Mais uma história trago para vocês, do tipo contado-ninguém-acredita. Mas vou contar, sim.
Ontem visitei a Saraiva no Itaim Bibi. E vi uma das vendedoras recolocando, na prateleira, livros de cabeça para baixo (de ponta-cabeça, como dizem os paulistanos).
-Você é canhota... - balbuciei.
- Não! - ela rebateu com impaciência. - Segundo a Academia Brasileira, todos os títulos de livros devem estar virados assim!
- Academia brasileira? Mas estes são livros importados! - respondi.
- Eu viro tudo; ponho tudo deste jeito - ela retruca ainda brutamente.
Comecei a rir. E o que há melhor para se fazer diante disso?
-Depois da ventania... essa foi a segunda do dia! - ironizei.
Ela, como um soldado, virava todos os livros de cabeça para baixo.
Conheço a gerente (ou uma das gerentes) da loja há tempos. Desde que ela trabalhava em outra loja. Quando não havia mais ninguém perto de nós, toquei no assunto:
- Uma das vendedoras deve ter ficado brava...
Ela me interrompeu, mostrando já estar ciente do que acontecera.
- Sabe, o Tarcisinho, filho do...pois é. Ele um dia veio aqui e disse que era bibliotecário. Não... Bibliotecário, não... Qual é aquela outra...
- Biblioteconomista - interferi.
- Isto! Ele disse que era um absurdo uns livros estarem com o título virado para um lado, e outros com o título virado para o outro lado. Como é que o cliente pode ficar fazendo assim e depois assim (ela move a cabeça para um lado e para o outro)?
A gerente tropeça em si mesma:
- Eu sei que o certo é o símbolo da editora embaixo.
Ela se volta para a estante atrás de si e vê que diversos livros estão com o símbolo da editora... para cima.
- Acho que cerca de noventa por cento dos livros traz o titulo - e portanto o símbolo da editora - na posição contrária ao "determinado pela Academia Brasileira" (que academia era essa? A de Letras? Não creio. Elas deviam estar querendo se referir a outra associação quaquer...)
A gerente insiste:
- Mas foi assim que os clientes pararam de reclamar conosco.
-´Então, por favor, anote a minha reclamação. Pega muito mal você tirar um livro da estante e ele estar de cabeça para baixo. Além disso, após examinar o livro, nenhum cliente - nenhum!- vai virar o livro de cabeça para baixo de novo, antes de recolocá-lo na estante!
Ela desconversa:
- Você não tem ideia do que os clientes fazem com os livros!...
Moral da história absurda: O absurdo vem a galope a partir de uma premissa errada. Sem perceber que a premissa está errada, todos justifi
cam suas decisões como certas, ainda que absurda.
Neste caso, a premissa errada é esta: a suposta norma sobre a posição do título da obra na lombada se aplica a nós, livreiros.
A tal norma, se existe, na verdade vale para a gráfica. Ou, antes, vale para os desenhistas gráficos que estabelecem os elementos da capa do livro. Uma vez que eles, supostamente, infrinjam a tal norma, e o título sai virado para o lado errado, não é a livraria que vai "consertar" isso, colocando o livro de cabeça para baixo!
Você ri? O pessoal da livraria acha que está supercerto!
Pensando mais um pouco, num país classificado em 88o. lugar pela UNESCO, de um total de 128 países, no que tange à educação formal, encontrar livros de cabeça para baixo numa das livrarias de maior visibilidade serve para confirmar tal condição vexatória - e talvez até indicar nossa resignação com ela.
A gerente vai ficar chateada comigo por causa desta postagem. Mas sou fiel ao fatos e ela há de perceber, por fim, que não dá para colocar panos quentes numa coisa dessas!
Much of the discourse all around is power-oriented. Our texts, rather, will be appreciated by those brave enough to leave the good life of obedience in order to grow and take risks for the benefit of a multitude of others. Welcome! PORTUGUÊS acesse "apresentação do blog" abaixo
Monday, January 25, 2010
Saraiva -Livros de cabeça para baixo - "Assim é que os clientes pararam de reclamar com a gente"
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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