Friday, January 13, 2012

LEITURAS DA SEMANA - O QUE NÃO PRESTOU

Amanhã sai "Leituras a Semana -O que brilhou"

O que não prestou:
Colunas de Pondé e de Calligaris, ambas publicadas no jornal Folha de S.Paulo

1) Coluna de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo, 09.01 - "Francesca"

Pondé é uma quase unanimidade. Uma legião de adoradores de alguém cujos méritos são difíceis de apontar (para não ser mais dura) é um rico indicador de falta de maturidade de um grupo. Ou até nação. Maturidade e capacidade intelectual.

Há semanas comecei um papo com um aluno da USP que não conhecia. Disse-me ele que gostava de Pondé, de quem ouvira uma preleção... na igreja! Igreja?, eu estranho. O rapaz confirma que Pondé tinha ido à igreja dele, batista. Quando falta base para pensar, analisar, o verbo sempre empregado é 'gostar' - foi com esse verbo que também outro rapaz, pelo twitter, falou de Pondé. E esse rapaz demonstrou que lê mal: rebateu meu tuíte com algo sem nexo.

Disse para o aluno da USP que Pondé escrevera na sua coluna que, da próxima vez que os alunos da USP ocupassem a FFLCH, deveriam ficar trancados lá, até se darem conta do delírio deles.

Nossa!, exclamou o rapaz. Meu conceito sobre Pondé já mudou totalmente!, ele acrescenta.

E o conceito de muitos devem mudar ao lerem, a seguir, o que extraí da coluna de Pondé desta semana (título e outros detalhes acima):

Pondeismo - pecado é apontado como virtude (e uma multidão elogia!)

luta de classes é bobagem

Oprimido x opressor também (é bobagem)

Quase toda a esquerda nada entende de ser humano.

Uma das coisas mais lindas na mulher é a sua capacidade de erotizar o intelecto masculino.
(Homem algum erotiza o intelecto da mulher, não é? E é chato como isso nos leva a perceber que a mulher talvez erotize, sim, o que ela não sabe avaliar... Já falei com mulheres que também adoravam Pondé... até que me ouviram a respeito dele.)

Provavelmente ele [Clint Eastwood] pegou muito mulher por conta desse filme {As Pontes de Madisson]

as feministas não entendem nada de mulher nem de homem.

Peço aos inteligentinhos que nada entendem do conceito de pecado que vão brincar no parque.

pecado aqui significa a consciência de que você não é dono de si mesmo. Suas reações, pensamentos e esquemas rotineiros de enfrentamento da vida entram em colapso.
(Ora, é tão difícil se ter essa consciência, justamente quando não se é dono de si... Então, seriam raros os pecadores, já que ter a consciência é pecado, segundo essa definição. Pois. E ninguém manda Pondé ir, ele, 'brincar no parque'...)

O adultério é um pecado somente quando há amor envolvido, porque o adultério (nesse caso) faz você ver que existe alguém dentro de você que é despertado do sono por outra pessoa que não aquele que divide honestamente e cotidianamente o dia a dia (cotidianamente o dia a dia - um 'tanto' pleonástico...) da sua vida (megapleonástico!)

É sempre assim. Pondé escreve mal. Não tem senso de rigor com conceitos. Disfarça isso preenchendo cerca de dois-terços do espaço de sua coluna com ataques 'pra todo lado' (primeiras frases acima). E se formou em filosofia na USP. Pois. E há muitos como ele.
Mas, voltando ao 'pecado segundo Pondé': o adultério é pecado porque faz você ver... Ora, algo que faz você ver o que não via não me parece pecado, de modo algum!
Como acompanho Pondé há tempos, a enrolação dele sugere que ele foi 'inspirado' sobre o pecado por outro autor (que ele não cita, para a gente não ir ao original, e comparar), e 'misturou as estações' ao tentar aproveitar as ideias do outro. Há mais, ainda da coluna da semana:

A alma de um pecador é a sua consciência de que faz algo contra alguém que não merece. A pior tragédia do adultério se dá quando o traído é inocente.

Com isso, temos que Pondé já se esqueceu do que escreveu antes, no mesmo texto: "só há pecado no adultério quando há amor envolvido". O pior, agora, é quando o traído é inocente.
Não é esclarecido quem ama. O último parágrafo indica que o traidor ama. E ama aquele com quem pratica o adultério.
Nos textos de Pondé não há integração. As ideias são sempre jogadas.
Este "Francesca" (personagem principal daquele filme de Eastwood) - que deve ter sido elogiado por muitos, como outros textos de Pondé - culmina para dar evidência inesquecível dessa falta de concatenação de ideias nos escritos de Pondé. O pecado, explicitamente, vira virtude. O quê? Isso mesmo. Vejamos:

Ao contrário do que muitas mulheres pensam, muitos homens sacrificam suas vidas afetivas em nome delas e dos filhos, em silêncio. A virtude é sempre discreta.

Leram, gente? A virtude é a de ser adúltero-pecador, sacrificando suas vidas afetivas...
Gostou? Pondeismo só mesmo no Brasil.

2. Coluna de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo, 11.01 - "Agir para fazer bonito"

Sou eu, Mari, quem recomenda o livro de Duncan Watts, Tudo é Óbvio - é para quase todos. Demonstra como nosso 'raciocínio' não tem fudamento. O artigo de Calligaris é exemplar nesse sentido. Só não me peçam para julgar qual é pior: o de Calligaris ou o de Pondé (acima) - a escolha é difícil!

Calligaris apresenta dados que levam a uma conclusão. Mas ele simplesmente não concorda com essa conclusão - ou não quer concordar, sabe-se lá por quê. Então, ele se sai com um "caroço moral" que não diz de onde tira. E, de um tapa, ou seja, do nada, defende o que contraria os dados, defende o que ele quer. Curioso é o título do artigo: Agir para fazer bonito... Talvez Calligaris pense que fez bonito com a entortada lógica no seu texto.

Sim, o tema é em torno da moral, como o tal caroço sugere. Lembro-me de emails que troquei, há tempos, com Calligaris; eu falo de Kohlberg, que desenvolveu uma teoria de estágios de desenvolvimento moral. Calligaris retruca: Kohlberg se suicidou, desprezando a teoria. Isso, claro, me desapontou; então, Calligaris ainda tinha crédito comigo; houve um texto dele que elogiei. Então, foram vários e vários ruins... O desta semana é péssimo.

Vamos ao 'raciocínio' - furado - dele:
1) apresenta dados de uma pesquisa descrita em livro que ele cita (penso que essa citação é merchandising) Esses dados contrariam o que Calligaris acha.
2) Começa a 'entortada'. Calligaris inclui um "à primeira vista" no início do trecho que condiz com os dados antes apresentados:
À primeira vista, não agimos por força de vontade, mas para evitar punições e vergonhas. Ou seja, não somos nunca verdadeira e corajosamente bons; apenas queremos fazer bonito e não perder dinheiro.

Meu aparte: Essa descrição condiz com o estágio inferior de desenvolvimento moral de Kohlberg.

Voltando a Calligaris, ele sentencia que nos exemplos dos autores do livro... "eu não vejo um sinal de decadência moral, ao contrário". Ele não apresenta nem um exemplo sequer. E prossegue:
... como penso há tempos, nossa época é mais de progreso do que de decadência moral.
Está claro, ele quer confirmar que o que ele pensa "há tempos" é o correto. Então, surge, do nada, o "caroço moral", que o texto não esclarece se é do livro que ele cita, ou de outro, ou do próprio Calligaris...

Não há um "caroço moral" em ninguém, em época alguma. Nem em "época futura", prediz Calligaris.
Que história de caroço é essa, Mari?
Calligaris apenas acrescenta, em mau português, que "acharia mais fácil ser dotado" de tal caroço "do qual (sic) eu pudesse dizer:
Este sou eu, quer os outros me reconheçam ou não, e tanto faz que eu seja recompensado ou punido por isso.

Ainda bem que tal caroço não existe mesmo. Principalmente porque um estágio superior em moralidade não corresponde ao que Calligaris, acima, atribui ao caroço. Não depender da aprovação do meio para fazer 'o que deve ser feito' não é ser absolutamente alienado, indiferente ao meio.

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