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Tuesday, March 22, 2016
cena armada em evento da acrefi expõe o combustível do caos no Brasil
Quando Mino Carta, editor da revista Carta Capital, aponta a "ignorância geral" no Brasil, tende a ser desacreditado por muitos. Claro, ação defensiva que impede que a maioria questione a si mesmo.
A "ignorância geral", também por viés preconceituoso, costuma ser atribuída apenas à classe inferior. Mas isso é absolutamente falso no Brasil. No preciso diagnóstico de Mino Carta, geral quer dizer, literalmente, geral.
Essa população é o principal combustível do caos, crise, turbulência - o que puder se aproximar disso - que, enfim?, expõe a essência da sociedade brasileira. Ótimo para quem aprecia as coisas genuínas. Brasileiro não é flexível, não tem 'jogo de cintura', não é bom vivant. Esses mitos existem justamente porque a realidade é bem outra.
Há anos observando com manto científico o comportamento de meus conterrâneos, chegara à conclusão de que a falta de capacidade de análise crítica era o principal fator de atraso da nação nos mais diversos aspectos. "Quem pensa fica louco" é uma unanimidade. O curioso é que essa nação que repudia o pensar sequer sabe pensar. Repudia o que não conhece.
Quem repudia o que não conhece é... intolerante. O brasileiro é totalmente incapaz de viver a empatia, mesmo em grau raquítico. Sua arrogância o leva a declarar no dia a dia: "Dá pena". Constantemente, se ouve: "Sinto pena de fulano".
Sem pensar, a conversação desse povo é patética, para ser um tanto gentil. Então, falo com muito poucos para troca de ideias - uma ambição desmedida. Falo, constantemente, mas com a finalidade de apreender todas as características que ora elenco. Uma boa conversação, com estimulante ping pong de razão (raciocínio) contra razão é mais raro que membro do judiciário com salário razoável.
Têm sido cada vez mais frequentes as situações que evidenciam a pobreza de espírito do brasileiro sem que eu esteja buscando dados. Hoje, em evento da Acrefi, em São Paulo, mais uma dessas situações ocorreu.
Uma mulher - certamente incomodada com minha beleza - viu oportunidade para extrapolar nas medidas, tal qual Sergio Moro o fez recentemente. Já entrei em contato com a própria Acrefi pela atendente virtual, que prometeu retorno de um dos consultores, por meu email. A associação, claro, não retornou. É assim que de fato se é corrupto no Brasil. Se seu colaborador extrapola, a empresa finge que não soube de nada, e até mente, possivelmente até mesmo alheia àquela tão universalmente brasileira "defesa de si". Quem não se autoquestiona não sabe o que faz.
Isso é corrupção também.
O que fez a tal mulher da Acrefi, ou que se viu na posição de agir em nome da Acrefi?
Assim que começou o intervalo (coffee break), peguei uma lata de refrigerante e uma garrafa de água com gás - itens escassos, que costumam logo sumir. Não tomo refrigerantes nunca. Gosto de dar a bebida para o motorista de ônibus que pego depois. Reconheço o quão árduo é o trabalho deles (a rara empatia) e fico contente quando dizem: "Benza Deus" ou "Obrigadão" em agradecimento.
Deu tempo para comer o salgadinho, tomar o suco, preparar o chá e até comer um bolinho com o chá. No meio do chá, a tal mulher se aproxima com uma segurança do hotel.
- A senhora colocou coisas na bolsa. Peço que devolva sua credencial e se retire do evento.
- Peguei uma lata de refrigerante.
- Isso é pago! - retruca a mulher que, claro, não se identificou.
As seguranças privadas e a polícia, no Brasil, chegaram ao cúmulo da autoproteção e não mais mostram o nome deles. Não adianta perguntar. Quando perguntei à segurança do hotel o nome dela, ela esmurrou uma das mãos na outra, repetidamente. Fiquei com medo? Claro que não.
Quanto eu não teria de observar, sem garantia de obter, tão logo,tamanha demonstração da realidade do espírito brasileiro?
Detalhes importantes: Eu sou mulher. Estava sozinha no momento da abordagem. Claro, os que abusam não querem testemunhas. A mulher que me expulsou logo desapareceu. A segurança quis me empurrar imediatamente para fora. A bolsa em que colocara a lata de refrigerante era de pano, dessas sacolas que lojas de livros vendem, sem fecho. Estava cheia, e a lata ficou absolutamente visível e eu não via nenhum problema nisso, porque não podia imaginar que a minha lata era "paga". Quando disse que apenas colocara, na bolsa, uma lata de refrigerante que estava à disposição no "coffee", enquanto a retirava da bolsa, a tal mulher disse, contradizendo-se: "Não precisa devolver". Ué!
- Só quero que a senhora saia.
Ah! O ponto era esse.
Renata Figueira. Foi isso que Fabiana, na recepção do evento, escreveu num pedacinho de papel, porque insisti em ter o nome da tal mulher que me expulsara do evento. A segurança tentou, de novo, me colocar para fora antes de eu obter o nome. "Eu dou o nome depois", disse a segurança.
Bárbara Gancia já escreveu "tudo" sobre o perfil desses seguranças privados, há um bom tempo, quando ela ainda era colunista da Folha. Como não esperar truculência de quem sempre apanhou da sociedade e se vê na posição de "dono da ordem"?
E que ordem! Mesmo já estando eu na rua, a segurança ficou de pé junto à porta. O que me impedia de entrar no hotel, um lugar público? De admissível, nada, Estava barrada pela contundentemente estúpida e arrogante mentalidade da nação que incendeia a própria nação, apenas instigada por outros autoritários bem ou mal disfarçados, dependendo da capacidade de discernimento do cidadão.
A segurança não se conteve em ficar "apenas" guardando a porta. Eu escrevia - no bloco do evento - sobre o que acontecia, valendo-me do balcão do guichê do estacionamento. Após alguns minutos, ela me impediu de utilizar o balcão: "Aqui se está trabalhando"! Outro sinal de ranço típico: ela também estava trabalhando - com o melhor do que aprendeu em seu treinamento, "claro" - e eu... Eu tinha ido passear no hotel. Ah!
Assunto das palestras, a propósito: combate a fraude...
A segurança tentou arrancar da minha mão o papelzinho em que Fabiana tinha escrito, de próprio punho, o nome "Renata Figueira". Não conseguiu, Então, puxou o bloco em que eu escrevia. Tive de puxar até amassar o bloco para ela não tomá-lo. Que belo trabalho da segurança!
Resistência: fiquei de pé, ainda escrevendo, apoiando o bloco em uma das mãos.
- Assim, de pé, pode ficar à vontade - declara a segurança anônima.
Nos momentos seguintes, ela fez cara de nojo, fitando-me; em seguida, voltou-se para empregado do hotel, idoso, do lado de dentro, mas junto ao vidro. Trocaram risinhos. Bateu uma mão contra a outra diversas vezes. Era negra, jovem. De pé diante de mim ainda, não suportou minha resistência e voltou a pegar o "radinho": Voltando ela a cabeça para o lado, ouvi quando disse: "Ela está escrevendo um livro".
Respondi, quando ela se voltou de novo para mim: - Você deu azar; sou escritora.
Meninos - rapazes com caras incrivelmente jovens - manobristas, testemunhavam a cena cabisbaixos: um impecável, "obrigatório" sinal de "não sei de nada", outra unanimidade brasileira.
Quer retrato do Brasil melhor do que esse? Não deixe de ler Eliane Brum, brasileira fora do país, cujo artigo recente foi vertido para o inglês e publicado no The Guardian. Como eu mesma, muitas vezes, Eliane é "filosófica" ou argumentativa ou... pensante! para terror dos conterrâneos. Adorei ler o artigo dela, e já achei outros.
Contudo, uma história como a do evento, aqui narrada, só mesmo com sorte - e cabelos de dar muita inveja, além de cinturinha cada vez mais rara: isso foi o bastante para fazer transbordar a verdadeira essência do brasileiro; mesmo a do branco, a do mais abastado - que não tem nenhum problema em se entupir de refrigerante (e está mesmo acima do peso), tampouco pagou pela bebida, ou se importa de fato com a organização que representa, porque, se tivesse cabeça pensante e de fato se importasse, não bancaria a "juíza Moro" de forma tão torpe.
Publique-se.
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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