Sunday, November 13, 2011

PM NA USP - EX PRÓ-REITOR DIZ O QUE NINGUÉM MAIS DISSE - LEITURA OBRIGATÓRIA

O MELHOR artigo-opinião sobre os recentes acontecimentos na USP, cuja cobertura de mídia tão insistente e prolongada causa estranheza, está no Estadão de hoje, caderno Aliás, p J5.

Justamente este artigo, não encontrei online! O próprio jornal oferece no site outras matérias desse caderno, mas não a de Carlos Alberto Caio Dantas, que me deixou muito contente com sua lucidez - até que enfim, alguém não vem ecoando o absurdo da propaganda da Folha de S.Paulo e da própria redação do Estadão, que defende a força, a ridicularização de jovens ainda de cueiros... um tanto "porras loucas", mas quem não o foi na idade em que hoje eles estão? Até Antonio Prata preencheu sua coluna da semana com um texto caretíssimo que, para começar, deixa evidente que se esqueceu, convenientemente, de como ele foi quando jovem.

O Estadão, na nobre página A3, chegou a lamentar a manisfestação do ministro da Educação que, sucintamente, também se mostrou lúcido ao clamar: A USP não pode ser tratada como a cracolândia. Pois.

A Folha, porém, como de costume, conseguiu ser mais eficaz na comunicação do delírio em voga, mostrando, na página principal da edição de hoje, uma caricatura de Dilma fazendo beiço ao lado da manchete garrafal: 58% concordam com PM na campus.

O número não é extraordinário. Os jornais já anunciaram a instalação, no câmpus, de uma unidade móvel da PM esta semana. A USP trabalha para obter uma maioria de concordância mais robusta: na quinta-feira, a diretoria da FEA (unidade 'conservadora' por excelência) se reúne com alunos em dois horários (manhã e noite), e há um link referente a "plebiscito" com prazo até dia 20, para colher outra contagem de "a favor da" e "contra a" PM no câmpus.

Em termos assim tão brutos, soa maluquice firmar "não, não quero a PM zelando pela segurança, pela vida dos membros da comunidade e dos milhares de pessoas que por ali transitam". Temos visto que muitos, muitos cidadãos, da USP e de fora dela, vêm tratando o assunto com essa simplificação que, esta sim, é absolutamente patética.

Por isso, o texto de Carlos Alberto mencionado acima é tão relevante.

Carlos Alberto foi pró-reitor de graduação da USP de 1994 a 1997 e diretor do IME Instituto de Matemática e Estatística (também USP), de 1982 a 1985, conforme consta ao final do artigo de título muito discreto: "Proteção terceirizada". Como não o encontrei online, faço a seguir um apanhado, de fácil leitura, do que julgo mais importante no texto:

- Em 1980/1, o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Manoel Pedro Pimentel, disse, em reunião com comitê formado por professores da USP, que não julgava adequado fazer o policiamento do câmpus pela PM.

- Esse secretário recomendou, então, o convênio que teve vigência até dois meses atrás.

- As despesas desse convênio foram cobertas pela USP, que teve guarda própria treinada por um grupo especial da PM que, "em caso de necessidade, lhe daria apoio".

- O autor, assim, lamenta "que não se consultem os arquivos da universidade... pois a discussão do modelo de segurança deveria necessariamente partir da experiência de 1980/1".

- Nas principais universidades americanas, como Berkeley, Stanford e Princeton, " o policiamento no câmpus é executiado por uma guarda universitária de responsabilidade da instituição".

- Em 27 de outubro, antes de por fim pinçar três alunos portando maconha, a PM abordou vários estudantes nos "entornos e dependências dos prédios da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas [FFLCH] - nos gramados e na saída da biblioteca -, pedindo-lhes documentos e revistando pertences".

- Temos, portanto, que a polícia extrapolou "a função de garantir a segurança" da comunidade USP.

- A decisão recente de firmar convênio com a PM (há cerca de dois meses) foi "tomada como o "aval" do "comitê gestor do câmpus", órgão que estatutariamente não tem essa competência, que é do Conselho Universitário".

- "O problema da segurança na USP decorre de uma profunda crise que a instituição atravessa".

A Folha de S.Paulo publicou carta de leitor que, jocosamente, diz para mandar a polícia que os "mimados", "baderneiros", "filhinhos de papai", "maconheiros" da USP não querem, para o bairro dele. Visão míope desse leitor à parte, a ideia é ótima: o bairro dele nada tem a ver com um campus universitário.

A continuar esse equívoco todo, logo teremos os tiroteios e as mortes pela PM, contumazes em toda a cidade, também dentro do câmpus da USP.

Além disso, os termos jocosos daquele leitor revelam parte da referida crise: os universitários não são respeitados pela sociedade, que despreza cada vez mais os estudos, os intelectuais, as ideias, o pensar em si. A própria USP demonstrou, com o apoio à "megaoperação" da PM em seu território, que despreza todos os seminários que abriga, em especial os de filosofia, educação, psicologia e liderança.

A USP desprezou minha carta aberta ao reitor, postada na internet e enviada, por email, ao gabinete da reitoria no dia 4, justamente para tentar levar a USP a ver o disparate da megaoperação que se seguiu - um ato vergonhoso, que a universidade tenta, agora, legitimar com uma votação em meio a uma quase histeria incitada pela mídia. Saber? Pensar? A USP tem cada vez menos a ver com isso.

Se vale debochar, o que mais enseja deboche é justamente clamar, como, entre outros, fez o Estadão, que a operação da PM foi "exemplar" - ora, fala-se assim de uma exibição de aparato como não se vê no trato a bandidos pesados, para lidar com 70 alunos, muito possivelmente de ressaca, primários (sem ficha na polícia), desarmados. Que operação, hein!

Em vez de dar boas lições a jovens que ela aceitou como alunos, a USP, diante dessa "minoria" que seja - o número aqui nada importa -, dá prova cabal de que seus valores são bem diferentes dos que ela apregoa. A universidade não mais faz jus a seu brasão, e deveria substitui-lo por marca que denote o oposto do que ele contém.

Quanto à mídia... não vale a pena perder tempo. Ela está onde está o poder, e tão somente enquanto for poder.

Por tudo isso, não caia, leitor, na precipitação de servir - de novo! - de marionete, de suporte para um esquema, no mínimo, estranho, muito estranho.

Como consolo, a universidade não é o único meio para se aprender a pensar, a ser digno. Como se lê no chão, ao redor do relógio, na Praça do Relogío, no centro do câmpus, sobre o que sobrevoou helicópteros da PM outro dia, "no universo do saber, o centro está em toda parte".

Se a USP desdenha disso, cabe a nós, a cada um de nós, fazer valer o ditado.

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