- Peter, a Bíblia e os Antigos Mistérios são opostos completos. Os mistérios falam do deus dentro de nós... do homem como deus. A Bíblia fala do Deus acima de nós... e nela o homem é um pecador impotente.
- Isso! Exatamente! Você tocou no xis da questão! No instante em que a humanidade se separou de Deus, o verdadeiro significado da Palavra se perdeu. As vozes dos antigos mestres foram engolidas pela ladainha caótica daqueles que se antoproclamam escolhidos e gritam serem os únicos a compreender a Palavra... que está escrita na sua língua e em nenhuma outra.
Quem são esses que se dizem "escolhidos", cuja ladainha engoliu as vozes dos antigos mestres? Está claro que são os clérigos à frente da Igreja Católica. Dan Brown, em O Símbolo Perdido, "fala mal" da Igreja mais do que nos dois outros livros juntos. Mas... como não há um protagonista membro da Igreja (há um personagem secundário apenas, o reverendo Galloway), nem alguém da linhagem de Jesus, os comentaristas mais bem pagos afirmam que o foco agora não é a Igreja Católica, mas a maçonaria.
Um desses comentaristas é Luiz Carlos Merten, cuja resenha sobre o livro mais recente de Brown, publicada no Estadão, caderno 2, em 4 de janeiro, p D7, afirma categoricamente: "Desta vez não é a Igreja que está em discussão, mas a maçonaria".
Superinteressante e outras publicações exploram tópicos sobre a maçonaria, reforçando o "mito" em torno do tema do livro. A Igreja, desta vez, esteve caladinha, mas não porque ela não entra em discussão - a citação acima já atesta que ela entra em discussão, sim - mas justamente para não trazer à tona ataques tão contundentes.
Esta é uma magnífica ilustração de como se manipula um livro publicado, megavendido, redigido como romance - e não em formato enfadonho de tese. Apesar de todos os elementos para atingir um enorme número de pessoas, a mensagem que fica para a massa é outra!
Precisamente o mesmo se dá - há séculos - com o Novo Testamento: todos leem através dos comentários dos padres, dos pastores, da catequese... Mesmo que pensem que eles mesmo leem, não são de fato capazes de interpretar texto algum mais elaborado do que uma lista de compras e, na verdade, projetam na leitura o que ouviram de outros.Tem-se uma leitura emocional, que a pessoa pode tomar até como inspirada, como uma "descoberta pessoal". O certo é que jamais descobrem a distância abissal entre o que é o Novo Testamento e o que se diz sobre ele. Jamais conhecem, de fato, o Novo Testamento.
Então, facilmente deduz-se que a ambição de se obter o poder máximo levou ao cúmulo de sacrificar o Filho de Deus, certamente o maior sacrifício de todos...
Todas essas ideias estão nas citações do livro, que apresento adiante.
Se Anjos e Demônios no cinema já foi uma vergonhosa rendição às pressões da Igreja Católica para amenizar o livro, o mesmo deve se dar com a versão de O Símbolo Perdido para o telão. Então, podemos dar bye-bye definitivo ao que de mais importante O Símbolo Perdido traz: quase ninguém vai sequer depreender o que é o "símbolo perdido" do título.
No livro, a Igreja Católica está associada - muito negativamente - à tese do autor sobre a perda do tal símbolo que, diante de tudo isto, estou certa de que se perdeu para sempre!
Tente ler os trechos abaixo. Com estão em destaque, você consegue "achá-los", em vez de deixá-los passar batido durante a leitura do livro. Talvez assim você possa vir, por fim, a comprovar que O Símbolo Perdido, como obra literária, se perdeu, ele mesmo, no calculado jogo da mídia afinada com os interesses da Igreja Católica.
MAIS CITAÇÕES DE O SÍMBOLO PERDIDO
Capítulo 49
p. 199:
... a maioria dos cristãos quer o melhor dos dois mundos. Eles querem poder declarar orgulhosamente que creem na Bíblia, mas simplesmente preferem ignorar as partes que consideram difíceis ou inconvenientes demais para acreditar.
p. 201:
A linguagem pode ser muito boa para esconder a verdade.
Capítulo 81
p. 297-298:
[O anjo do mal - encarnado no filho de Peter, Mal'akh (que quer dizer exatamente anjo do mal) - celebra... uma "arte obscura"... que é tal qual a EUCARISTIA.]
A arte obscura praticada por Mal'akh já fora conhecida por muitos nomes em muitas línguas... Aquele saber primitivo outrora detinha a chave dos portais do poder, mas fora banido havia tempos...
Segurando a tigela com as duas mãos, Mal'akh a ergueu acima da cabeça e agradeceu, entoando o antigo eukharistos de sangue. Então, despejou cuidadosamente a mistura... dentro de um frasco de vidro...Capítulo 85
p. 313:
[o significado da Cruz também mudou drasticamente:]
A cruz só virou símbolo cristão no século IV. Muito antes disso, era usada pelos egípcios para representar a interseção de duas dimensões: a humana e a celeste. Assim em cima, como embaixo.
Capítulo 87
p 319:
[em descrição psicológica do reverendo Galloway]
Galloway estava cansado. Tinha passado a vida inteira tentando se fazer escutar acima do alarido da ignorância. Desde as Cruzadas até a política norte-americana, passando pela Inquisição, o nome de Jesus vinha sendo usado em vão em todo tipo de disputa de poder. Os ignorantes sempre haviam gritado mais alto, convocando as massas incautas e forçando-as a fazer o que mandavam. Defendiam seus interesses mundanos citando Escrituras que não compreendiam. Celebravam sua intolerância como prova de suas convicções. Agora, depois de tantos anos, a humanidade finalmente conseguira erodir por completo tudo aquilo que Jesus outrora tinha de belo.
p. 320:
[trechos dos Manifestos da Rosa-Cruz:]
capítulo sete: Antes do fim do mundo, Deus criará um grande dilúvio de luz espiritual para aliviar o sofrimento da humanidade.
capítulo oito: Antes que essa revelação seja possível, o mundo deve dormir para curar a embriaguez de seu cálice envenenado, cheio da vida falsa das vinhas da teologia.
Dan Brown retoma o tema do sacrifício de sangue:
Capítulo 96
p. 349-350:
As forças das Trevas adotavam o sacrifício de sangue havia muito tempo e, com isso, tinham se tornado tão poderosas que o bem agora lutava para mantê-las sobre controle. Em breve a Luz seria consumida por completo e a escuridão se espalharia sem obstáculos pela mente dos homens.
[sobre a Arte Mística (Egito) e a Santa Comunhão da Igreja Católica:]
... com a aplicação adequada da Arte [mística], o praticante poderia abrir um portal para o reino espiritual. As forças invisíveis existentes ali... podiam assumir muitas formas, tanto boas quanto más... Quando corretamente invocadas, as forças invisíveis podiam ser convencidas a cumprir os desejos do praticante... imbuindo-o assim de um poder aparentemente sobrenatural. Em troca dessa ajuda, as forças exigiam oferendas; orações e louvor no caso das forças da Luz, e derramamento de sangue no caso das forças das Trevas.
Quanto maior o sacrifício, maior o poder transferido [para o praticante do sacrifício]. Mal'akh havia começado sua prática com o sangue de animais. Com o tempo, no entanto, seus sacrifícios tinham ficado mais ousados... No Antigo Egito, os grandes adeptos tinham aperfeiçoado a Arte, evoluindo para além das massas e se tornando verdadeiros praticantes de Luz... com o tempo alguns corromperam a Arte, pervertendo-a e abusando de seus poderes em proveito próprio. Essas pessoas começaram a invocar forças obscuras. Uma Arte diferente se desenvolveu...
Ecos da antiga Arte ainda ressoavam em todos os cantos do globo terrestre, desde os místicos cabalistas do judaísmo até os sufis esotéricos do Islã. Seus vestígios perduravam nos misteriosos rituais do cristianismo, em seus ritos da Santa Comunhão, em que Deus era devorado... nas vestes consagradas e na promessa de vida eterna... Os cristãos ainda praticavam o ofício sobrenatural do exorcismo - prática primitiva de sua fé que exigia a capacidade não apenas de expulsar demônios, mas também de invocá-los.
E mesmo assim eles [os católicos e outros cristãos] não conseguem ver seu passado...
...Adornando seus altares, vestimentas, campanários e Escrituras, havia a imagem singular da cristandade - a de um ser humano precioso e sacrificado. Mais do que qualquer outra fé, o cristianismo compreendeu o poder [para o mal] transferido do sacrifício...
Em nenhum outro lugar o passado místico da Igreja [é] mais evidente do que em seu epicentro. Na cidade do Vaticano, no coração da Praça de São Pedro, ergue-se um imenso obelisco egípcio... Um marco de pedra gritando para ser ouvido. Um lembrete para aqueles poucos sábios que recordavam onde tudo havia começado. Aquela Igreja, nascida do ventre dos Antigos Mistérios, ainda ostenta seus ritos e símbolos.
Capítulo 102
p 365:
Todos os ensinamentos místicos ao longo da história haviam tentado transmitir essa mesma ideia. O segredo se esconde dentro. Apesar disso, a humanidade continuava a procurar no céu a face de Deus.
Capítulo 96
p. 347:
O canal [de TV] agora exibia um programa evangélico, no qual um pastor conduzia sua congregação em um pai-nosso coletivo. Mal'akh se perguntou se algum dos telespectadores hipnotizados fazia ideia da origem da oração.
"... Assim na Terra como no céu...", entoou o grupo.
Sim, pensou Mal'akh. Assim em cima como embaixo.
"E não nos deixeis cair em tentação..."
Ajudai-nos a dominar a fraqueza de nossa carne.
"Livrai-nos do mal...", imploraram todos.
Mal'akh sorriu. Essa parte talvez seja difícil. A escuridão está aumentando. Ainda assim, ele tinha de respeitá-los por tentarem...
... a congregação declarou: "Amém"!
Amon, corrigiu ele. O Egito é o berço da religião de vocês. O deus Amon foi o protótipo de Zeus... de Júpiter e de todas as faces modernas de Deus. Até hoje, todas as religiões da Terra exclamavam uma variação de seu nome. Amém! Amin! Aum!
]A origem da "idade de Cristo" - 33 anos:]
Capítulo 89p. 324
Na época de Pitágoras, seis séculos antes de Cristo, a tradição de numerologia alardeava o 33 como o mais elevado de todos os Números Místicos. Ele era o mais sagrado, o que simbolizava a Verdade Divina. A tradição perdurou entre os maçons... e em outras instituições. Não é à toa que os ensinamentos cristãos dizem que Jesus foi crucificado aos 33 anos, apesar de não haver nenhum indício histórico disso. Tampouco é conincidência o fato de José supostamente ter 33 anos ao se casar com a Virgem Maria, ou de Jesus ter operado 33 milagres... No islamisno, todos os habitantes do paraíso têm eternamente 33 anos.
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