Gozo novo sem-ti
poema inédito de
MARIANGELA PEDRO
Minha religião sem nome é como
um gozo novo.
Com ela, pude
amar sem receber;
questionar;
crescer.
Por causa de minha religião,
perdi pessoas falsas,
amizades fracas.
Perdi um amor muito promissor.
Não perdi jamais a fé.
Perder a fé: isso é coisa dos que se perdem
perdendo de vista o Caminho.
Ele é o Caminho se tu o trilhas.
Se és batizado, se vás à missa -
não é por essas coisas que é o Caminho.
Tacanha é nossa intuição
e enorme o nosso medo.
Mas, por ti, lutei;
muito lutei para ter tua companhia.
E, por assim ter transpirado mais,
outras respostas colhi.
Já tu fizestes da Precaução
o teu deus.
Tu tomastes como verdade o "garantido",
o caminho em que cedo te vistes,
graças a outros.
Mas a verdade não está no certo;
está no duvidoso.
Sem ti.
Não fostes capaz,
não aguentastes a barra.
Temestes perder o orgulho,
a identidade,
a ilusão.
Sem ti, amor-promissor,
conheci a Deus.
Mas não clamo a felicidade.
Não falarei da graça -
ela vem com uma marca,
a do Espírito Santo;
e marca tem dono.
Tem administrador.
Ouso dizer-te do gozo
que parece de poucos.
Que não se assombra
com a Brevidade.
Gozo que pode elevar-te
à altura de um êxtase indescritível.
Mas é gozo que se acomoda mais
na determinação de um viver
que transpira verdade dia a dia
e inebria-se de gratidão na entrega da noite.
Se te iludes com interpretações que convêm,
atormentastes com a Brevidade.
E em seu domínio, cabe apenas o crer sem pensar,
um capengar cheio de ódio aos "perdidos" -
assim tu chamas os outros.
Esse ódio mal embala
teu persistente Cansaço.
A partir de meu manuscrito de 27 de maio de 2009.