Wednesday, April 8, 2009

Pensamentos elétricos - amor, missões, enfim, destino (e a grande bobagem em "Quem quer ser um milionário")

Oi, gente. Saudades? Eu também.

Estou sem "pregar o olho". De onde vem essa estranha expressão? Por que alguém haveria de pregar logo o olho?

Mas estou bem. Elétrica. Lá pelas sete da noite vou dar uma dormidinha. Essas inspirações na madrugada...

Sério, não é o que você está pensando aí. Aliás, nunca passei a noite inteira fazendo sexo. O meu primeiro namorado depois que me separei do meu marido declarou: "Nunca? Nem na lua de mel? Foi por isso que não deu certo!"

Bem, ele tinha certa razão. Não gostava de meu marido para ficar tanto assim com ele...Nunca escondi que me casei para poder sair de casa. Naquela época, uma mulher não saía da casa dos pais para morar sozinha. Não conseguia alugar um ap. Era considerada puta (profissional).

Aos vinte e seis, estava separada. Que alívio!

Voltando. Gente, voltando para onde? Isso é que dá não dormir.

Fiquei acordada escrevendo. Em inglês. Grandes sacadas históricas. Daí vem a energia para me deixar elétrica.

E comi seis bombonzinhos, lotados de cacau. E já meditei. Foi tão, tão bom, que cheguei a "voar" bem alto. Pulei da cadeira (na minha igreja). Tinha perdido meu motorista predileto. Caramba! Então, fui comprar os bombons.

E tudo isso só me faz pensar mais. Ainda por cima, assisti a tantos filmes nos últimos dias... dois ou três por dia. "A vida é um rato correndo pela sala". Esta máxima é de um dos filmes, cheio delas. Muito bom. Do festival internacional de documentários, que terminou ontem.

A vida é um rato correndo pela sala. O roteirista também gostou tanto dessa sentença que o protagonista a repete no filme "Domingos".

Puxa. Queria ter-me casado com alguém de quem gostasse bastante para ficar a noite inteira fazendo sexo. Acabei gostando assim de um gatão, com quem fiquei cinco anos. Mas ele não se casou comigo - já era casado. E não quis arriscar nada. Hoje ele não tem nem a mim, nem a outra.

Tô nem aí. Acabou faz tempo. Outro ratinho que correu e entrou no buraquinho na parede.

Pior é ter como maior paixão não um homem casado com outra, mas um casado com Cristo. Não, ninguém merece. Entretanto, não há como a gente controlar o amor.

Você acredita em destino? - perguntaram-me outro dia. - Sim! - respondi com toda a segurança, o que é uma novidade para mim. Mas o destino existe não para fazer ninguém rico. Aí, não. Essa é a grande, enorme bobagem do filme vencedor do Oscar - Quem quer ser um milionário. O ser milionário, no filme, é o fim em si mesmo. Patético. Ninguém nasce para ser rico. Ou para ser pobre. Essas condições direcionam para o verdadeiro fim; não são os fins. Até porque ser rico é uma grande, grande bobagem. Futilidade. Você desperdiça tempo com pessoas falsas, com coisas sem importância.

Ter sido uma menina rica me levou a gostar de roupas demais. Ainda bem que foi só esse o vício que peguei. Apesar de tão rica, empreguei meu tempo no que importava - estudei muito, aprendi idiomas. Li. E, no tempo "vago", sentava-me no chão da cozinha, e tagarelava com minha mãe, enquanto ela cozinhava. (Minha mãe não gostava de ter empregadas.) Queria ajudar, lavar a louça, qualquer coisa. Ela não me deixava: "Vá estudar"! Mamãe pensava como a zeladora do que viria a ser minha igreja décadas mais tarde - que eu era "importante demais" para fazer certas coisas. A zeladora ficou boquiaberta no dia em que eu tirei o esfregão da mão dela e acabei de limpar o chão do salão, porque ela se queixara de dor nas costas. "Uma escritora, alguém importante, não acredito"! - ela exclamava.

Ser rica não me fez tão mal, como se vê. Viver como alguém pobre me fez mais bem ainda. Claro, como investi na minha educação, ser rica foi ótimo. Não ia para baladas, não bebia. Tive uma ótima e saudável vida, com bons clubes, bons passeios e viagens. Mas... tinha roupas demais. E batons também.

Ser pobre? É, igualmente, uma circunstância para que você se volte para algo da vida que ainda não tenha experimentado. Isso, claro, quando você não é simplesmente miserável, e apenas adoece e morre. Mas, repare, os ricos acabam, quase todos, feito os miseravelmente pobres: adoecem prematuramente em decorrência do estilo de vida e morrem! Que ironia, não?

Nascemos para ter sonhos, amores, missões. Igualmente incabível é a ideia de que o fim de nossa existência é sermos perfeitos pela ótica daquele jornalista puxa-saco do papa: sem sexo antes de casar, com sexo para procriar quando casados. Sem sexo depois de os filhos todos nascerem. E obedecer ao papa toda a vida, para garantir a vida eterna.

Ele, meu amor que era casado com o Cristo (ele ainda pensa que é assim casado), cresceu para acreditar, sobretudo, numa das cláusulas do documento do Concílio Vaticano Primeiro: a que impõe que só a adesão ao papa, ao Cristo segundo o papa, garante a salvação. Não o culpo sem ressalvas. Nem todos têm de ter um QI absurdamente avantajado como o meu. E, de fato, não têm. Então, eu é que devo entender toda essa gente diferente de mim. Mais do que entender, eu amei profundamente tal homem casado desde muito cedo com o Cristo, mais cedo do que eu me casei para sair de casa.

Separar-me do marido não foi fácil. Posso, assim, imaginar o que implica se separar do Cristo. Barra.

Meu grande amor, casado com o Cristo, não me amou tanto assim, mas chegou a se preocupar com a minha salvação. Assim eu acho, pelo que observei de seu comportamento. Parecia sinceramente preocupado, quando viu que eu me afastava da "única igreja que salva" - certamente, isso indica um pouco de amor.

Ele, porém, me trata hoje como uma degradada, uma mulher que sequer merece seu olhar de soslaio. Isso é parte necessária do plano para garantir sua aposentadoria eterna, digo, sua salvação depois da vida. Que passa como um rato pela sala, também para ele. Apesar de casado com o Cristo.

Sim, é preciso chegar a brincar com os nossos dogmas, nossos entraves, que julgamos a "coisa mais importante do mundo" - seja deste mundo ou do outro. E até brincar com nossos profundos sentimentos de amor, especialmente quando eles acabam tão frustrados, sem noites de sexo - ou mesmo algumas horinhas.

Correu feito um rato pela sala. O amor tão profundo. Ainda assim, apreendi e gravei para sempre os dados do caminho.

O destino não é ser rico, ser pobre, ser casado com o Cristo ou ser dele separado, por decreto papal. Ou simplesmente paroquial. O destino é fazer o que você não faria; é desistir do que não desistiria; é amar quem você não amaria. É escrever o que não escreveria. É ver o que não veria. O destino não corre como rato pela sala. Ele cata você e joga no dorso do elefante que você não consegue sequer enxergar. (Gostaram, né?)

Destino é o "dar de cara" quando você menos espera, sem maquiagem, sem dormir. Sem conseguir sequer desmaiar.

Destino é Deus. Acreditar ou não - pouco importa. Você não vê o elefante, mas ele põe você no caminho mesmo assim. Você se debate? Acabará caindo daquela altura toda (lembre-se, é um elefante, não um cavalo). Terá de prosseguir mesmo assim, agora com as duas pernas quebradas...

Quando você ama, não faz sexo só para procriar. Não é preciso sequer falar de amar - quando você é minimamente normal, é um pouco espiritual e, assim, não come só para se manter vivo. E, portanto, tampouco faz sexo somente para procriar.

Fazer sexo só para procriar é uma regra do catolicismo que detona todo o discurso espiritual que as autoridades católicas possam tentar oferecer. Reduz o ser humano a menos do que um bicho, pois nem mesmo este faz sexo só para procriar - faz para dominar, por sentir o odor, o furor, o diabo que seja. Sexo só para procriar é ridículo - me lembra o Woody Allen e sua máquina para ter orgasmos, algo como entrar numa máquina de lavar e pronto.

É esse tipo de "ser reduzido" o ideal para a meta do sumo pontífice de obediência burra.

Meu amor, casado com o Cristo, transformou a mim em algo pior do que o demônio. É porque ele de fato acredita que é preciso seguir os ditames do Concílio Vaticano Primeiro para garantir sua vida eterna, sua salvação.

Destino, eu virei historiadora. Foi para entender ainda melhor por que meu amor maior de todos um dia me desprezaria tanto, tanto. E eu hoje entendo.

Contudo, não resta o que fazer com relação a isto: a vida está a passar feito rato pela sala. Vum! Durante essa afoita existência, Deus dá um jeito de fazer aquele "elefante" nos catar e colocar no caminho. Dá um jeito de sarar a imensa dor do amor reduzido brutalmente; dá um jeito de nos deixar elétricos mesmo sem dormir tanto tempo. A urgência divina está ciente do ritmo do dono do Tempo.

Destino é as prioridades de Deus. E, diante delas, sempre achei melhor agarrar bem nas orelhas do elefante, e aproveitar ao máximo a incrível jornada, em vez de cair, quebrar as duas pernas - e ter de continuar, agora mutilado.

Publique-se. E viva o Destino.
Mariangela Pedro
08 de abril de 2009

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