Thursday, March 28, 2013

Mais uma Páscoa, mais um elogio ao Pensamento Único - mas viva Pasquale!


Pasquale Cipro, em sua coluna de hoje, na Folha, escreve algo que me fez sorrir. No meio de seu texto, sempre mediculoso, que caminha como se o leitor fosse uma criança ainda insegura em seus passos, surge uma sentença filosófica que fez a maioria daqueles leitores do passinho pararem, em espanto.

Num tempo em que a humanidade parece fugir do contraditório, como o Diabo foge da cruz, ou seja, num tempo em que o maldito PU (Pensamento Único) é a norma, a regra, aceitar que uma mesma palavra possa ter sentidos aparentemente tão paradoxais soa como algo que demanda esforços hercúleos.

Até eu me surpreendi - o que deu nele? Sapecou um "maldito" até! 

Pasquale é de outra era, a qual eu também me afilio. Que bom é ser daquele tempo em que os paradoxos encantavam, descortinavam-nos a vida em si mesma, e eram o melhor brinquedo do mundo, para mentes incansáveis e viajantes.

Como "paíxão", de padecer, acabou tendo o sentido de "amor cego"? Isso Pasquale não desvenda. Mas ele viaja por versos de Drummond, numa lúcida tentativa de fazer mergir aquele amor com a dor.

Não creio na Paixão de Cristo. Melhor, deixei de crer, já que fui educada em colégio de freiras e, claro, quando criança acreditei nos meus educadores; nos meus pais.

Ainda assim, a via crucis é um cortejar de 12 cenas que, de tão sem graça, sempre me levou, mesmo quando era ainda católica, a me cansar antes de chegar à metade desse ritual da sexta santa. Toda a sequência, sempre igual, característica da celebração da Páscoa, é exemplar do "pensamento único".  Não no sentido de que todos sejam católicos; o exemplo vale por não haver permissão ou tentação para se ver nuances na via crucis. Muitos diriam que essa minha simples avaliação já configura falta de respeito. 

Mas eu, sempre íntima dos paradoxos, dos múltiplos sentidos, vejo falta de respeito justamente no pensamento único. Nada mais anti-Deus.

Nada, porém, tole a mim quanto a saudar vocês: Feliz Páscoa! 

Enjaulado no pensamento único, você aí não gostou de minha saudação, porque eu não faço parte dos "que estão salvos".  Se Deus, contudo, estivesse na sua pele agora, ele não ficaria contrariado com minha saudação. Penso que, ao contrário, Deus ficaria muito satisfeito de ver que sou capaz de desejar boa Páscoa para os que são tão diferentes de mim.

Quanto a Pasquale, volto a festejar, ele acertou em cheio com sua filosofia.

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