O Chefe foi embora, contrariado. Quando a lanchonete abaixou a lona, decidi que era perigoso continuar ali. Muito perigoso. Quem disse que shopping é seguro? Seguro para quem?
Roberto aparece. Outro segurança. Este portava um brochinho com o nome na lapela. O Chefe? Ah, esqueci de dizer - ele tinha uma fita geralmente usada para pendurar o crachá, que, no entanto, terminava dentro do paletó. Ou seja, o crachá estava escondido.
Roberto foi correto. Estava visivelmente consternado ao, mantendo-se no meio do corredor - em vez de "colar" em mim, como o Chefe - disse, sem exageros, sem teatro, sem coerção alguma, que precisava fechar a portaria.
Eu procurei logo pelo nome e, desta vez, tinha facilmente encontrado.
Um leve sinal com a cabeça e Roberto já tinha minha resposta. Mas então lhe disse, supondo que Roberto era o Chefe: "Ele não tem condições de desempenhar a função". "Ele arrancou a apostila da minha mão". Roberto estava, repito, consternado. Já de pé, tirei novamente um bloquinho da bolsa, para anotar o nome Roberto. O Chefe de fato, que estava ali todo o tempo, algo afastado, com radinho, vigiando o corredor adjacente, aproxima-se para tentar ver o que eu escrevia. Sou breve, rápida, frustrando-o.
Demonstro, em seguida, que não queria a companhia do Chefe para ir até a saída. Não era o caso de eu ser escoltada. Ele acaba concordando. Ao caminhar com Roberto, que não tinha a postura de me constranger, ele, olhos marejados, disse ainda bem baixo que qualquer pessoa pode ir até a Administração. Com meu usual tom de voz, mais alto do que o de Roberto, afirmei que o segurança não era para deixar o visitante do shopping inseguro graças à própria segurança.
Mas muito mais ainda estava por vir. Ao chegar ao guichê do estacionamento, já bem próximos à saída pela rua lateral (a de praxe após as dez horas), o Chefe reaparece. Antes de ele se aproximar, pergunto a Roberto: "Qual é o nome dele"? "Marcos". "De que"? "Não sei. Ele é meu Chefe", emenda Roberto, extremamente desconfortável como se ele mesmo fosse a vítima.
"Ele é o chefe"??
Roberto parecia prestes a derramar um rio de lágrimas. "Ele é da mnhã. Eu fico das sete da noite à sete da manhã".
Marcos. Ele agora está próximo e dispara desdenhando: "Tá me olhando por que? Me achou bonito"? Um casal se aproxima. Ele se apruma e se cala. Logo reassume, repetindo: "Me achou bonito"?
Dirigi-me para a saída. Uma funcionária do Viena, passa e entra no banheiro das funcionárias. Precisava ir ao banheiro também. E havia, no outro banheiro em frente, pelo menos cinco mulheres quando entrei. Pareciam estar juntas, riam e falavam. Quando deixei uma das cabines, e fui lavar as mãos, ouvi um grito: "Segurança"! As outras mulheres tinham acabado de sair.
Era o "PM". Ele entra e, ao me ver sozinha junto aos lavatórios, dá o show: "Para fora, já"!
Não, não vi crachá; não me deixei intimidar, embora percebesse o perigo. Lição: tudo pode acontecer, não nas ruas violentas da cidade apenas. Mas no shopping mais "charmoso", se você não tem testemunhas; se você é visitante regular, e deduzem (os "seguranças"!) que você vive sozinho. E que parece, para completar, "um ninguém", no sentido usual, no sentido que os valores da maioria de nós mesmos consagrou.
Sou muito conhecida por alguns lojistas. E vivo encontrando casualmente por lá, um ex-colega de trabalho, algo "poderoso". Sou bastante regular: só na segunda-feira de carnaval, assisti a três filmes no Cinemark Iguatemi - Dúvida, O Curioso Caso.... e Foi apenas um sonho.
E isto: foi apenas um pesadelo?
Como o Chefe logo reapareceu, altivo, ar de Imperador do Nojo, na soleira do banheiro, eu tinha razão para temer. Calmamente, disse que ia sair, que não era preciso aquilo. Mas o "PM" ainda age como tal, e não atenua em nada a encenação, ao contrário. Ao deixar o banheiro, vejo que as outras mulheres ainda estavam perto, em frente ao Pão de Açucar, na altura do guichê do estacionamento. E olhavam para mim e os seguranças, uma delas, pelo menos, vi bem que estava boquiaberta e assustada, enquanto eu declarei: "Por que você esperou todas as outras mulheres saírem do banheiro para fazer isto"?
"Você está criando problemas"! - o "PM" continua berrando. E, novamente, gesticula e berra, me colocando para fora, agora do shopping.
Digo, reagindo ao "criando problemas": "Ele (o Chefe) fez o que não poderia e você agora tenta inverter as coisas. Sua estratégia, muito fraca, só fará as coisas ficarem ainda piores"; volto-me para a saída.
O "PM" continua me tratando como os PM tratam os bandidos nos filmes (prefiro não falar da realidade), exceto que ele não apontava uma arma e não ousara me tocar, tão-somente porque, do contrário, "se daria mal"; ainda havia muita gente no shopping - o cinema ainda estava longe de terminar de exibir a última sessão.
E assim foi o "PM" (que, tudo indica, é ou foi policial) até a calçada, berrando sem parar ao meu lado. Bem, bem perto da meu rosto, por fim berra asqueroso de todo: "Chame 190. Chame a polícia". "Agora você está na rua".
É... se você é bom leitor, prezado leitor... Chamar a polícia seria chamar a ele mesmo. E, agora, eu estava... na rua. Ou seja, ele estaria totalmente à vontade e eu totalmente à mercê. O que ele fizesse de ainda mais abominável contra mim, seria fora do shopping; então, ele não seria responsabilizado como um (ex) pateticamente Reipeitável Segurança do Shopping Mais Charmoso.
Não é preciso ver muitos filmes policiais - nem mesmo se aprofundar na fé do catolicismo - para apreender a "lógica do mais perservo": é preciso eliminar o passado. E, para aqueles seguranças, o passado era eu, com um baita "filme" bem real, inédito, recém-gravado na memória. Para sempre.
Medo? Tá bom. Não vire pretexto dos engravatados que se ressentem da pasmaceira do emprego, destituído do thrill dos policiais (embora o salário "compense"). Volte à primeira sugestão: vá ao local e peça para ser apresentado ao Chefe da Segurança (Marcos, supostamente), ao Roberto, da noite, e ao "PM".
Caminhei, felizmente bem próxima de um grupo que passava, até a Faria Lima; 23horas e 03 minutos. Atravessei a avenida e fui para o ponto de ônibus, que também contava ainda uma meia dúzia de pessoas. Alguns minutos depois, reparei que um dos seguranças da parte externa do shopping estava bem na esquina, no posto de gasolina então fechado, e olhava na minha direção. Continuei observando; concluí que, geralmente, não fica um segurança no posto. Ele, normalmente, fica junto à saída do estacionamento, que dá na Faria Lima, ou seja, num ponto limítrofe entre os dois estabelecimentos. Adoto uma estratégia para despistá-lo. E saio dali.
Já enviei um email para o Shopping, apenas com o artigo primeiro da Declaração de Direitos Humanos e com um "Estou absolutamente estarrecida". Vou acionar um advogado.
Mas, amiguinhos, o que aconteceu, aconteceu. Pasmem. É mesmo chocante ver como as coisas são de fato, num lugar que todos, ou quase todos, julgam inofensivo, ao menos pela parte do próprio shopping. E Roberto, que continuou a tudo assistir, que também viu o que o segurança "PM" fez, deixou patente a loucura da Segurança do shopping com sua expressão.
O tal Chefe não é normal. Isso é tautológico, à esta altura. O "PM", um esteriótipo de pessoa - mais um.
Essas anormalidades em uniformes de segurança são "normais" no sentido estatístico - estão mais presentes em outros estabelecimentos, considerados respeitáveis, do que você pode supor.
Até nas igrejas. No início do ano, mais recente visita a uma "casa de Deus"; tinha sido ali admoestada por um Roberto, guardinha guiado não pelo vigário, mas por "senhoras de inquestionável fé", por usar um vestido bonito, que me deixava ainda mais vistosa, mas que não era de modo algum indecente. Constatei, também abismada, que, na hora da comunhão - vejam, justamente da comunhão - um outro segurança igualmente Autoritário, apesar de não usar terno, havia-se postado bem ali, na área do altar. (devia ser a folga de Roberto)
Quando o padre se afastou do altar para dar a hóstia, o "segurança" mobilizou-se, como se a área pudesse ser invadida por Al Queda. O padre, então de costas para a Santa Geografia - agora sim ameaçada - parecia alheio à "figura": o guardinha estava bem mais "alto" que o padre e a ministra da comunhão, destacando-se como papa no urbis et orbis, porém contundentemente destoando da riqueza de adereços destinados justamente a espantar o demoníaco - toda a decoração, luzes, vestimentas, tudo restava obliterado por aquele outro satanás que nós mesmos criamos, porque temos medo. E é só isso que temos: medo.
Por experiências muitas, cabe afirmar que a cidade inteira está assolada por tais "seguranças" que, de outro modo, estariam, muitos, no máximo na construção civil, se é que envolvidos com algum trabalho digno de fato.
Our own fault: sequer conseguimos ver onde está o perigo. Ou poucos o conseguem.
Amanhã, volto com comentário sobre o artigo "carnavalesco" de Frei Betto. Se satanás não for ainda mais esperto do que tem sido.
Our own fault - nossa própria culpa
Much of the discourse all around is power-oriented. Our texts, rather, will be appreciated by those brave enough to leave the good life of obedience in order to grow and take risks for the benefit of a multitude of others. Welcome! PORTUGUÊS acesse "apresentação do blog" abaixo
Monday, March 2, 2009
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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