Decepcionada ao extremo, não tive ânimo para rebater. Até que "explodi" de tanto ser aviltada com essa resposta "ah, tá bom assim; dá para entender" e escrevi o muito elogiado texto aqui postado "Palavra - veja bem com o que você se mete"
http://mariangelapedro.blogspot.com.br/2011/10/palavra-veja-bem-com-o-que-voce-se-mete.html. Com esse artigo, proponho: VOCÊ SERIA A FAVOR DE UM SIMPLES 'ENTENDÊS', NO LUGAR DO PORTUGUÊS?
Graças a argumentos frívolos como o de Suzana, o pior se sucede ao mal. O erro voltou a aparecer, precisamente na Folha, em reportagem de ontem, 04.04, assinada pela mesma jornalista de antes, Luciana Coelho. Escrevi novamente para a Suzana.
Mais relevante, contudo, é o primeiro email que enviei para Suzana, em que aponto o erro. Percebi que não postei a mensagem aqui. Faço isso agora. Abaixo também está a resposta da consultora de português da Folha.
EMAILS QUE APONTAM ERRO DE TRADUÇÃO NA FOLHA
Os emails abaixo entre mim e a ombudsperson da Folha foram trocados entre final de outubro e novembro de 2010.
A) Este email é a comunicação final da ombudsperson, Suzana.
From: Ombudsma ombudsma@uol.com.br
normalmente o jornal não corrige erros de tradução, exceto quando comprometem o entendimento da informação.
Atenciosamente,
Suzana SingerOmbudsman - Folha de S.Paulo
B) Neste email, após receber, por Suzana, o parecer da consultora do jornal dando-me razão, peço que o jornal publique um "erramos". A resposta a isso está acima., em A: uma desculpa inaceitável para negar a fazê-lo.
To: Ombudsma
Muito grata por tanta valiosa atenção. Estou certa de que vc também percebeu a relevância da questão e os jornalistas tomaram conhecimento do parecer também. A Folha não vai publicar um item a respeito no "Erramos" ?
C) Suzana me envia a opinião da consultora da Folha (abaixo em azul), que acolhe integralmente minhas considerações.
From: Ombudsma
agradeço suas considerações. Pedi avaliação da profa. Thaís Nicoleti, consultora da Redação. Ela está abaixo.
Atenciosamente,Suzana Singer
Ombudsman - Folha de S.Paulo
O termo inglês "virtually" pode ser traduzido em português por "virtualmente", "quase" ou "praticamente", a depender do contexto. Com toda a certeza, a construção "virtualmente 53%" está inadequada, pois o contexto exige "praticamente" ou "quase". Em português, "virtualmente" não tem esse sentido. De fato, o texto a que ela se refere deve ter sido o resultado de uma tradução apressada. Agradecemos a ela a presteza da observação.
D) Minha primeira mensagem, apontando o erro de tradução de VIRTUALLY
To: ombudsman@uol.com.br
Subject: hora de acabar com o virtualmente impossivel
Cara sra. ombudsperson,
... Peço a você que tente fazer que uma grande besteira pare de aparecer na Folha.
Minha coleção de artigos em que a tal besteira aparece já está enorme. A origem da besteira é a tradução incorreta - para o português - de VIRTUALLY, um falso cognato.
O uso de ferramentas de tradução, sites, etc. contribuiu para o absurdo.VIRTUALLY não é VIRTUALMENTE em 99 POR CENTO DOS CASOS! O erro consiste em traduzir por VIRTUALMENTE, quando o correto é QUASE. (ou PRATICAMENTE)
Já confrontei uma "estrela" feito Pondé, que jamais admite suas escorregadas. E tal estrela, face a face, alegou que "popularmente se entende que virtualmente aqui é quase". (Tal "estrela" é Laurentino Gomes, autor de 1808 e 1822. Neste último, também há o erro aqui comentado, que Laurentino comete ao traduzir do espanhol.)
Sendo assim, cara ombudsperson, você não haveria de estranhar se eu lhe disser que estou virtualmente morrendo de fome, ou que meu carro está virtualmente sem combustível, ou que nós, nação de ignorantes e hipócritas sem igual, estamos virtualmente caindo no abismo.
Ah! Você acha que eu estou louca por dizer essas coisas! Bem, eu digo o mesmo de todos que escrevem isto em BEST SELLERS e artigos publicados até... pela FOLHA.
O erro é evidente... para mim. Mas a fama sobe e corrompe o órgäo da lucidez. Como reconhecer que se errou, quando somos adorados feito um deus, por... virtualmente nada?
Dicionários - Aurelio e Houaiss - NÃO apresentam virtualmente como sinônimo de quase. Sacconi, que já defendeu a grafia de xóping (em vez de shopping) e tantas outras "vanguardas", já inclui a besteira lá, no seu guia para burros. Não quer dizer com isso que a correspondência entre os termos está correta. Apenas que a besteira conquistou a naçäo do futuro. E até eu, como disse no início, já tenho provas disso.
FOLHA DE HOJE- a peça mais recente para a minha coleçäo: repórter Luciana Coelho assina matéria "Jovens dos EUA dão as costas à política", que contëm: É uma queda de nove pontos em 11 meses e virtualmente a metade dos 53% que votaram para presidente em 2008...
Bem, fica a forte suspeita de que Luciana recorreu a uma traduçäo automática... Aposto minha coleçäo inteirinha como ela nÃo seria aloprada para escrever "virutalmente a metade", quando o sentido é de que "quase a metade dos 53%..."
Claro que há o erro. PRATICAMENTE ou QUASE dos 53%... é o que caberia. Bem, ela traduziu de outro e não citou a fonte. A falta de ética também já está tão disseminada que... o negócio é negar até a morte, seja de que forma absurda for.Pois.
Estou virtualmente a ponto de ter uma síncope. Por que quem comete o erro näo quer admiti-lo e então a besteira é que precisa se tornar "popular".
Mas ora confio, finalmente, a delicada questão a você, dedicada ombudsperson. E espero logo receber resposta com algo assim: "A leitora está com a razäo. Tomaremos todas as medidas para näo mais publicar a besteira".
Muito obrigada, 25/10/2010
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É. Nada adiantou meu palavrório.