Tuesday, July 7, 2009

Foi Deus quem plantou a vocação de pensar livremente?

Eis a resposta de um gênio, cujo nome vou omitir por ora, para que vocês não sejam influenciados por quem ele é.

A pergunta - no título - digo logo de quem é: é minha.

Não muitos seriam capazes de propor essa pergunta após ler o texto abaixo. A razão? Falta-lhes deixar o "germe romper o duro invólucro". Em palavras mais batidas, emprestadas da religião, falta-lhes dar uma chance a Deus. O que requer que repensem - com "resolução e coragem" - a religião contrária... a Ele.

O texto foi adaptado um pouco. Por mim. Para que ao menos uns poucos consigam entendê-lo. Do jeito que eu o encontrei... pois é. Seria o mesmo que postar em grego.

E por que formular tal pergunta é importante?

Se não o fizesse, vocês sequer veriam que a resposta a ela está no texto. Uma pergunta essencial; pergunta que favorece o...


Esclarecimento

Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele próprio é responsável. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento, sem a tutela de um outro [homem]. É a si próprio que se deve atribuir essa menoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro.

É tão cômodo ser menor. Se possuo um livro que tem entendimento por mim, um diretor espiritual que possui consciência em meu lugar, um médico que decida acerca de meu regime, etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa.

Assim, são poucos os que conseguiram, pelo exercitar de seu próprio espírito, libertar-se dessa menoridade, tendo ao mesmo tempo um andar seguro. Esse Esclarecimento não exige, todavia, nada mais do que a liberdade.

Mas ouço clamar de todas as partes: Não raciocine(m)!
O oficial diz: Não raciocine, mas faça o exercício! O conselheiro de finanças: Não raciocine, mas pague! O padre: Não raciocine, mas creia! Em toda parte só se vê limitação da liberdade.

Mas que limitação constitui obstáculo ao Esclarecimento, e qual [limitação]não constitui ou lhe é mesmo favorável?

Respondo: O cidadão não pode recusar-se a pagar os impostos que lhe são exigidos; a crítica insolente de tais impostos, no momento em que ele tem a obrigação de pagá-los, pode até ser punida como um escândalo (que poderia provocar rebeliões gerais). Mas não está em contradição com seu dever de cidadão se, enquanto erudito, ele manifesta publicamente sua oposição a tais imposições inoportunas, ou mesmo injustas.

Do mesmo modo, um padre está obrigado, diante de seus catecúmenos e sua paróquia, a fazer seu sermão de acordo com o símbolo da Igreja à qual ele serve; pois ele foi empregado sob essa condição. Mas, enquanto erudito, ele dispõe de liberdade total, e mesmo da vocação para tanto, de partilhar com o público todas suas ideias, minuciosamente examinadas e bem intencionadas, que tratam das falhas desse simbolismo e [que tratem] de projetos visando a uma melhor abordagem da religião e da Igreja.

O uso, portanto, que um pastor faz de sua razão, diante de sua paróquia, é apenas um uso privado; pois esta é uma assembleia de tipo familiar, qualquer que seja sua dimensão. E, levando isso em conta, ele não é livre enquanto padre, e não tem o direito de sê-lo, pois ele executa uma missão alheia à sua pessoa.

Em contrapartida, enquanto erudito que fala ao verdadeiro público, isto é, ao mundo, o padre desfruta de uma liberdade ilimitada de servir-se de sua própria razão e de falar em seu próprio nome. Pois, querer que os tutores do povo nas coisas eclesiásticas [ou seja, os padres] voltem a ser menores, é um absurdo que contribui para a perpetuação dos absurdos.


Entretanto, numa sociedade de eclesiásticos, um sínodo, por exemplo, não deveriam os seus tutores ter o direito de comprometer-se mutuamente, por juramento, sobre um certo símbolo imutável, para assim manter, sob tal tutela permanente, cada um de seus membros e, desse modo, perenizar tal tutela?

Digo que é absolutamente impossível.

Tal contrato, concluído para proibir para sempre toda extensão do Esclarecimento ao gênero humano, é completamente nulo e, para todos os efeitos, não ocorrido, mesmo que tivesse sido [tal contrato] implementado pelo poder supremo, pelas Dietas do Império e pelos mais solenes tratados de paz. [Que resposta esclarecida!]

Uma época não pode se aliar e conspirar para tornar a [época] seguinte incapaz de estender seus conhecimentos, de libertar-se de seus erros e, finalmente, fazer progredir o Esclarecimento. Seria um crime contra a natureza humana, cuja vocação original reside nesse progresso. Assim, os descendentes terão pleno direito de rejeitar essas decisões tomadas de maneira ilegítima e crimonosa.

O que, então, pode ser imposto, sob a forma de lei, para um determinado povo é definido com esta questão: o povo imporia a si mesmo tal lei?

Ora, tal lei seria possível, aceitável, na espera de uma melhor, e por um breve e determinado período, a fim de introduzir uma certa ordem. E contanto que tal lei, ao mesmo tempo, autorizasse cada um dos cidadãos, principalmente o padre, em sua qualidade de erudito, a fazer publicamente, isto é, por escrito, suas observações sobre os defeitos da antiga instituição. E isso até que a compreensão de tais coisas esteja publicamente tão avançada e confirmada a ponto de, reunindo as vozes de seus defensores (nem todos, com certeza), trazer diante do trono um projeto: proteger as paróquias que se julgassem, segundo suas próprias concepções, modificadas quanto a determinada instituição da religião, sem, contudo, prejudicar aquelas que quisessem manter-se na situação antiga.

Mas é simplesmente proibido acordar-se [entrar em acordo, pacto] sobre uma constituição religiosa imutável, que impeça que se façam a ela contestações publicamente, por quem quer seja, desse modo anulando, literalmente, todo um período da marcha da humanidade em direção à sua melhoria, e torná-la não só estéril, mas ainda prejudicial à posteridade.


Um homem pode, pessoalmente, e somente por algum tempo, retardar o Esclarecimento em relação ao que ele próprio tem a obrigação de saber. Mas renunciar a ele [ao Esclarecimento], seja em caráter pessoal, seja ainda mais para a posteridade [renúncia definitiva], significa lesar os direitos sagrados da humanidade, e pisar-lhe em cima.


O que um povo não é sequer autorizado a decidir por si mesmo, um monarca tem ainda menos o direito de decidir pelo povo. Pois sua autoridade legislativa repousa, precisamente, sobre o fato de que ele reúne toda a vontade popular na sua.

Situei o alvo principal do Esclarecimentro, qual seja, a saída do homem da menoridade da qual ele próprio é culpado, principalmente no domínio da religião. Isso porque, em relação às ciências e às artes, nossos soberanos não se interessaram em desempenhar o papel de tutores de seus súditos [será que não?]. Além disso, essa menoridade à qual me referi [a menoridade em relação à religião], além de ser a mais nociva, é também a mais desonrosa.

Um príncipe que considere como um dever nada prescrever aos homens em matéria de religião; que os deixa, sobre esse ponto, em uma liberdade total, e recusa para si o orgulhoso título de tolerante, é ele mesmo esclarecido. E por ter sido, esse príncipe, o primeiro a libertar o gênero humano de sua menoridade, pelo menos no que concernia ao governo, e por ter deixado, cada um, livre para se servir de sua própria razão, em todas as questões de consciência, merece ser, tal príncipe, louvado pelo mundo que lhe é contemporâneo, e pelo futuro agradecido. Pois mostra a este, por seu exemplo brilhante, que ali, onde reina a liberdade, nada há porque temer pela tranquilidade pública e unidade do Estado. Pois os homens procuram libertar-se de sua grosseria, ainda que [seus governantes] se esforcem para mantê-los, artificialmente, em tal condição [de grosseria].

Quando se pergunta, portanto: Vivemos atualmente numa época esclarecida?

A resposta é: Não, mas numa época de esclarecimento. Muito falta ainda para que os homens, no estado atual das coisas, tomados conjuntamente, estejam já num ponto em que possam estar em condições, em matéria de religião, de se valer de seu próprio entendimento, com segurança e êxito, sem a tutela de outrem. Mas que, desde já, o campo lhes esteja aberto para que eles se movam livremente, e que os obstáculos à generalização do Esclarecimento e à saída da menoridade - que lhes é autoimputável - sejam cada vez menos numerosos.

Entretanto, há aquele que, embora ele mesmo esclarecido, não temia as trevas, mas, ao mesmo tempo, garantia a tranquilidade pública tendo sob seu comando um exército numeroso e bem disciplinado. Este chefe de Estado é capaz de dizer o que um Estado livre não ousa dizer: Raciocinem o quanto quiserem, e sobre o que desejarem, mas obedeçam! Revela-se, assim, uma marcha estranha, inesperada, das coisas humanas.

Um grau mais elevado de liberdade civil parece vantajoso para a liberdade de espírito do povo. Em contrapartida, um grau menos elevado daquela [liberdade] proporciona a este [espírito] a possibilidade de estender-se de acordo com suas forças.

Portanto, a natureza [que traduzo como Deus] libertou, de seu duro envoltório, o "germe" sobre o qual ela vela mais ternamente: a inclinação e a vocação do homem para pensar livremente.

Essa inclinação age, por sua vez, sobre a sensibilidade do povo, tornando-o cada vez mais capaz de ter a liberdade de agir. Finalmente, age, tal inclinação, também sobre os princípios do governo, que encontra o seu próprio interesse em tratar o homem - que doravante é mais do que uma máquina - na medida de sua dignidade.


Königsberg, Prússia, 30 de setembro de 1784

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