Sunday, June 17, 2012

Yoki a tragédia do executivo 'pedra no sapato' da própria família

Enquanto Dilma Rousseff sorri amarelo, em evento verde, a coisa vai ficando cada vez mais preta no caso Yoki, por causa da prisão da inocente Elize.

A 'confissão' dela foi alardeada pela boca de Jorge Carrasco, diretor do Depart. de Homicídios, que, durante a semana que findou ontem, não mais deu declarações. Agora o caso está com Mauro Dias, porque a polícia torce para que tudo, agora, seja apenas uma questão de dias e Elize pereça, condenada a prisão eterna.

Trata-se de um caso em que vários atores, com motivações diferentes, tramam armados com rios de dinheiro, num ambiente altamente corrupto como o Brasil. Quem tinha menos motivação - se alguma - para o crime é justamente Elize. A risível, de tão banal, versão da polícia - que virou neste fim de semana 'versão da defesa' (de Elize) - vendeu o absurdo, no duplo sentido.

Há meses a mídia nacional apresentava a Yoki como uma empresa familiar sem sucessores. Isso mesmo: 'mataram' Marcos, então bem vivo e principal executivo da empresa fundada pelo pai de sua mãe. Marcos some (20.5) e, em dias, a General Mills publica (24.5) que a compra da Yoki está fechada. O pai de Marcos, Mitsuo Matsunaga, é quem representa a Yoki, no lugar do filho desaparecido.

As duas filhas do fundador, mãe e tia de Marcos, não vão ao enterro, realizado no dia seguinte à prisão de Elize, empreendida quando ela nem sabia que o marido estava morto, o que é facilmente (para os inteligentes) deduzível das narrativas sobre o caso.

As investigação sigilosas anteriores, que envolviam PMs, vão para o verso do tapete e Jorge Carrasco corre para produzir outra investigação para colocar no lugar. As narrativas também revelam facilmente que Carrasco foi montando seu enredo: põe freezers (congeladores) demais, e depois some com o congelamento das partes do corpo; fala de sacos, depois de uma mala, depois de três malas.

Tão, ou até mais, digno de ser ressaltado é o diálogo/briga que foi inventado para a reconstituição do crime. A demora em se apontar que Elize era garota de programa também é indicação da 'costura' do enredo. Só se divulgou isso após os jornalistas verificarem junto à mãe de Elize, lá em Chopinzinho: "A senhora sabe o que ela fazia em São Paulo"? Foi a mãe responder: "Não sei", e Elize garota de programa, com tanto atraso, entra no script.

Tenho uma forte suposição: incluir esse detalhe de Elize como ex-garota de programa (para o que também não há provas suficientes) parece uma exigência de certo produtor (também cheio da grana) do enredo: a primeira mulher de Marcos, que ele trocou por Elize, justamente quando aquela dava a ele um filho. O que o enredo da polícia fez constar como "medo de Elize" (de ser trocada por uma mulher mais nova, garota de programa) foi de fato vivido pela primeira mulher de Marcos. Seria a vingança milionária, o que deve estar por trás do teste de DNA (paternidade), já que o advogado do pai de Marcos, D'Urso, apontado como presidente da OAB-SP, atestou que a família de Marcos não tem dúvida de que a filha de Elize é dele. A primeira mulher tem interesse em 'provar' o contrário, e ficar com a parte que seria da filha de Elize.

Assim, é possível que haja ao menos uma pitada de crime passional, ainda que indiretamente, como 'propinar' e exercer influência na condução do inquérito pela polícia. Por parte da primeira mulher de Marcos, que não foi identificada de modo algum. Ela tem um filho de Marcos com três anos hoje.

A venda da Yoki para a portentosa General Mills (Haagen Dazs, entre outras marcas) estava emperrada, agora deduzimos, graças a Marcos. Ele, o herdeiro que Estadão e Veja (até onde já apuramos, não terminamos nossa pesquisa) deram, em dezembro de 2011 e em fevereiro de 2012, respectivamente, como inexistente.

A valorização do dólar deve ter deixado os que queriam a venda absolutamente desvairados. A venda da Yoki foi anunciada no pico dessa valorização.

Distraindo o povo inculto com a imaginária amante e um detetive totalmente virtual que jamais dá as caras, além de rodar à exaustão vídeo com um dublê de costas e três malas, Carrasco "esqueceu" de apontar que testemunhas ele estava ouvindo. Nenhum dos dois advogados (de um lado e do outro) viu a amante depor. Isso veio à tona por causa do barulho em torno dela. Mas nada se sabe, tampouco, sobre as demais testemunhas, a não ser um primeiro depoimento do reverendo (que claro, só encheu páginas).

Assim, dada a omissão, parece que, tão estranhamente, não prestaram depoimento ninguém da família de Marcos. Sua secretária ou secretárias. Colegas de Yoki na empresa e fora dela. Carrasco catou um reverendo, uma mulher/de programa sem nome em depoimento sigiloso, e... uma babá, também sem nome, que "não viu nada". Só para encher página. Mas toda essa 'incompetência' é um baita testemunho por si só, diante de toda a maracutaia que desponta.

O Estado (Ministério Público, Polícia Civil, etc.) trabalha com celeridade chocante de tão rara, para 'legalizar' a situação de Elize com um julgamento baseado no convencimento produzido por rios de dinheiro a mover certos mundos. Um julgamento equivocado tipo "Soltem Barrabás, Soltem Barrabás"!

'Soltem Elize' - nossa campanha recém-lançada no twitter - soa coisa de lunático. A História se repete.
Aqui, os criminosos já estão soltos e assim permanecerão, tudo indica.

Portanto, já é superdesafiadora a luta para soltar a inocente Elize e livrá-la do papel de bode expiatório. Ainda que os culpados... bem, quem vai preso com tanto dinheiro e aqui no Brasil?

DIA A DIA

05.06.2012- o caso vai para os jornais de S.Paulo pela primeira vez. O Globo só noticia a partir de 06.6.
Fala-se que PMs estavam envolvidos em investigação que correu em sigilo, a partir de vinte ou vinte e poucos dias de maio. Depois de duas semanas (Marcos desapareceu dia 20), alguém acabou se lembrando da Lei do Acesso à Informação. Então, Carrasco assume o caso. Um caso que 'pudesse' vir a público. E que encobrisse os PMs. Além de, tudo indica agora, satisfazer outras vinganças pessoais, como a da primeira mulher de Marcos ("todos vão ficar sabendo que você era garota de programa" - essa fala, colocada na boca de Marcos, parece coisa de mulher...relegada por outra).

Véspera (04.6) - Carrasco vai até o ap. de Elize e Marcos, e apreende, segundo o próprio policial, documentos de Marcos (que não diz quais são, mas, muito provavelmente, incluía sua agenda), pega sacos azuis importados, não consegue contar quantos freezers há no local ("acima da média"), nem encontrar marcas de sangue. Leva Elize para a DP.(Ela não viu, portanto, as manchetes nos jornais. Não sabia que era acusada de matar o marido. Não sabia, quase certamente, que o marido tinha morrido - processo em sigilo; o reconhecimento, quando a cabeça apareceu, não foi feito por ela.)
Elize não mais falaria com ninguém, COM NINGUÉM de seus contatos, amigos, família, depois disso. Está incomunicável.

06.6  @mariangelapedro (twitter) denuncia que o caso está furado.
Carrasco anuncia que Elize confessou. Isso, hoje, claramente traduz-se como um ímpeto de Carrasco, associado não a um conjunto de provas que finalmente convergiu, mas ao resultado de levantamento sobre a vida de Elize. Carrasco decide que ela pode 'confessar' após sua pesquisa (em off, claro) apontar que Elize tinha estudado (há mais de dez anos) enfermagem. Carrasco, empolgado, acrescenta alguns pontos questionáveis: ela trabalhou em centro cirúrgico (não especifica qual) e é "exímia atiradora", um exagero que vira excesso comprometedor, já que desnecessário: a própria polícia confirma que o tiro foi dado a curta distância do alvo.
Após apresentar a "assassina confessa", Carrasco parte imediatamente para o ap do casal para reconstituição do crime, com o perito Salada (está correto). A operação entra pela madrugada do dia 7, dia de Corpus Christi.(sim, feriado nacional)

07.6  Estado de S.Paulo, na primeira página, é sensacionalista: 'Fui eu', diz viúva de esquartejado', legenda de foto tamanho médio-grande, bem no meio da página. É aquela foto em que Elize está com mechas do cabelo no rosto. Total azar de Elize: por ser feriado, mais tempo tinham as pessoas para ler o que produziria a sua condenação a jato. Sem falar da TV... imagens de mulher loira, sempre de costas, com três malas num elevador. Só isso bastou. As imagens não tinhas data nem hora.
Folha, bem mais discreta na capa, reitera que Elize confessou.
Carrasco alardeia que a reconstituição da noite anterior confirmara todos os pontos da confissão de Elize: a discussão, o tiro, o arrastar o corpo até um quarto de empregada, o esquartejamento no banheiro de empregada, o acondicionamento das partes em três malas (nada de congelar as partes... Carrasco some com esse detalhe. Saiba por que lendo Congeladores de Carrasco saem de linha de investigação). Acrescenta que a polícia está convencida de que ela fez tudo sozinha. Afirma também que Elize não tem advogado.
A prisão de Elize era só por cinco dias - ela estava presa desde segunda. IML, uma semana depois, desmentiria toda essa reconstituição assinada por Carrasco. Essa reconstituição é, então, empurrada para debaixo do tapete, como se não tivesse existido. Citando o promotor José Carlos Cosenzo, do 5o. Tribunal do Júri da capital (Folha 16.6): "A versão da suspeita para o crime foi totalmente sepultada após a revelação dos laudos". Versão, repetimos, que a reconstituição de Carrasco plenamente endossara.
Quem paga a conta? Nós. Frisando o desperdício: reconstituição do crime (lembram do boneco do tamanho de Marcos?), em noite véspera de feriado, seguida de perícia na madrugada do feriado. A reconstituição está sepultada. Cadê a perícia?

Final da semana - aparece Luciano Santoro como advogado de Elize e não contrapõe nada da versão de Carrasco e sua reconstituição com Salada. Santoro apenas discute a motivação. Essa estratégia foi usada contra ele, quando o laudo do IML desmentiu (meio da semana seguinte)  a versão de Carrasco. Ler "16.6".

09.06 - Sai Veja, "Mulher Fatal". De todas as loucuras, esta nos parece a mais importante a denunciar: a revista diz que Marcos não tinha nenhuma influência na empresa Yoki.
Carrasco não faz a reconstituição da desova por causa do "tempo chuvoso". Mesmo assim, dá o caso como encerrado.
Contrariando recomendação até mesmo de D'Urso, advogado dos pais de Marcos, Carrasco não chama, para depor, o policial rodoviário que parou Elize na estrada. O policial não revistou o carro, mas Carrasco declara que as partes do corpo de Marcos estavam no porta-malas quando da ocorrência.
O conjunto de testemunhas de Carrasco chama atenção tanto pelas ausências quanto pelas adições. O depoimento sigiloso da "amante" é tão exagerado (passou quinze horas direto comigo) e inverossímil (ofereceu 27 mil para eu tirar perfil da internet) que nos leva a perguntar: quando ela recebeu para depor? (mais em 11.6)

11.06 - Aparece uma "amante" ouvida em sigilo. Nenhum dos advogados, quer de um lado, quer do outro, viu essa mulher. Nome secreto. Não tem mais página na internet, apesar de estar na ativa como garota de programa, do mesmo site em que Elize teria participado há muitos anos.

12.6 - O juiz de Cotia nega pedido de libertação de Elize, um dia antes de o IML desmentir toda a confissão dela.

13.6 - Sai o laudo do IML. Desmente toda a reconstituição de Carrasco. Que, repetimos, já caiu fora.

14.6 - Dias, aquele que ficou no lugar de Carrasco, envia o caso para a justiça.
O juiz da Comarca de Cotia recebe o caso mas  argumenta que a competência para o caso não é dele.
Mas foi esse juiz que, dois dias antes, decidiu não libertar Elize.
Inquérito foi para a 5a. Vara Criminal do Fórum Crim. de Barra Funda.
Toda a reconstituição no ap (a externa, repetimos, não foi feita) está furada. Não há arma, nem a faca, nem as malas. Não há testemunhas fortes. Os vídeos que iludiram o povo são uma montagem.
Dias põe panos quentes: "ainda estamos investigando", apesar de o inquérito já ter sido encerrado e enviado para a justiça.

15.6 - Divulgamos a inocência de Elize no twitter. Pedimos a atenção do arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, para o caso.

16.6 - Folha de S.Paulo, p.C11, escreve no alto da página (legenda de infograph) "Investigação- Laudo necroscópico contradiz versão da defesa de Elize".
A versão é do DHPP, por meio de Carrasco. Elize não teve advogado, repetimos, enquanto Carrasco produzia provas e o convencimento geral do povo (clamor popular). Carrasco declarou, uma semana antes de sair o laudo do IML, que reconstituição no ap confirmava totalmente a confissão de Elize.
A sequência: Carrasco cai fora, o laudo do IML desmente a narrativa da reconstituição, e a versão passa a ser não da polícia, mas da "defesa" de Elize.
Santoro entrou como defesa só depois que Carrasco já tinha armado o clamor popular.
Santoro negou outra entrevista à Folha.

Estadão entrevista o legista do IML, Jorge Pereira de Oliveira. Eis trecho:

O laudo desmente Elize?
Oliveira: Não tenho como entrar nesse tema, porque não tive acesso às declarações oficiais dela. Não posso ir atrás da mídia, senão deixo de ser uma prova técnica. (grifos nossos)
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Em que condições foram produzidas as 'declarações oficiais' de Elize? Isso inclui a sua suposta confissão.
William Cardoso, quem entrevista Oliveira, insiste em apontar Elize como autora de tudo e pergunta, em seguida:
Ela baleou primeiro e esfaqueou depois?
Oliveira: Não há condições somente pela perícia necroscópica de determinar a ordem dos ferimentos. Precisa de outros indícios, sob outra forma de perícia.
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Folha, página já apontada (C11), escreve que (no laudo) "consta que o disparo de pistola 380 de Elize contra o marido "foi de característica do tipo encostado""...
Ou seja, o que está no laudo é apenas o que está entre aspas internas (foi de característica...), mas a redação de André Caramante (que assina a matéria) joga para o laudo também a autoria do disparo, o que o laudo não contém.

17.6 - Nada sai, quer na Folha, quer no Estadão, como notícia sobre o caso. Danuza Leão, no caderno cotidiano da Folha, chama Elize de monstro. ("Sobre o assassinato", p.C2)

Até 19.6 - Ministério Público ou devolve para mais investigações, ou denuncia Elize (O Globo 16.6).

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