Sunday, August 22, 2010

LETRAS EM BRASA da semana - Badiou, Dimenstein, Speck

Pensamentos que encontrei pesquisando - em tudo quanto é lugar. Os comentários e traduções são meus:

Evil is the moment when I lack the strength to be true to the Good that compels me.
[O mal é o momento em que me falta a força para ser fiel ao Bom que me impele.]
Alain Badiou
 
Comentário: O magnífico neste pensamento do filósofo francês não é a "falta de força", mas o tomar o mal como um momento. Ele enfatiza isso ao dizer que é o Bom que o move como o natural, como a essência. Isso equivale ao que eu mesma prego: O mal é um trair a si mesmo. O catolicismo - a doutrina da Igreja Católica - inverte esse princípio, ou seja, nela a essência da pessoa é pecadora, é corrompida, e bons são os momentos que "se comunga com Deus". Deus não é só "momentos felizes", ideia que equivale a um tiro no coração da Lógica, do Logos, de tudo o que você conseguir conceber de Bom.
Que Deus e Bom têm a mesma raiz, na etimologia, eu disse no sermão que dei, em janeiro de 2002, naquela minha perdida paróquia: em inglês, é patente a semelhança das palavras Deus e Bom, God e Good, respectivamente.
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Um dos traços marcantes desta eleição é Lula apresentar-se como pai e Dilma como mãe, na lógica do acolhimento familiar. Os eleitores, vistos como filhos, são infantilizados... Trazer a lógica familiar para a política signifa calocar a criança recebendo a proteção de um pai em vez de um governante atendendo a um cidadão que paga imposto.
Gilberto Dimenstein, hoje, na Folha em "Papai Lula, mamãe Dilma, titio Serra"
 
Comentário: Lula, ao gratificar os filhos com Bolsas na exata medida em que estes o sustentam no poder, o elevam ao ápice de popularidade banal, não é apenas o pai familiar autoritário - ora mais, ora menos difarçado: ele é o clone da autoridade máxima da Igreja Católica. Vou escrever para Dimenstein dizendo que ele teria sido mais preciso ainda se tivesse grafado: "Papa Lula, ministra de pão Dilma".
Serra já está fora; poderia ter ficado de fora.
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It's a paradox. Essence is not purity, essence here [in Brazil] is the mix. Interesting.
[É um paradoxo. A essência não é pureza; a essência aqui é a mistura. Interessante.]
Oliver C. Speck, in a lecture at Livraria da Vila, São Paulo, yesterday
 
Comentário: Esse professor mal conhece este pás. Está sendo muito bem tratado em sua primeira estada, que logo termina. Já entende "um pouco de português", mas ainda há muito para ele descobrir, além desse paradoxo da citação, não é? Assim, por ora Speck mostrou-se encantado; pediu contribuição de seus ouvintes para ajudá-lo em seu livro em andamento; mais precisamente, pediu indicações de filmes nacionais que remetam à questão da "identidade". Depois de uma noite rara, a mais encantada era eu. Cercado de um grupo que incluía outros ouvintes bem mais ilustres do que eu, Speck foi o centro de um jantar muito cult, mas muito light. Isso graças a ele, que talvez ainda não saiba isto: ele é de uma ternura absolutamente tocante para os sensíveis de certo modo; sensíveis à vida, às artes, como ele mesmo.
Speck encerra o que considero talvez o maior paradoxo: a fusão da ternura com a filosofia. Quase não conversamos, ele ainda não sabe que eu também escrevo sobre filosofia do cinema aqui neste blog. E ele  precisa melhorar seu português para ler meus ensaios.
Sim, leitor, para conversar com Speck é preciso falar inglês. Mas eu também receio - sim, receio - que logo o português será mais demandado do que o chinês ou o espanhol. O que, além de um paradoxo por implicar nossa projeção internacional sem méritos consistentes, não significa coisa boa para o mundo.
 
Está bom para esta semana. Até.

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