Texto em português com apresentação em inglês
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SUMMARY to our satirical article that follows
(a seguir, texto em Português)
The most incredible police case ever.
Take the time to translate the text that follows - it is absolutely worth it, I assure. It is in Portuguese because I am reporting it from the location of the events, São Paulo, and it is pressing to publish this as soon as possible in Portuguese in order to avoid that the woman made scapegoat is killed in prison.
The woman is Elize Kitano Matsunaga - widow of Yoki's heir and CEO Marcos Kitano Matsunaga, murdered brutally (policemen actual suspects) precisely while General Mills took grip of one the best Brazilian companies. Police build up a passional crime where Elize kills Marcos and the connection between the murder and the billionaire transaction is denied. However, the plot is leading to effects contrary to those expected. Marcos is now 'Mr.Yoki' on twitter and so strong a brand is turnished forever (joks are around the brutality of a passional crime with dismemberment of the body, according to flabby police investigations). General Mills will lose if it can no longer give up the almost-US$2 bi deal.
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Congeladores de Carrasco saem de linha de... investigação - uma sátira da trágica condenação da
inocente viúva de Marcos Matsunaga (Yoki)
Mesmo sem provas - não encontrou marcas de sangue -, Jorge Carrasco, diretor do DHPP, levou Elize na conversa até algum lugar da polícia e dali ela não falou com mais ninguém. A mídia diz que a "justiça" autorizou prisão. Carrasco, então, elege-se porta-voz (ou confessor exclusivo, se você preferir) da viúva do bilionário Marcos Kitano Matsunaga, SUCESSOR (Estadão e Veja publicaram recentemente que não havia sucessores) da empresa Yoki, exterminado com requinte enquanto a portentosa empresa americana General Mills (Haagen Dazs, entre outras) publica press release (também na internet) confirmando acordo "definitivo" com a Yoki.
"Definitivo" porque já tinham sido divulgados outros acordos - em 13.02, Veja online já anuncia a venda da Yoki como realizada e, além de 'ressuscitar o fundador Yoshizo Kitano, afirmando que ele decidira vender a empresa, declara como um dos motivos a não existência de sucessores.
Carrasco descartou "a princípio" (logo depois que capturou Elize) relação entre tal transação problemática e o bárbaro assassinato do herdeiro, diplomado pela FGV e ocupante da posição de diretor executivo (CEO) da empresa fundada pelo avô. Veja continua sua estratégia pela inverdade e, na matéria de capa "Mulher Fatal", um acinte inquestionável, afirma que Marcos não tinha nenhuma influência na empresa. Enfim (para não escrever infame).
Carrasco faz de seu "a princípio" coisa perpétua. Basta passar os olhos em sua lista de testemunhas. Um vexame, de pronto. Até o cão de Tintim chamaria testemunhas mais condizentes. No que mais importa sobre o caso, justamente tal conjunto de testemunhas, a mídia foi, digamos assim, relapsa. Não deixou de fora nenhum detalhe da traição, mas só apontou como testemunha formal de Carrasco o reverendo da igreja anglicana. Pobre religioso. O que posso eu ajudar a elucidar tal barbárie, Sr. Carrasco!...
Carrasco ganhava, com o reverendo, algum tempo. Apesar da espantosa velocidade na condução (produção de provas) do inquérito, que empreendeu até uma perícia na madrugada de Corpus Christi, nenhum dos peritos reclamando de modo algum de trabahar no feriado (pagou bem tá feito), Carrasco precisou aguardar a montagem dos vídeos da traição, oficiosamente feitos por um detetive absolutamente anônimo (é preciso proteger a identidade de todas as testemunhas-colaboradoras, catadas de última hora, claro).
Elize - sem proteção alguma, foi difamada até os difamadores eles mesmos ficarem enjoados - surge tão afoita nas narrativas carrascais que contratou tal detetive, para sempre incógnito, às vésperas de matar o marido.
Mais problemas. Ao levantar a rotina de Elize para montar a reconstituição, depois da reconstituição, Carrasco descobre que ela esteve em Chopinzinho de 17 a 19 de maio. A Chopinzinho, ele não ia não.
Que sorte, pensou ele a princípio. Não preciso descobrir detalhes de Elize sobre esses três dias. Mas, logo depois, mudou de ideia. Se ela estava lá, não pode matar o marido!, percebeu Carrasco esmurrando a mesa. Ele não queria entrar com a história para além do dia 19. Mas agora não havia outro jeito.
Tudo ficou muito atropelado. Mas Carrasco contava com o suporte da miséria educacional em larga escala, do letramento funcional que só permite ao cidadão obter conhecimento pela TV bobo.
Elize não tem tempo de se encontrar com o detetive. Carrasco, em sua história, faz a banda larga chegar a Chopinzinho, e o detetive transmite o vídeo da traição - que Carrasco ainda não sabia como ficaria depois de pronto - para Elize, "online". Salvo pela tecnologia.
E, diante disso tudo, a única coisa que instiga as mais brilhantes mentes e os mais renomados jornais é a questão: crime premeditado ou não?
Para que tais mentes não se estafem, vamos tentar ajudá-las a responder antes que Carrasco consiga o julgamento a jato que ele planejara. E por júri popular.
Mesmo premeditando-se a reconstituição de um crime, as coisas podem não sair como o planejado. Aparece uma multa em blitz aqui, um cabelereiro indiscreto ali. Acolá, uma investigação paralela aponta um email do executivo quando o delegado diz que, naquele dia, ele já está morto...
Se Elize premeditou o crime e entopiu a cobertura do casal de congeladores extras para acondicionar as muitas partes do corpo, Carrasco estragou tudo isso na reconstituição. Elize deve estar inconsolável, revoltada.
A princípio, Carrasco bem que declarou que prendeu Elize, não porque achou marcas de sangue, mas porque o "número de congeladores acima da média" (não deu nem para contar) chamou a atenção dos investigadores. Isso bastou para prender a víúva. Esses detalhes saíram em todos os jornais (impressos).
Carrasco sabia, com base em investigações conduzidas antes de ele tomar o caso para si, que as partes do corpo, segundo os próprios investigadores, tinham sido congeladas. Por quê? As partes foram espalhadas, em local que foi ficando cada vez mais indefinido (ah, essa investigação carrascal), em dias diferentes, um pouco a cada dia, também segundo apuraram os primeiros investigadores, que tinham PMs como suspeitos. Claro, para estender a coisa ao longo de vários dias, há de se congelar as partes do corpo.
Depois da perícia sensacional pela madrugada, Carrasco começa a alinhavar uma cronologia da história policial mais sonsa e sem graça do mundo. Então, cai-lhe a ficha. Não dá para estender essa maracutaia de história por vários dias! Três empregadas e as partes do corpo pelos freezers, por vários dias! Bem que Carrasco ficou tentado. Isso daria um IBOPE medonho e contribuiria para o clamor popular, requisito para manter enxadreizada a viúva, imigrante de Chopinzinho. Dali para a sentença furada de um júri popular era só uma questão de um pouco mais de moneycracia.
Entretanto, Carrasco se convenceu de que seria audácia demais. Sobretudo, não convinha, de modo algum, prolongar a história. Quanto mais curta, menos coisas a construir, a fazer encaixar na verdadeira rotina de Elize naqueles dias. E menos riscos de aparecerem furos. Mais rapidamente, o inquérito é fechado e eu caio fora. E o julgamento é marcado.
Então, saem do script os congeladores em quantidade "acima da média". Quem iria se lembrar de que eu falei que as partes do corpo foram congeladas?, pensou Carrasco.
Depois de montar e remontar a história com seus assistentes, por horas sem fim, consultar a weakpedia para descobrir o tempo de coagulação do sangue cadavérico, Carrasco chega à conclusão de que Elize não pode perder tempo. A discussão do casal antes do tiro tem de ser rápida. Tudo tem de ser muito rápido. Senão, não dá para terminar tudo no dia 20.
Dia 20. Por quê? Dia do pagamento? Não. Dia 20 porque Marcos, nas investigações para valer, some após - sim, após - sair do prédio em morava nesse dia. Aí começa o que de fato deveria ser investigado. Então, é justamente aí que Carrasco vai colocar a pedra. De 20 não dá para passar. São seis horas para esquartejar, dez horas para coagular...pô! isso já dá dezesseis.
Então, sem tempo para congelar, os congeladores saem de cena, de discurso, de linha de investigação. Serviram para prender Elize, resmunga Carrasco. Agora, resta deixá-los enferrujar.
Depois de todos os hercúleos esforços de Carrasco para esclarecer definitivamente o caso, sai esse laudo do IML com tiro do alto para baixo. Agora não dá mais para mudar o local de onde Elize pegou a arma (uma cômoda).
Já mudei coisas demais. Eu bem que poderia ter sido menos convencional e dito que Elize teve de pegar a arma escondida no lustre e atirou enquanto dependurada nele, remói Carrasco.
Carrasco, entretanto, não percebeu ainda que, no afâ de "economizar" sangue, já que de fato não havia nenhuma marca de sangue no apartamento, ele acabaria por construir uma historia da reconstituição totalmente furada. Pior: ele declarou, na ânsia de encerrar o caso, que a história confirmava plenamente a "confissão de Elize".
Foi por causa do espremidíssimo prazo fatal do dia 20, que Carrasco "concluiu" que Elize fez tudo sozinha. E, em decorrência, Carrasco teve de fazer outra mudança na história. Já tinha saído nos jornais que Elize deixara o prédio apenas com uma mala. Mas uma só não dá para tudo. E ela tem de sair com todas as partes do corpo de uma vez. Senão, não dá tempo!
Isso requer três malas?! Mas como sair com três malas sozinha e não chamar a atenção de ninguém?, resmunga Carrasco.
Isso seria o de menos. De fato, não ouvi nenhum popular achar as três malas algo estranho. Havia outros detalhes ainda mais desafiadores para Carrasco e equipe. Como: o que Elize faz com o corpo depois do tiro?
Para "economizar sangue", Elize arrasta o corpo até um quarto de empregada. Por que esse cômodo? É o menor, ora. Lembre-se, Elize não deixa "quase marca alguma" de tão bem que limpa tudo. E não há tempo! Não há tempo de ela fazer tanta faxina num cômodo maior!, esbraveja Carrasco para sua equipe.
O chefe é mesmo brilhante, seus assistentes cochicham entre si.
Nessa linha de raciocínio, Elize, após dez horas, transfere o cadáver para o banheiro. Banheiro é mais fácil e rápido de limpar. É um banheiro bem pequeno, apertadinho, de empregada. Não foram achados vestígios de cartilagem, nadinha.
Carrasco declara aos jornais que a babá ficou com a filha de Elize durante esse tempo todo em que a mamãe esteve tão ocupada. Em depoimento a Carrasco (não esclarecido se formal ou informal), a babá declara não ter visto nada demais. Carrasco justifica: a babá/empregada não tinha acesso a todos os cômodos. Não tinha como entrar nem no quarto, nem no banheiro de empregada.
Acrescenta ele que Elize perfez o esquartejamento completo em quatro horas, duas a menos que a média. Carrasco deixa implícito que ela usou as duas horas, conquistadas a duros cortes de faca, para limpar a meleca. E, em disparada, partir, em seguida, para o elevador com três malas que jamais seriam encontradas. Embora as partes do corpo, estas sim, já tinham aparecido todas. Duas semanas antes.
Nota de Carrasco: Não há a arma do tiro, nem a faca do esquartejamento, nem mala alguma, nem vizinho algum, nem porteiro algum, nem o computador para Elize mandar certo email e enganar a polícia, nem mesmo a reconstituição da desova em Cotia. Quanto a esta, "a princípio", eu disse que foi por causa da chuva. Agora, é por causa de corte por crise europeia.
Nota da revista Veja: decidimos que o esquartejamento foi feito no quarto de hóspedes, bem maior. Ponto. A limpeza impecável ficou por nossa conta, que pagaremos com o recorde de vendagem da revista nesta semana.
Nota relevante da autora: no que concerne às testemunhas, só partes do depoimento do reverendo foram citadas na mídia. Parece que todos os demais depoimentos foram sigilosos. Para proteger a maracutaia, digo, a investigação.
Uma pergunta apenas: ninguém lembrou de dizer que Elize dormiu bem enquanto o sangue coagulava?
Engrossaria o clamor popular. Deixá-la sem nem uma sonequinha foi o mais cruel da história.
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