Saturday, December 12, 2009

Você vendeu a consciência em troca de afeição?

A Igreja "transforma a impotência de conhecer numa obrigação... de achar que não há nada para ser conhecido". Leia de novo!
O texto é perfeito. Impotência de conhecer, ou seja, impossibilidade de interpretar textos, de ver as coisas de outro ângulo, etc. vira "nada há para ser conhecido" , já que a Igreja impõe a verdade dela. Você, convencido desde cedo de que é sua obrigação aceitar tal verdade, poda a si mesmo até ficar um incapaz intelectualmente.

Essa declaração sobre a Igreja está no texto abaixo:
A miséria da filosofia

Olavo de Carvalho

Playboy novembro de 2006 p. 52-3
[Texto quase integral]

O Brasil optou por uma cultura de ódio ao conhecimento e de amor às futilidades socialmente lindinhas. Aqui ninguém jamais se interessou em compreender a realidade.

Outro dia, meu filho de 17 anos me disse: “Pai, no Brasil nunca vi alguém que acreditasse em alguma coisa por ser verdade. Eles dizem o que querem que aconteça, ou o que acham que é bom pra eles e chamam isso de “verdade”.

É a experiência de um garoto que veio para os Estados Unidos 18 meses atrás. Se tivesse desembarcado no Japão ou em Angola, seria a mesma coisa. Ele tinha descoberto a diferença entre o Brasil e a espécie humana.

Não foi só ele que descobriu... Para isso é preciso muito estudo, muita reflexão. Sobretudo é preciso que tenha despertado na sua alma aquilo mesmo que falta no ambiente: o desejo de conhecer a realidade, de sacudir de si o torpor solipsista e tentar descobrir as coisas como são. O brasileiro a quem isso aconteça vê logo um abismo abrir-se entre ele e os outros... Ele é agora o portador de um segredo, e quanto mais se esforça em revelá-lo, mais parece ocultá-lo sob um manto esotérico. Os profanos se vingam, chamando-o de arrogante e esnobe.

... Então, ele não aguenta mais: vende a consciência em troca de afeição. Está maduro para tornar-se um professor da USP.
...
Não estou falando do “destino do intelectual”. O Brasil está cheio de intelectuais... Eles tanto desprezam o conhecimento que, quando encontram alguém que sabe mais que eles, tratam de isolá-lo para que não cometa o pecado de lhes ensinar alguma coisa.
...
Quando tomamos conhecimento da filosofia, já é de terceira mão, por meio dos seus mais recentes subprodutos universitários. A régua com que medimos nossas miúdas especulações não é a profundidade e seriedade de experiência interior ou exterior... é o critério escolar do dia, é a opinião corrente de burocratas arquivistas da filosofia. Na USP ou na PUC ninguém jamais se interessou em conhecimento da realidade.... - e ainda foram reforçados nesse estado de ignorância homeostática pela autoridade clerical do desconstrucionismo que transforma a impotência de conhecer numa obrigação estatutária de achar que não há nada para ser conhecido...

Não espanta que após alguns anos dessa dieta... caiam para a papagaiada ideológica. Ideológica? Não chegam nem a isso. Doutrinação ideológica supõe algum esforço intelectual, alguma ordenação das idéias. Isso está infinitamente acima da capacidade de um Emir Sader, de uma Marilena Chauí, de um Gilberto Felisberto de Vasconcelos. O que eles fazem é beletrismo publicitário esquerdista, desesperadamente kitsch.

O Brasil optou desde o século 19 por uma cultura de ódio ao conhecimento e de amor às futilidades socialmente lindinhas. Aqui ninguém jamais se intressou em compreender a realidade. Só faltava transformá-la numa força política organizada. Com a ajuda de Antonio Gramsci, a presente geração de intelectuais ativistas fez isso. O mensalão, o dinheiro na cueca e 50 mil homicídios a mais entre louvores entusiásticos à normalidade democrática são a cultura brasiliera trasfigurada em Estado.

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