Wednesday, September 21, 2011

FIA Melhor que qualquer seminário. Comportamento pode ser previsto, sim.

Face ao episódio do garoto que atirou na professora e se suicidou na escola, surgiu uma corrente de "não pode ser!", desaguando em teorias alinhavadas convenientemente: "os quietinhos são os piores, os mais problemáticos". E também: "não é possível prever algo assim". Aqui, retornando com detalhes ao caso "inacreditável" - mas que não vende jornais, infelizmente - ocorrido na FEA, defendo que é até fácil identificar comportamentos "dispostos a tudo"; mas que preferimos não ver o que salta aos olhos.

Avaliando o comportamento dos meus algozes


Se você pudesse julgar cada um dos personagens (detalhados abaixo) da ocorrência de sábado, 17, no espaço da Congregação do prédio da FEA-USP, que pena você daria a cada um? Absolveria alguém?

Esse é um excelente exercício para demonstrar como é pobre nossa mentalidade, fator que mais fortemente explica por que não somos uma democracia nem sequer raquítica; por que vivemos aos puxões de orelha da OEA e ONU, e por que não sairemos disso.

O caso em foco, protagonizado por funcionários da FIA, agentes de um buffet e por seguranças contratados, é rara oportunidade para observarmos um grupo de pessoas atuando de modo tão interessante e autêntico, de modo a permitir a obtenção de novas evidências para o que renomados pesquisadores, como Adorno, há tempos já descreveram a partir de complicados experimentos, justamente porque não podiam ficar esperando ad eternum por uma ocorrência real.

E uma ocorrência real, além disso, tem de ser também avaliada, para que um dia os cidadãos desta nação mudem esse nosso tenebroso quadro em matéria de atitudes, de mentalidade.

A pesquisa de Adorno e seus colegas caracteriza a personalidade autoritária como a que quer receber ordens e não mandar. Isso nos parece um contrassenso, mas o comportamento descrito abaixo ajuda a ver a precisão da avaliação daquele pesquisador.

Na postagem anterior, falei de "promiscuidade verbal", o que não ficou plenamente demonstrado, dado se tratar de um discurso livre e não exaustivo. Vamos, aqui, ser sistemáticos e completos.

Como tudo começou: sendo acolhida e logo depois barrada
Ao entrar no espaço da Congregação, a recepcionista diz que todas as três listas de presença são iguais. Ao ver que meu nome não estava lá, ela diz: "É só assinar no final [de qualquer uma das listas].

Fiz isso e me dirigi à entrada para o auditório. Então, o segurança da empresa Capital (foi isso o que li no emblema do uniforme) diz que eu não posso "ficar desta vez" porque "eles vão fazer uma prova".
Aponto para o banner sobre o seminário, que estava ali, na entrada. Ele ignora isso e repete a mentira.


O torturante rodízio de ladainhas
A partir de então, vi-me exposta a uma torturante passagem de pessoas dizendo coisas, que parecia não teria fim. Rodiziavam-se em sua vez de ir até mim e despejar sua ladainha, como se aquilo fosse um concurso para ver quem conseguiria me fazer sair dali.
E assim iam descartando a própria fala, quando ela resultava inútil para que eu saísse daquele espaço. Todos tentaram uma historinha em que prometiam que eu voltaria para lá depois de eu ter saído. Até mesmo o homem e a mulher que ali estavam apenas para servir o buffet. Falavam comigo como se eu fosse uma criança.

A seguir, apresento as falas de cada um dos personagens, dirigidas a mim considerando todo o período em que fiquei aguardando o intervalo para o "coffee break", quando os que participavam do seminário saíram do auditório e tomaram aquele espaço.

D, aparentemente funcionária da FIA
"Retire-se".
Essa foi a única fala de D. É digna de nota por ela de pronto tomar essa postura dura, autoritária de me mandar para fora, após eu já ter assinado a lista de presença, e sabendo que o segurança mentia. Além disso, mesmo ela não tinha autoridade para tal decisão, que toma sem me perguntar coisa alguma.
D. se recusou a me dar seu sobrenome.
Como eu acabei assistindo ao seminário após o intervalo para o lanche, vi que D. era de baixo escalão - levava o microfone de um lado para o outro, entre os participantes, na audiência.
Disse para D. que fizera a inscrição e, que se fosse para me barrar, deveriam ter respondido, negando minha participação, para que eu não fosse até lá. Ela permanece com a pose dura, irredutível.

Entrementes
Volto para a mesa e risco meu nome. O segurança, colado ao meu corpo (quanto abuso!) enfia a cabeça e resmunga: "Você tinha assinado a lista"?
Eu risco meu nome e escrevo: "Fui impedida de entrar após assinar". Reparo que havia pelo menos mais uma assinatura naquela página. No geral, havia muitos nomes, mas poucas assinaturas.

Voltei para a entrada e reli o banner. Tomei algumas notas. O guarda se postou na entrada, e chutava o ar o tempo todo, diante de mim. Confirmei que havia feito a inscrição conforme dizia o banner. E constatei a loucura de ser impedida de entrar; o evento era grátis, sobre um tema de interesse geral. Como era sábado, viera ao câmpus exclusivamente para aquele evento.

C., funcionária da FIA
Vou até o outro corredor, onde foi servido café da manhã. Dirijo-me a C.: "Fui impedida de entrar. Você pode me dizer o porquê"? Ela me olha de alto a baixo e diz: "Não tenho ideia. Você deve ver isso na portaria".

Volto para o espaço da Congregação.
C., que há pouco dissera que não "tinha ideia" do porquê de eu ser barrada, agora está no espaço da Congregação e vejo que ela retira uma das três listas de presença da mesa. Quase certamente, era a que eu assinara.
As falas de C. foram:

(ríspida) "Você não está inscrita, não pode participar".
"Ele entrou [sem ter o nome na lista] porque é a-mi-go do coordenador".
"Por que você sempre causa, hein!?"
"Nós aqui estamos tra-ba-lhando, trabalhando". "Cumprimos ordens".
"Você não quer tomar café na outra sala"?
"Você quer escrever uma reclamação"? "Faça isso. Eu sou a pessoa com quem você deve reclamar".
"Diga com que professor você quer falar. Eu vou lá (até o auditório) e trago ele até aqui".
(ríspida) "Você vai reclamar de-pois, no final do evento, não agora".
"Não preciso disso (de dissimular)"!
"(em tom de piedade e condescendência) Estou tentando estabelecer um diálogo com você. Você não está colaborando"!

Apenas disse que ela teria ainda de melhor muito o seu chaveco.

A mulher do buffet

Estavam arrumando a mesa para o lanche. Uma mulher, do buffet, sorri e me cumprimenta. Mas eu não consigo ser simpática. Ela certamente me reconheceu, e as pessoas não "envolvidas" têm essa reação simpática ao me verem. Eu não me lembrava bem dela, nem do nome. Ela logo mudaria seu comportamento, apesar de não ter nada, nada a ver com o que ocorria:
"Vem comigo, vem. Vamos até a outra sala. Você não quer lanchar? Você tomou o café da manhã"?

Nada disse além de um "não, obrigada".

A intromissão dessa mulher é muito significativa, também servindo como respaldo para uma robusta tese sobre comportamento humano, que agora tende a ser avaliado como "impossível de prever". O comportamento é previsível e essa previsibilidade abrange uma evidenciada inconsistência. Despontou, claramente, a falta de preocupação com coerência, com consistência no discurso. Deste comportamento, podemos - e devemos - esperar dele tudo o que não possa ser apontado como 'bom' ou 'digno'.
Foi a mulher do buffet, que não teria de prestar contas, que nada tinha a ver com o caso, que também disparou:
"Chame outro [segurança]. Cada um pega de um lado e... arrasta para fora".
Isso mesmo, ela tomou a iniciativa de orientar a ação dos seguranças... Não havia um chefe que, direta ou indiretamente, a "obrigasse" a isso.

O empregado do buffet
O empregado do buffet se posta diante de mim e me olha como eu seu fosse um animal raro em uma jaula. Encaro-o também. Mas ele não se intimida e continua naquela pose de capataz. Mais tarde, vi que ele retirou os envólucros dos pratos, quando o lanche foi servido. Ou seja, mostrou ser mais um subalterno que aprendeu a desprezar qualquer um.

Mulher muito magra, preta, apática, não sei o nome. Como apareceu para mim entre os últimos a "tentarem resolver o problema", tinha status superior a D. e C.:

(condescendente, como se eu fosse uma debiloide) "Você quer o material do evento"? "Eu posso te dar um li-vro. Então, você concorda em ir embora"?

Não respondi.

R.Também ligado à FIA, terno e gravata, compôs a mesa, no auditório.

"Posso te dar o material do evento". Apenas pergunto o nome dele.
Ele logo volta como uma bolsa de papel. Agradeço.
"Você me acompanha"? Nada digo.
"Não quero expor você, mas, diante disso, vou chamar a polícia". Nada digo.
(pouco depois) "Eles (a polícia) já estão a caminho".

A mulher preta sai do auditório e, sem olhar para o "embate" que se desenrolava, sussura:
"Só cinco, no máximo dez minutos para o intervalo".

R. prossegue:
"Se você não me acompanhar agora, não há mais nada que eu possa fazer".
"Você sabe como é... vai ter de apresentar documento... eu não queria te expor..."

Tive de aguentar toda essa tortura, que ainda não inclui as falas do segurança que, ainda por cima, arremessou uma porta contra mim.

Segurança que arremessa a porta contra mim
Após falar com C., no outro corredor, volto para o espaço do seminário e dirijo-me para a porta que dá no auditório. Digo que vou entrar, desviando-me do segurança que me alcança e se põe na minha frente. Desvio dele. Ele então joga a porta com força contra mim.

Não mostra em uma ruga a mais no rosto. Não se mostra nada perturbado diante do que fizera. Eu me afasto. Segurando o pulso machucado e olhando o segurança fixamente. (não havia nada que mostrasse seu nome) Ele não se deixa perturbar um milímetro. Fecha a porta e estufa mais o peito, como se parecesse orgulhoso.

Após ter sido substituído brevemente por um par seu, o segurança que me arremessara a porta retornou. E também foi mudando de script, de conversa, como se ele mesmo não fosse o autor das demais:

"Sempre deixei você entrar, ir ao banheiro. Teve alguma vez que eu te barrei"?

Eu nunca respondia; jamais me dirigiria ao segurança uma vez que ele já me agredira. Estava fora definitivamente. Mas tive de aguentar ainda um leve empurrão dele. E uma eternidade de mau hálito, enquanto ele continuava:

"Vai ter que ser como daquela outra vez, que eu te arrastei para fora da sala de computadores"? (mentira) "Você já se esqueceu, é"?
Queriam, parece, que eu esbravejasse, aí teriam uma razão para me tirarem dali. Mas eu era a mosca morta.

(palavrões)
Ele se apoia na meia parede, como se quisesse tirá-la do lugar.
Repete, várias vezes, toda a sequência: a fantasiosa expulsão da sala de computadores, o deixar de eu fosse ao banheiro, etc.
Por fim irritado, berra:

"Segunda-feira vou ficar de sete da manhã à sete da noite só na entrada para não deixar você passar. E pode reclamar com quem quiser. Que reclame com... o papa"!

Alguém diz "Fala baixo"!

"Chega"! "Basta de encher o saco"!
"Você vem aqui e atrapalha todo o mundo"!
"Diga, com que professor você quer falar"!

O segurança chegou a dar um tom de súplica à sua voz, como "última tentativa":
"por favor, vai. Me ajuda, me livra dessa..."

À certa altura, vi todos eles em roda, cochichando.
Alguém diz que "o professor não vai aprovar" [me tirar a força do local]
Então, um a um, vêm a mim com isto:
"É só ir lá embaixo, em qualquer computador, e mostrar que você fez a inscrição. E pronto. Você volta".

Ouvi essa risível fala de quase todos os acima citados.

Quando faltava pouco para o intervalo, o segurança alterna mais rapidamente palavrões com pedido para que eu "colaborasse".

Á propósito, uma das vezes em que C. me lançou seu chaveco, disparei: "Não vou colaborar para minha própria opressão". C. volta-se surpresa: "O quê"?

Não repeti. Era pior do que grego para eles. Voltei ao silêncio.

O outro segurança
Com ele eu já tivera, em outra ocasião, até uma conversa cheia de simpatia. Colega de mesma empresa do segurança referido acima, esse segundo segurança não ameaçou usar a força, mas disse que chamaria a guarda universitária, após desfiar:

"Sei que você é culta, que é boa pessoa".
"Tá cheio de computador lá embaixo" (mentira). "Apenas mostre que você fez a inscrição"...
Estava claro que ele apenas queria me levar para fora dali. Foi insistente. Mas não disse palavrões e não demonstrou agressividade em nenhum momento.
Disse-lhe que nada de mais aconteceria. Eu apenas falaria com um professor e estava certa de que ele me deixaria entrar.
"Eu sei que você não vai fazer nada... Mas..." E voltou a bater na mesma tecla de antes.

O pelotão da Guarda Universitária

Chegou a hora do intervalo!
Os seguranças se afastam mas ficam me observando cheios de ansiedade.
Cumprimento o diretor da FIA, que, sempre sorridente, logo estendeu sua mão ao me ver. Já tinha se formado uma pequena roda. Como relatei na postagem anterior sobre isso, ele logo disse: "Sinta-se em casa". E me convidou para me serviu do lanche, com ele.
Disse-lhe que antes colocaria minhas coisas no auditório.
Ali, sou novamente cercada pelo segurança agressor e aparecem os membros da Guarda. Uma quantidade impressionante, que incluía o chefe. Este não tentou nada de patético, já me conhecia. Perguntou em que unidade da USP eu tinha feito o doutorado, e fez alusão a ocorrências em que eu, eu tinha pedido a ajuda deles, diante de abusos perpetrados por outros 'uspianos'. Sabia o quão íntegra e inteligente eu era. Então, não perdeu tempo:

"Ficou decidido que você vai poder ficar, sem causar nenhum incidente", disse em tom burocrático. Pediu meu número USP e nome completo, e foi embora, liderando seu pelotão, em tamanho que jamais vira reunido em outras ocasiões.

O que disseram aqueles que me molestaram, para que tantos da Guarda se mobilizassem? E isso porque "não queriam me expor".

Conclusões

Foi algo para jamais ser esquecido, especialmente porque permite uma constatação das mais importantes em relação a comportamento desumano, o mais comum.
O agora tão propalado "contágio" parece valer de um lado, mas não de outro. Ou seja, trabalhar na FIA, ou dentro de uma universidade "de ponta", não parece exercer influência positiva alguma.

Constatamos ainda que, em conformidade com a descrição, de Adorno, da personalidade autoritária, é imediata a alegação de que "sigo ordens" e "há regras". E até se chamou todo o deplorável ocorrido de "trabalho": "Estamos trabalhando" (você não).

Sobretudo, foi unânime a falta de coerência no discurso - houve o dito e o desmentido, conforme se "atirava" para "todo lado". Que importa? Há um "trabalho" e dar conta dele - seja como for - é o que vale. Mas primeiro se recorreu à truculência, à agressão, aos palavrões. Só depois, deu-se vez às exortadas "habilidades interpessoais". Não seria tarde demais? Nenhum dos envolvidos pareceu considerar essa questão relevante.

Bastou ter um segurança se mostrar "do lado mais interessante" - o da baixaria -, para todos os outros antes mencionados também se sentirem "no direito" de expulsar, aviltar, acusar, desdenhar, enfim, tudo o que foi acima detalhado, em todo a seu "aparente" absurdo. Para a sordidez, ficou demonstrado, o "contágio" parece funcionar muito bem.

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Hoje, terça, nova ordem da portaria, com a participação de um segurança terceirizado, chegou à recepção de um evento para o qual eu já estava inscrita, tendo recebido - até estranhei - duas confirmações, a segundo dizendo que "teriam muito prazer em ter a mim". Assinado: FIA.

A recepcionista me barrou: "Evento fechado".
"Este nome, sou eu".
Mecanicamente, repete: "Evento fechado".
Apareceu a pessoa que me enviara os dois emails. Se afastou para ligar. Fizeram roda. Cochichos na minha frente. Por fim, a recepcionista, rispidamente, comanda: "Assina a lista"!

O mais patético foi que, momentos antes, estando eu no espaço da cafeteria, no térreo do prédio da FEA, noto que um dos seguranças terceirizados surge, o que não é comum. Logo retorna, mas não tem sequer o elementar cuidado de evitar que eu ouvisse seu berro: "Tá aqui sim"!
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