Thursday, March 12, 2009

Filho do Homem, voltei

Sabe, filho do Homem,
longe daqui me esqueço;
apego-me à realidade
que passaram a chamar de surreal.

Longe, tudo é aborrecedor
como picadas de inseto,
tudo é desgastante
como noites de vigília -
sobrepesos por causa das desaleluias,
das batidas da alma
contra espelhos do paraíso.

Assim na insanidade
da civilidade, cujos rótulos
estão em títulos de capítulos
que preciso estudar para ser doutora,
retiro uma folha da gaveta,
e dela envio chamado
para o lado de mim que
ainda quer sentir
a paz da verdadeira comunhão.

Minha igreja está cansada de mim
- e eu, dela.
Não combinamos: eu escrevo demais,
eles temem demais
incitados pelo poder temporal,
paranóicos com dissidências minúsculas
diante do Teu poder, que eles desprezam;
melhor, de todo ignoram.

Sou pecadora se faço sexo.
E nada muda para a gente a mim muda
se deixo de fazê-lo.
Se amo à distância, sou também pecadora.
Se desisto de amar, ligo-me a eles -
mas é justamente isso que não querem.

Chamo-Te.
Como se fosse preciso.
Quase desacostumada das nossas brigas,
que até outro dia eram diárias
- e por todo o dia quase.

Divinos tempos, traga-os de volta.

Manda para esta igreja cansada
um outro sorriso puro.
E, desta vez, zele por ele como
se fosse o último - talvez não viva tanto
para pedir de novo.

Preciso do sorriso para sorrir,
de um brilho de Ti, através,
para brilhar, através.
E assim viver até partir.
Mas partir descansada,
por Tua causa, plenitude ganha,
para ser esquecida pelos cansados,
pelos dogmas e pelos rótulos.

Se assim não for doutora,
pouco me importa.
Porque de minha luta
não quero tons de luto colher.

Bom foi que consegui voltar
Para chamar por mim,
por aquele meu ser através.
E sorrir Contigo.
Que conhece o sexo de mim,
o amar além de mim,
o cansar contrário a mim.

Sinto que volto,
e isso é que é
reconquistar a fé.

Longe, percebi
a fé que se perde
- tão díspare! - da fé que
nos sentenciam como perdida
em sentença arrogante,
por causa de uma irrisória dissidência
que nada muda -
quer para os arrogantes que sentenciam,
quer para os 'infiéis' que assim
a fé não podem perder.

Longe de um sorriso como o Teu
apego-me na beira do nada
ao nada - absurdo como se vê.

Mas que bom,
fui capaz
de encontrar uma folha na gaveta.

Escrevendo, volto ao caminho
da verdadeira comunhão.
E a fé que - esta sim - não posso
jamais perder de vez
volta a mim,
para a mim transformar
num sorriso através.

Filho do Homem, já ouso declarar,
eis-me aqui, como um dia conheci a mim
e a Ti.

Mariangela Pedro
11/03/2009, findo às 9 da manhã,
na minha igreja.

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