sou".

Acho que vi os olhos de Aline brilharem.

Ricardo se calou.

E nos despedimos.


Até mais para vocês também.

mariangelapedro @ yahoo.com

amel_coelho @ yahoo.com

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