Wednesday, March 24, 2010

FOLHA E A MENINA NO PINEL

Ler a enorme reportagem de domingo, publicada na Folha, sobre a menina internada há mais de quatro anos no Pinel, nesta cidade de São Paulo, me deixou chorosa toda a manhã. Mas isso não me impediu de perguntar: por que toda essa espalhafatosa reportagem só agora? Claramente, todos os implicados procuravam se inocentar. Algo deve ter acontecido para isso tudo vir à tona agora, depois de mais de quatro anos. Quatro anos.

E hoje obtive a resposta, para minha revolta em relação ao jornal também: hoje a Folha, com chamada sobre o assunto na primeira página, fala que a menina foi estuprada por um segurança terceirizado.

Ah!

Por que não falaram do estupro no domingo mesmo? Sim, ele já tinha ocorrido.
Simplesmente infame! A Folha vendeu a defesa prévia de todos os envolvidos no caso: o Pinel, o juiz, enfim, o Estado.

Eis a mensagem que enviei em 25.03, ao ombudsman da Folha:

Sr. Ombudsman,

Além do choque provocado pela reportagem sobre a menina do Pinel, por certo calculadamente publicada justamente num domingo (21.03), despontou a pergunta quanto ao porquê de tudo aquilo emergir então, após mais de quatro anos da internação. Claro, pensei, algo há por trás.

Não passaria muito para que minha indagação tivesse resposta. Horror acima de horror, a menina foi estuprada no mês passado. Ah! Então, antes de se ter de reportar isso, fez-se o estardalhaço de domingo, quando Pinel, juiz, abrigos e outros órgãos governamentais tiveram o espaço desse jornal para "tirar o deles da reta". Ah! Então, omitiu-se o estupro. Ah! E, coroando o "ninguém [além da família] tem culpa", a manchete: a menina fora 'esquecida' no manicômio. Só quem lesse tudo aquilo saberia que esquecida não era o caso, absolutamente.

A "desestruturação familiar" estende-se por mais que a primeira metade do principal artigo, na qual omitem-se datas, e logo no início se proclama o diagnóstico do Pinel - não era motivo de internação. Citam-se, na segunda metade da matéria, relatórios do Pinel. Mas que trâmite tiveram eles, além da burocracia interna?  Tudo indica que saíram da impressora para o arquivo.

A culpa do Estado é bem maior do que o estardalhaço do tirar-o-corpo-fora geral que tomou o enorme espaço desse jornal numa edição de domingo. Culpa que, com o último, ficou ainda mais intolerável.

E a Folha encolheu. Encolheu em credibilidade, em honra, em senso de missão. Encolheu tanto que ora me parece não merecer sequer ser folheada.
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Se obtiver mais como resposta do que o padrão "sua mensagem foi encaminhada", volto aqui para informar vocês.

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