Não há cientistas; há mentes tortas - mentes incapazes de produzirem tstemunhos dos valores científicos de imparcialidade, autonomia e neutralidade.
Eses três princípios da ciênca foram apontados na matéria de ontem (14 de junho) "Interpretando Galileu", publicada no caderno mais! da Folha de S.Paulo.
A sentença de abertura deste artigo apresenta minha conclusão diante das diversas manifestações sobre o livro e o filme Anjos e Demônios. Em tais manifestações incluo aquelas publicadas por "cientistas", como a do professor Marcelo Gleiser, que saiu ontem, no mesmo caderno mais!, sob o título "Anjos e demônios da ciência".
Gleiser, que é identificado no final do referido artigo como "professor de física teórica no Dartmouth Colllege",nos Estados Unidos, causou-me espanto por escrever: "A bomba, e aqui entra o tema principal do filme, é um artefato..."
Ainda, afirmou ele que "A cena inicial se passa no templo da ciência, onde seus sacerdotes, os cientistas do Cern, preparam-se para acionar a maior máquina já construída..."
Primeiramente, Gleiser chegou atrasado ao cinema - é o que de mais gentil podemos declarar diante do erro dele. A cena inicial é na Santa Sé, no Vaticano, sendo o papa morto Pio XVI [fictício] submetido aos procedimentos internos e públicos durante o "mourning period", o período de nove dias de luto, que corresponde ao de Sede Vacante, como é designado o intervalo entre a morte de um papa e a 'posse' de seu sucessor.
É revelador tal "atraso" de Gleiser - como ele, também incorretamente, aponta o tema principal do filme como sendo a bomba, ele se viu irremediavelmente tentado a apontar a cena inicial como aquela em que a antimatéria é isolada no CERN. Em seguida, Gleiser vira ilustração de um estereótipo: o de que os físicos não são bons em redação, em idiomas. Ele escreve que tal artefato - a bomba - "usa uma amostra de antimatéria". Amostra é uma coisa, mostra é outra. Além disso, Gleiser comete um deslize que diz respeito diretamente à sua área: "...amostra (sic) da antimatéria criada pelos cientistas..." Criada? Os cientistas viraram... Deus? Os cientistas não criam a antimatéria; eles, na trama em questão, conseguem capturar, e isolar em suspensão dentro de uma espécie de tubo, a instável antimatéria.
Quanto aos três valores da ciência antes apontados, o artigo de Gleiser é, assim, ilustração de falta de imparcialidade, em primeiro lugar. Aqueles três valores, contudo, estão estreitamente interligados, de sorte que faltar com relação a um deles implica não honrar os outros dois.
Naquela condição que chamei de "mente torta", tal professor é, provavelmente, até mesmo incapaz de notar que ele logo entra no que é, de fato, o tema principal do filme. Em seu artigo, logo se lê: "O filme retrata o conflito entre os magistérios que supostamente disputam o domínio da sociedade: a religião e a ciência". E é sobre isso que o tal professor passa a escrever, defendendo sua tese sobre... anjos e demônios. Sim, o título em si sugere que uma bomba não é o "tema principal", o que um físico teórico quis - apenas porque quis - chamar de tema principal, logo contradizendo a si próprio.
Confusas são as mentes tortas, e elas residem em caixolas de professores, "renomados" cientistas destes tempos, em especial.
Ao defender sua tese sobre o verdadeiro tema, Gleiser aponta como problema, no filme, "uma tendência a manter estereótipos que me parecem injustos" (que estereótipos seriam justos?). Ele prossegue: "Existe uma aura de inocência nos cientistas e de sapiência nos cardeais, como se cientistas fossem imaturos e irresponsáveis perante a autoridade moral da igreja". Tal avaliação a mim soa como mero clichê, ou seja, a própria avaliação é um estereótipo e, para adicionar insulto ao escândalo (um chavão da língua inglesa), tal avaliação estereotipada nem ao menos retrata com fidelidade o filme ou o livro. Aqui, o professor já deve ter chochilado, perdendo todo o restante do filme.
No filme, um representante da Polícia do Vaticano (que interrompe sua participação em reunião da ONU..., o que crítico algum comentou, até onde pude constatar) "despenca" até a piscina de Harvard para, pouco depois, dizer nas bochechas de um vaidoso Langdon que ele é "formidable" como erudito. No livro, ele não é vaidoso assim. E é isto que o restante do filme não deixa de atestar - Langdon é formidável. No livro, não há tal avaliação pelo membro da Polícia do Vaticano, tampouco é o chefe desta polícia aquele que "tem a idéia" de convocar Langdon: "...find Professor Langdon immediately".
No filme, em suma, tem-se o cientista hollywoodiano - ostentando ótima forma (além de bonitão), uma verdadeira estrela, infalível... em matéria de simbologia. Isso contrasta com matérias publicadas no dia do lançamento do filme (16 de maio), segundo as quais o diretor teria tido a preocupação, ao escolher a atriz israelense para o papel de 'mocinha do fime', em não seguir o padrão... hollywoodiano. Langdon, apenas no filme, "mata todas". No livro, é um dos guardas que desvenda o símbolo relacionado a ar (um dos quatro elementos). No filme, é Langdon, Langdon, Langdon.
Na enxurrada de comentários,Gleiser não é o único pecador. Acabo de encontrar um site bem desenhado, do CESNUR - Center for the Studies of New Religions. Não investiguei sobre o centro, mas notem o "studies" (estudos) no título.
Vejamos que tipo de "estudos". O tom é de quem diz a 'pura verdade' no longo artigo, em forma de perguntas e respostas, intitulado "Angels & Demons - from the Book to the Movie FAQ – Do the Illuminati Really Exist?", de Massimo Introvigne. Traduzindo: Anjos e Demônios - do livro ao filme, FAQ (perguntas frequentemente levantadas) - Os Illuminati de fato existiram?
Com disse, o texto é longo. Vou começar com uma curta pergunta com uma curta resposta, que denuncia todo o tom de pura verdade. É sobre um dos aspectos que mais me chamou atenção no filme: o Banco do Vaticano. Chamou-se atenção pela ironia de "Langdon", que chega ao seu ápice quando ele retruca os comentários do oficial da polícia que o acompanhava na segunda ida de Langdon aos arquivos do Vaticano. O policial diz algo assim: "...somos uma instituição preocupada com a salvação de almas perdidas". "Ah!" - retruca Langdon - "E vocês são um banco", quando então surge o letreiro Banco Vaticano. Claro que questionei: o Banco do Vaticano não estava no caminho aos Arquivos quando da primeira visita. Foi a chance que o roteirista e diretor encontraram para incluir essa referência mordaz à "Igreja mais antiga e correta"? Estou relendo o romance (o livro) e, tendo isso feito até o capítulo 82, não cheguei ao ponto dessa segunda visita, ou do assassinato do terceiro cardeal, mas estou bem próxima disso para verificar se tal 'alfinetada' - muito apropriada, ao meu ver - está também no livro.
Pasmem. O perguntas e respostas daquele centro, o CESNUR, diz que "não existe Banco Vaticano". Isso mais do que basta para arruinar todo o resto do texto.
Em postagem deste blog, já apresentei até um PROCESSO JUDICIAL contra o Banco do Vaticano (e a Ordem Franciscana), por lavagem de bens (o que inclui até o ouro dos dentes) das vítimas do holocausto na ex-Iugoslávia, na Segunda Guerra, então sob o regime nazista apoiado pelo Vaticano, pela Igreja Católica. Há todos os documentos do processo - que corre em tribunais dos Estados Unidos desde 1999 - na internet, que são disponibilizados pelos próprios advogados das vítimas; advogados que dão seu nome, endereço, telefone, fax, tudo. Pois é. Como o Banco não existe? Banco do Vaticano pode ser dito como um nome fantasia, como Ponto Frio, por exemplo. Mas dizer, por isso, que Ponto Frio não existe... Cada uma!
Eis aqui o "copiar-colar" da parte do site do CESNUR que apresenta tal disparate maior aos meus olhos:
[Pergunta] In the same Vatican Secret Archives, in a section “Banco Vaticano”, there is according to the movie a full inventory of the Catholic Church’s many possessions, including the works of art. True?
Tradução: No mesmo Arquivos Secretos do Vaticano ["mesmo" porque há perguntas anteriores sobre esses Arquivos], numa divisão "Banco Vaticano", existe, segundo o filme [e, sengundo livro também; só que, no livro, o inventário não está no Banco, mas nos própros Arquivos], um inventário completo das muitas posses da Igreja Católica, incluindo as obras de arte. Verdadeiro?
False. There is no such inventory, nor does a Vatican bank called “Banco Vaticano” exists.
Falso. Não há tal inventário, tampouco um banco vaticano chamado "Banco Vaticano" existe.
É... Trata-se de pura ignorância, ou de ardil. A omissão de um "do" não é o que respalda a afirmação - curta e veemente - de que o banco não existe. O nome pelo qual é mais conhecido não é Banco Vaticano, mas Banco do Vaticano. Nome formal: Instituto para Operações Religiosas, um nome mais ardiloso ainda. Ele existe, sim. Eis o link do tal processo judicial, de novo aqui:
http://www.vaticanbankclaims.com
E, claro, há muito mais sobre tal Banco do Vaticano. O escândalo Calvi (diretor do Banco Ambrosiano) envolve Paulo Marcinkus, diretor do Banco do Vaticano, em lavagem de dinheiro da máfia, e incontáveis operações ilegais para evasão de capitais do Vaticano da Itália, primeiramente para sonegação de impostos sobre operações no mercado financeiro italiano; mais tarde, para a pura obtenção de ganhos financeiros monstruosos.
Aqui encerro o primeiro comentário meu sobre o filme - e os comentários a respeito. Há muito mais que tenho a apresentar. Acompanhem - novas críticas estão a caminho.
(Cada uma!...)
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Monday, June 15, 2009
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'-ERS' FELLOWS: LOVERS OF IDEAS; EXPLORERS OF THE SUBLE; THINKERS AND WRITERS OF INEXHAUSTIBLE PASSION. ULTIMATELY MINDERS OF FREEDOM.
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