Wednesday, June 30, 2010

Reflexões descoladas de aniversário


Este meu aniversário foi muito favorecido pelo tempo magnífico, a lua plenamente cheia, o dia da semana (sexta).

Como leva tempo aprender a viver! Como esse aprendizado se confunde com a própria felicidade!
Então, pensei, que bom! aprendi a viver.
Caminhava serena e o velho jardineiro, trabalhando em frente à mansão nos Jardins, me cumprimenta: Boa tarde, moça (sim, moça). Retribuí.
Passeando? Não respondi.

Como é bom ser admirida pela beleza e jovialidade, a esta altura.
Melhor ainda é ter definitivamente deixado para trás o medo,
o vazio e a vaidade.
Gostar de ser admirada não é vaidade. Vaidade é não tolerar ser confrontado jamais. É tapar buracos existenciais com "ativos podres", termos em voga por causa de crises que cada vez têm menos pé ou cabeça e, justamente por isso, geram tantos seminários enganadores, tantas análises ainda mais enganadoras.

Aprendi a deixar a vida me levar.
Agradeci pelo esquecimento, que levou consigo a dor do desencanto, e a saudade de alguém que não soube me amar.
Festejei a sabedoria que também destrói as moléculas de tristeza por se ver a perdição de tantos, alguns tão próximos.

Aprendi que apontar os abusos da fé, especialmente da fé cristã, é gol contra. Quanto mais você falar de toda a poluição planetária da Igreja Católica, mais o católico se afundará na sua "fé", ainda mais convencido de que faz a coisa certa, justamente porque alguém, segundo ele, está querendo "acabar com a Igreja de Cristo", a melhor, a verdadeira. O caminho da salvação dele.

A senhora pelo menos acredita em Deus? E na salvação?
Que salvação, cara? Salvação de quê?
Ele, evangélico, não responde.
Você parece uma boneca que eu tive, a Tagarela. Havia um cordão aqui atrás no pescoço; você puxava e ela sempre falava a mesma sequência de coisas. Sai dessa cara!
O evangélico era inteligente. Por isso, não foi agressivo. Mas, ao cabo de nosso longo papo, estava perturbadíssimo e reconheceu isso.
Espero que ele tenha conseguido superar o efeito de largar a droga - que é similar ao efeito de descobrir a verdade. Que tenha conseguido o controle de si, colocando os músculos do cérebro para funcionar a toda.

O que parei de fazer, e antes fazia por inércia, por fraqueza, por medo?
Rezar. Ninguém diria hoje que eu rezo.
Chorar. Às vezes sinto saudade disso até. Verti duas lágrimas quando assisti ao O Pianista, pela primeira vez, no início do mês.
Trepar. Esqueci o que é isso.
Deixei de amar? Ninguém diria que amo. E como amo.
Devo tolerar? Não, tolerar é desistir.
Compaixão? Aí, sim.

O que ainda quero mudar? Não quero mais deixar escapar "Nossa mãe!". "Jesus Cristo!" já está quase sepultado de vez.
E não quero mais esperar algo das pessoas. Esperar, como acabei de fazer em relação ao evangélico, que alguém faça ou consiga algo positivo. O negativo vence quase sempre.

Sei que é ótimo estar ainda mais irônica em relação a religiões, embora ísso tenha chamado minha própria atenção - como posso ser assim tão... incrédula? Isso é resultado do choque de mais sabedoria e lucidez com mais ignorância e destruição.

Finalmente aprendi que...
Não importa o tamanho de deus, a estatística dos que creem, o número de séculos de tradição,
ou a verocidade da suposta perseguição (outro engodo).
Importa que deus está ainda mais próximo, quando tudo que é do mundo se desmancha.
Estatísticas, tradição, manipulação - é isso que digo serem coisas do mundo.

Tive vontade de ligar para alguém próximo que não conheço e dizer: Não tenho medo da morte. Sinto apreensão em relação a morrer. Ao trânsito entre vida e morte.
Mas o aniversário foi justamente o contrário - foi como um pedaço de morte que passou a viver. Um tempo que passa a ser sentido como palpável, mais largo, mais certo. Sem a preocupação sobre o que fazer com esse tempo. O tempo basta. É tudo.

Quero, nesse sentido, aprender a fazer aniversário todos os dias, talvez até duas vezes ao dia.

Se amar é a mágica de evacuar a alma com o ímpeto com que a máquina de lavar livra-se da água, fazer aniversário é a mágica de encher a alma de tempo puro, com o mesmo ímpeto.

Quero, enfim, aprender a me lembrar, a cada dia, talvez a cada hora, que existem a alma, o tempo puro e ambos sempre estão à espera do ímpeto.
Assim, não mais me lembrarei da felicidade. Talvez sequer celebre os aniversários. Simplesmente estarei como devo estar, e onde devo estar. Todas as horas.

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