Publicamos ontem crítica ao editorial da Folha, "Respeito à Anistia". A nós, então, escapou apontar mais um erro do jornal. O editorial inclui o apelido do militar em foco como parte do nome dele: ... o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura..."
Elio Gaspari, um dia antes, no domingo, intitulou sua coluna com o apelido entre aspas, como deve ser: 'Curió', o herói da ditadura. O texto logo deixa claro que o nome é Sebastião Rodrigues de Moura; o codinome, "Major Curió".
Mas, herói?
Gaspari oferece vários dados sobre Curió e, para logo responder à estranheza quanto ao 'herói', vamos logo ao fato de que o oficial recebeu uma das Medalhas do Pacificador, conferidas, segundo o colunista, a todos os cabos, sargentos e oficiais que estiveram no Araguaia. Para lá foram mandados para matar. Escreve Gaspari:
Quem chegou àquele fim de mundo depois de outubro de 1973 sabe que a ordem, vinda de Brasília, era de matar todo mundo. Executaram os prisioneiros, inclusive aqueles que acreditaram em folhetos que os convidavam à rendição. Foram cerca de 50 pessoas, na maioria jovens....
[Ordens] De quem? Dos presidentes Emílio Médici e Ernesto Geisel, e dos ministros do Exército: Orlando Geisel, Dale Coutinho e Sílvio Frota. Por terem cumprido essa e outras ordens, "Curió" e os demais combatentes do Araguaia receberam a medalha.
Selecionamos, do texto de Gaspari, outros curiosos dados sobre esse herói segundo a ditadura: o apelido deu origem a nome de cidade (Curionópolis), de que Curió foi prefeito. Foi agente do SNI. E deputado federal. O mais surpreendente: após cumprir as ordens de matança, em 1973-4, dez anos depois estaria na liderança de uma revolta popular envolvendo milhares de garimpeiros de Serra Pelada. Informação adicional sobre esse último episódio, eu não encontrei ainda. Gaspari sabe de muita coisa!
Seu texto diz, ainda, que Curió tem 78 anos. Mais precisamente, ele completou 77 em 15 de dezembro, segundo a Wikipedia ("Sebastião Curió"), que aponta 1934 como o ano de seu nascimento.
Acabo de descobrir que o importante jornal espanhol El País, em 15.03, louvou a ação (espanhol) do Ministério Público contra o militar. E a Human Rights Watch, 13.03, também (ingles) . Estes sites ainda não incluem a rápida derrota do Ministério Público, em primeira instancia. Sobre essas manifestações internacionais, dedico uma postagem própria.
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