Sunday, April 10, 2011

Rio's School Tragedy - O que houve de fato na escola em REALENGO, Rio de Janeiro?

Every analyst heard about the series of murders committed by a 23-year-old man took for granted that the killer - never called so, neither "murderer" but just a "shooter" - was a virgin. Here I argue that, very likely, he had just lost his virginity. And could not face that, what the very beginning of his letter can support, as he despises "fuckers" and "adulterers".

Queremos mesmo
entender? Não, entender não é o objetivo da grande maioria. Há, sim, o elogio ao horror, porque, a meu ver, isso nos torna melhores diante "daquele monstro". São poucos os que têm uma mente analítica; e numerosos como num formigueiro os que, mal resolvidos, vivem com a premente necessidade de atacar - de um jeito ou de outro - o primeiro que puder ser sua vítima.

Estudei o comportamento humano a vida inteira. Para valer. Embora não tenha diploma específico, sou reconhecida como "psicóloga" ou "filósofa". Essa bagagem me leva a discordar, em grande parte, das análises que foram publicadas, nos principais jornais de São Paulo, sobre o "atirador". Notaram? Ningúem o chamou de assassino.

Por que a mídia está propondo tal distinção, tal classificação que não remete diretamente a crime? Atirar não é crime. Essa questão não vi em nenhuma análise publicada. Não temos mais um assassino - o que não vende. Temos algo diferente, aliás, o primeiro caso nacional. Merece, parecem ecoar os jornais, um título distinto. Sem criatividade; "atirador". Ou será simplesmente porque uma jornalista falou de games, de um "School Shooter"? Shooter, atirador.

José de Souza Martins, o emérito da USP que dá sempre seu parecer, com destaque, no Estadão (O Estado de S.Paulo), puxou o fio pela ótica do sacrifício: o "atirador" mirou garotas em grande maioria, por serem as peças melhores para um sacrifício que conduziria o assassino "ao Eterno". E o faria perdoado, elegível para voltar a viver, ou "despertar do sono" dos mortos. Mortos eternos... Bem, a confusão é típica da religião que seguem zilhões. Sabe, Martins, duvido que o assassino tenha visto o script dele de forma tão intelectualizada, à semelhança do assassino do livro de Dan Brown, em O Símbolo Perdido.

O texto de Martins revela sua familiaridade com tópicos religiosos, não um real esforço de se colocar nos calçados do assassino. Renato Mezan, o professor da PUC-SP e psicanalista, faz melhor, em seu ensaio publicado no mesmo jornal, na mesma página do de Martins. Frisa que tudo o que ele ali escreve não passa de conjeturas. São boas conjeturas. Ele adentra o labirinto da mente do assassino pelo fator Complexo de Édipo. Uma conjetura robustamente argumentada. Repousa muito em sexo, pouco ou nada em religião. Justamente o oposto verificado no texto de Martins.

Ressalto a argutez de Mezan em apontar que o "perdão pelo que eu fiz" não seria pelo assassinato múltiplo. Concordo com isso. Mezan, contudo, diz que, possivelmente, esse pedido de perdão se refere a culpa em relação ao desejo sexual do assassino pela mãe adotiva. Eu não acho essa a hipótese mais plausível. "Fiz" não combina com desejos reprimidos. Teria ele se masturbado e ligado isso ao tal desejo pela mãe? Talvez. Mas não temos nisso a melhor conjetura.

O assassino frisa a sua virgindade. Os analistas citados tomaram isso como factual, como declaração inquestionável de que o assassino era mesmo virgem. Isso, adicionado a outros trechos da carta-testamento, leva-me a deduzir que ele, muito provavelmente, "pecou contra sua castidade", e "perdeu", um tanto recentemente, sua virgindade, o que lhe causou tanto transtorno que, antes de qualquer outro ponto na carta, demanda que fornicadores e adúlteros não o toquem... uma vez morto.

Ninguém se lembrou da passagem dos evangelhos: "Se teu olho te leva a pecar"... fim a ele? Extirpar o próprio pênis... o atirador não teve "coragem" para tanto. Todo homem que tem ideia tão primitiva sobre a castidade, em alguns incultida em enquanto seminaristas na igreja católica - para, logicamente, falar da instituição que conheço - não "bate bem".

Conheci um padre que, aos quarenta anos, era virgem. Ele enrubescia por nada, feito criança de antigamente. Isso cativou meu instinto maternal; passei a observá-lo atentamente. Jamais vou esquecer, entre tantas passagens igualmente marcantes, o sermão em que ele, trantornado, esbravejou: "Maria, a mãe de Jesus, permaneceu toda íntegra, toda pura". Ele conseguira um dos volumes de um livro que eu acabara de escrever e editar. Num dos capítulos, comento a história, desencontrada, segundo o evangelista "Mateus", sobre Maria não ter tido relações sexuais com José, já seu esposo...

Meu padre, atormentado por tantos "ensinamentos" sobre sexo, também me acusou de "levar uma vida de pecado", em outro sermão. Com base em quê? Em outra passagem do meu livro, tão leve que pode ser lida por uma criança. A personagem - que muitos juram, precipitadamente, ser eu mesma - está acampada com um homem. Num diálogo leve, sobre as filhas daquela mulher, o homem diz: "Não faça isso... Quero acordar cedo amanhã". Isso bastou para a acusação irada do sacerdote: "vida de pecado".

A falta de treinamento intelectual na maioria da população - um padre, aqui paradoxalmente, é tido como alguém que estuda demais - leva até a se tomar como autobiográfico o que não é. Em nenhum ponto do livro em digo que ele é, total ou parcialmente, autobiográfico. E tal rudeza intelectual leva à outra - a concepções imbecis e doentias sobre relações entre homens e mulheres, para não polemizar e citar outras relações afetivas. Justamente tal repressão conduz a vulnerabilidade maior. Logo meu padre não enrubescia mais. Um pouco mais de tempo, e ele não escondia que era gay. E seu ódio a mim tornou-se insuperável.

O atirador, é certo, mirou meninas. Segundo uma manchete, ele teria dito a um garoto: "Gordinho, não tenha medo, não vou matar você" (ou algo assim, cito de memória). Religião, sem dúvida, entra na história; mas não apenas no que tange a sacrifícios de purificação; não no que matar expia pecados, mas no ódio do assassino em relação ao sexo oposto, e sua obsessão pela castidade, que jamais deveria ser imposta - ou mesmo sugerida - a ninguém, homem ou mulher. Só gera transtornos, jamais salvação alguma.

Homem que não cresce, não sai da "barra da mãe". Mas me parece exagerada a pauta do complexo de édipo, a ponto de isso ter produzido tamanha angústia que só uma explosão de tal magnitude "resolveria". Mente pouco desenvolvida, moral idem.

Como o assassino teria perdido sua virgindade? Provavelmente, com uma desconhecida, alguém cujo assassinato não teria um encadeamento com o histórico infeliz do rapaz reprimido, cristão (jamais se usou esse termo na mídia...) que aprendera tudo na escola - até como o mundo é estigmatizador. Mas não aprendera a pensar, a questionar sua igreja, sua religião, e como tal fé influencia sua vida e toda a sociedade. Pois.

E, para adicionar drama à tragédia, nosso tão popular Lula - bem esquisito, a meu ver - assinou concordata com o papa. Ensino católico nas escolas. Bolsa família de montão - basta... manter os filhos nas escolas! Pena. Tanta tinta nos jornais e revistas, a competir com a quantidade de sangue na escola. Mas o que precisa ser reconhecido e debatido não emerge.

Como meu padre, o assassino temia aos mulheres, a "ligação direta com o pecado". Não teria ele também cedido a um homem? Ceder a homens não aplacou o ódio de meu padre a mim, sim, que fui objeto de seu desejo. Ao contrário, tal ódio aumentou. Pelo simples fato de ser mulher, bonita, mesma idade, que "instiga o pecado". Ritos de sacrifício sofisticados, aventa Martins. Complexo freudiano, esmiuça Mezan. Mas o "pensamento" religioso de um jovem homem, de sua classe, é "mais em baixo", e seus conflitos sexuais não se lembram do amor à mãe quando mais seria necessário.

Mãe, até pode se ter duas, com uma diferença entre elas que pode não ser relevante na prática. Mas virgindade só se tem mesmo uma. Desarmamento? Muito bem criticou um repórter cujo nome não memorizei. A culpa não é das armas. Religião nas escolas? Aí sim. temos implicações nesse caso. Contudo, o Estado não pode interferir nas famílias. Mas a escola pode - e deveria - salvar-nos do preconceito plantado na família. Uma pessoa por si só também pode se salvar, pode procurar por si livros que façam o papel que a escola não faz. Mas não é para a cabeça da maioria. A maioria não nasce intelectual. Cabe à escola desenvolver em cada um, ao máximo, a capacidade analítica, o tudo questionar. Religião - catolicismo, sejamos claros - na escola, é pecado Mortal.
Mariangela Pedro 10 de abril de 2011

REFERÊNCIAS
O texto de José de S. Martins, "Entre ovelhas e bodes", foi publicado hoje no Estadão; pode ser lido aqui: http://www.ogalileo.com.br/noticias/nacional/entre-ovelhas-e-bodes-jase-de-souza-martins.

O ensaio de Renato Mezan, "O mal secreto", também publicado hoje no Estadão, tem a versão eletrônica aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,o-mal-secreto,704296,0.htm

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