Sunday, November 1, 2009

Caso Uniban - análise muito a desejar

A garota vai de tubinho (vestido um tanto justo e curto), cor pink, à faculdade e isso gera tal tumulto que a PM (polícia) precisa interceder para que ela consiga deixar o local. Tesão reprimido que então extravaza?


Segundo a psicanalista que teceu análise do ocorrido na Folha, ontem, os próprios jovens, em geral, estariam se "castrando", já que os pais e a sociedade não mais o fazem. E na Uniban (universidade em que se deu o caso), ao constatarem a "sexualidade não pasteurizada" daquela jovem, não conseguiram se conter.


A análise me parece tão infeliz quanto o ocorrido. Primeiro, 'pasteurizado' virou jargão de cientistas sociais brasileiros e temos, na análise mencionada, de quase adivinhar o que a psicanalista quer dizer com aquela expressão. Sexo pasteurizado é "beijar sem tesão", na hora, lugar e idade esperados para tal, segundo ela. Assim, deduzo que o tubinho fora de hora e de local, segundo o bando de "juízes" de moda e costumes, tal psicanalista incluída, remete ao "não pasteurizado", que "ameaça o pasteurizado" na visão daquela comentarista.

Segundo, a referida análise logo fica muito flácida porque a garota, em cadeia de TV, declarou que professores e funcionários também participaram do assédio a ela e, portanto, o problema não se restringe a jovens.

Terceiro, não há nenhuma novidade em ficar, além do termo em si. Antes, o termo em voga era pular a cerca. Não há 'castração' sexual, mas castração humana e, portanto, ético-moral. Referi-me à impermeabilidade de nosso povo aos princípios de liberdade e justiça, em postagem do dia 30. A causa, não tenho dúvida, nada tem a ver com tesão, mas com a não assimilação de valores e com o consequente não desenvolvimento moral.

O povo - o que inclui muitos professores - não perde a oportunidade de agredir alguém vulnerável, "deslocado", ou seja, desprovido, em determinada circunstância, da proteção de uma gangue, um grupo, ou um mero acompanhante, quer ficante, quer namorado, quer simples colega.

Mulheres, negros, mendigos, estrangeiros têm sido vítimas de ataques do tipo 'malhar judas', sendo que a maioria deles não acaba na televisão. Relato dois casos em que fui vítima, como ilustração.

O primeiro foi este: dois dias após a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretar alerta 5 em relação à influenza A, em maio, entrei na FEA - Faculdade de Economia da USP - e, como o saguão estava repleto, ajustei a meu rosto uma máscara de prevenção de contágio. Tantos jovens da elite universitária não se contiveram: riram, gritaram 'gripe suína', forçaram tosse e espirros. E não houve mais porque não reagi e fui embora rapidinho.

A segunda ocorrência, ainda mais recente, há cerca de um mês: recostei-me contra minha mochila num dos bancos do pátio da mesma FEA, para um cochilo, como fazem muitos dos estudantes, uns até mesmo no chão. A diferença é que eu estava sozinha - e sou mulher. Uma secretária que ali trabalha disse-me que ficaram mexendo comigo e que até tiraram fotos. E acrescentou que ela ia me acordar, mas... acabou distraída com seus afazeres. Claro, ela ficou temerosa de se meter. Covardia até numa situação tão banal.

Fotos. Eu não estava de tubinho, mas de calças, largas, pretas, pernas estiradas e juntas sobre o banco. Nada que justificasse tal interesse, e que fizesse as fotos terem algum proveito, mesmo que para chantagem. Nada. Eu era mulher e estava deslocada. Só isso e... a compulsiva necessidade de ridicularizar e agredir o outro, o que indica, sem dúvida, que se trata de gente sem princípios, sem alicerces, cheia de uma ansiedade e perversidade que não são capazes de reconhecer de tão rasas que são tais almas.

Mulher bonita tem de estar acompanhada. Senão vira coisa para ser pisada. Sou cantada praticamente todos os dias, até por motoristas de ônibus que, quando se "contêm", me perguntam se casei; por que não casei. Um deles foi direto: Você gosta de sexo? Como fui ambigua na resposta, ele acrescentou: O que você acha de fazer sexo comigo?

Eis o diálogo que se deu sexta-feira (mais uma ilustração):

- Você é nova, não? Tem uns trinta anos?
- Sim. (mentindo)
- Já casou?
- Não quero.
- Mulher assim como você, só fica sozinha se quiser.
- Não quero homem bêbedo em casa (tínhamos passado por rapazes bêbedos).
- Melhor sozinha, né? Ainda mais estudada...

Desci do ônibus.

Naturalmente que há tesão e tesão. Mas não me venham com tesão "pasteurizado" e "não pasteurizado", please!

Existe o tesão de gente que sabe o que faz, gente responsável. Gente que não precisa de algo que as "contenha".

Existe o tesão dos morcegos... equivalente ao dos demais "humanos".
(ver postagem a seguir)

O caso da Uniban, porém, não pertence a essa arena, do tesão, mas a das psicoses, alimentadas pelo prazer que não evoluiu, o prazer primário de "malhar judas", não só no sábado de aleluia, mas sempre, sempre que houver o mais irrisório pretexto, segundo essas mentes psicopatas.
Mais comuns do que queremos admitir. E abrigadas em cabeças de universitários da USP também.

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