A entrevista com Olga Savary, publicada na revista Marie Claire deste mês, não revela que ela tinha apenas 22 ou 23 anos, ao passo que Drummond ... já contava 53. Trinta anos de diferença. Amor? Drummond berrou que "era sim", a matéria declara.
Olga, a primeira mulher a publicar um livro de poemas eróticos no Brasil, conta que o consagrado poeta a chamava de Olenka, diminutivo de Olga em russo, e que ele e Jaguar (um dos fundadores do Pasquim e seu marido) não suportavam um ao outro, insinuando que tinham ciúmes. Olga, apesar de criadora de uma coluna muito popular no periódico, não aparece na história do Pasquim, porque, naquela época, mulher "não tinha vez, voz, libido".
A leitura dessa entrevista gerou em mim grande identificação com essa escritora, com vinte livros e mais de quarenta prêmios, também porque, no mundo da literatura underground, venho recebendo enfáticos elogios por meu conto erótico, que estou disseminando "discretamente" há meses.
Obtive de outro site que não o da revista o poema de Drummond (1955) inspirado em Olga, nunca antes publicado. Não consegui recuperar, do site da própria revista, o poema. Ei-lo:
Miragem
Chegou, impressentida e silenciosa,
Com uma saudade eslava nos cabelos
E um ritmo de crepúsculo ou de rosa.
Os olhos eram suaves e eis que ao vê-los,
Outra paisagem, fluída, na distância,
Sugeria doçuras e desvelos.
No coração, agora já sem ânsia,
paira a serenidade comovida
que lembra os puros cânticos da infância.
Logo depois se foi, mas refletida
nesse espelho interior, onde as imagens
se libertam do tempo, além da vida,
Olenka permanece, entre miragens.
Carlos Drummond de Andrade, 1955