Monday, December 1, 2008

Padres - subterfúgios, crueldade e vaidade

Pecados santos
Superinteressante, ed. 246, dez 2007


Esse artigo da popular revista é a provocação para este nosso ensaio, em que também apontamos que o badaladíssimo Ferreira Gullar defendeu a pedofilia em sua coluna da Folha de S.Paulo.

Sutis distorções raramente são notadas pelo leitor que busca "notícias" rápidas (e que dispara comentários quase sem parar, sobre quase tudo). Mostramos algumas dessas distorções, com base no ensaio de um padre, no texto de um colunista da Folha de S.Paulo e no referido artigo da Superinteressante.

1. Infestados de pedófilos? Como continuamos a Santa instituição mesmo assim
 
Diz a Superinteressante: Segundo o padre Edênio Valle em seu artigo "A Igreja Católica ante a Homossexualidade"[o link foi adicionado por nós], quase todos os estudiosos católicos de hoje concordam que a atração pelo mesmo sexo não é uma opção, mas, sim, algo imposto pelo destino, assim como nascer homem ou mulher. Logo, não é uma questão moral nem há lugar para a culpa – ninguém é bom ou mau por ter sentimentos que não pode afastar de si. O pecado estaria na aceitação dos atos homossexuais. E não nos gays em si. 

É espantoso como mentes chegam a engendrar "lógicas" como essa. E elas são aceitas amplamente, bastando terem sido publicadas ou ditas por um sacerdote envolto em respeitabilidade. "Ninguém é bom ou mau por ter sentimentos que não pode afastar de si" vai até mesmo contra a pregação de que sou testemunha desde os meus cinco anos de idade: deixar o Espírito Santo entrar para, justamente, seu coração ficar só com os sentimentos nobres. Como ser bom, se você está tomado por sentimentos maus? Mas o padre em foco não parece ter ouvido sobre o Espírito Santo tanto quanto eu...

Observe também que o referido padre, indiretamente, isenta até os homossexuais ativos na Igreja, ao declarar que "o pecado estaria na aceitação dos atos homossexuais". Assim, basta que se declare que não aceita, e pronto - não é preciso fazer nada mais em relação à questão.

Tal padre, portanto, recorre a uma distorção para defender a Igreja, em dois tempos: primeiro, ser homossexual não é bom nem mau. Segundo, a Igreja não aceita a prática da homossexualidade; assim, não peca. Se há padres homossexuais, ativos ou passivos, isso não enseja a condenação da Igreja - ela já declarou que "não aceita", ponto final.

Isso é quase tão horripilante quanto o artigo assinado por Ferreira Gullar e publicado na Folha de S.Paulo no dia 24 de fevereiro deste ano [2008], domingo. Gullar, inconformado com a "Repressão e o preconceito" (título do artigo), pergunta: "Se o sujeito nasceu pedófilo, por que sua preferência sexual é considerada crime"? [para localizar logo este trecho, acione Ctrl+F e digite "crime" na caixa de diálogo, seguido de "enter"] Para mais, acessem nossa postagem, publicada em reação ao disparate de Gullar. Nela, também ofereço links para se obter o famigerado artigo do badalado poeta, que disseram já sondado até para o Nobel.


2. Chacoalha, chacoalha e assopra


O artigo da Superinteressante apresenta estatísticas terríveis, casos pavorosos, lista de abusos. Mas... termina com a seção "Paz na terra": a queda de todas essas mazelas tem sido vertiginosa. Por que seria?, ainda arrisca a matéria, ajudando o trôpego leitor a pensar sobre o "superinteressante". A resposta para tudo se resolver tão rapidamente: a ciência; agora os padres são tratados... Assim, leitores, fica implícito que a culpa de todas as atrocidades antes apresentadas deve ser atribuída à ciência, que estava "atrasada", vejam só!
Por favor, cancelem ou revertam todas as sentenças que condenaram pessoas por homicídio culposo no trânsito, antes da invenção do air bag. A culpa é do atraso da ciência! E não fiquem só aí. Façam o mesmo com todos os condenados por homicídio doloso, que dirigiram embriagados - a culpa não é desses motoristas ou da bebedeira deles, mas dos governantes e juristas que não instituíram antes a lei seca! Eis um trecho dessa seção do artigo:

Até os anos 50, a atividade sexual do padre era vista como um problema exclusivamente moral ou espiritual, segundo Richard Sipe. Homossexualidade e pedofilia eram “tratados” apenas com a transferência de paróquia ou com “renovações espirituais”.
Depois, passaram do campo somente moral e espiritual para o científico. Finalmente, foi reconhecida sua dimensão psicológica. Em 1976, a congregação religiosa americana Serventes do Paracleto abriu o primeiro programa para tratamento de desordens psicossexuais, o que incluía abuso de menores. O tratamento ficou tão high-tech que...


Mais: como aceitar as novas estatísticas de queda, se há os documentos da Igreja decretando o silêncio, que o próprio artigo aponta? Ressalto que, segundo a matéria, também o acusador é passível de excomunhão. Ainda, os dados que delineiam o grande declínio nos abusos são fornecidos por associações ligadas à Igreja, lideradas por padres como o autor da declaração comentada no tópico anterior.

3. "A bomba sobre a sexualidade dos padres estourou"...

Isso também está no artigo da revista. Tais termos constituem apelação sem nenhuma criatividade, para tudo se acabar logo na "quarta-feira"[de cinzas, como o Carnaval]. Tudo, no final, não passou de um mero "estalinho" de festa junina. Quem ficou com outra impressão?

4. O mais inacreditável

"'Outro ponto que ajuda é a própria conscientização dos clérigos para não deixar que crimes de seus colegas passem em branco. 'Hoje, qualquer padre responsável e consciente de seus deveres toma as medidas necessárias segundo a lei', diz o padre Edênio".

Aqui falou demais e não convenceu. Primeiro, por que tal conscientização tardou? Não havia padres "responsáveis e conscientes de seus deveres"?
E "qualquer padre toma as medidas necessárias segundo a lei" é de todo inverossímil. O papa João Paulo II declarou, quando do "estouro da bomba", que a Igreja reservava a si o direito de não denunciar à polícia novos casos de pedofilia. Portanto, que sacerdote iria contra o papa, em nome de sua consciência, e pelas medidas segundo a lei?

Ainda, o padre Edênio sugere desconhecer o documento baixado por João Paulo II, que formalmente determina que cabe só à Igreja lidar com a questão.

5. O reverso da moeda

O início do artigo expõe os ardilosos planos de padres para envolver a vítima - uma criança - até ela sofrer o abuso. Poderiam padres serem vítimas eles mesmos? Não de crianças, claro, mas de outros adultos, especialmente fiéis que se aproximariam do sacerdote com o mesmo ardil calculado, envolvendo-o até seduzi-lo para a homossexualidade? Não, não com o fim de "desacreditar a Igreja", mas com o de satisfazer seus próprios "sentimentos"?

Stenico disse que se fazia de gay para ajuntar informações sobre pessoas envolvidas num complô para seduzir padres à homossexualidade e desacreditar a Igreja. (trecho do artigo)


A grande maioria dos padres, diz minha observação, se enquadra em um desses três tipos:
(1) os "superobedientes" que padecem de conflitos sexuais, distúrbios afetivos e que se entregam ao sacerdócio como fuga. Acabam tendo muita dificuldade para levar a cabo a missão que abraçam até com 'fé demais'. Os fiéis, atraídos pela própria fragilidade do sacerdote, grudam naquele que não tem estrutura para equilibrar a grande pressão, daqueles fiéis, por soluções, rezas, etc;
(2) os "raposas", não propriamente livres dos distúrbios psicológicos mas, digamos, mais fortes para se voltarem para o ataque: a manipulação, os discursos cheios de distorções "inocentes", etc. e
(3) os vaidosos, cheios de ingenuidade missionária e que conseguem sustentar um raro (e tolo) sorriso por vários minutos. Acabam virando as raras "estrelas" do sacerdócio; são os preferidos como celebrantes de batismos e casamentos, são os da mídia.

Os que se enquadram no 'tipo um' são os mais suscetíveis ao assédio de fiéis endinheirados e homossexuais. Testemunhei um caso assim. O sacerdote envolvido, jovem e bonito, sempre muito procurado para confissões pelo público usual (as mulheres de seu rebanho), acabaria recebendo um único indivíduo no confessionário - durante pelo menos meia hora e todos os domingos, religiosamente: um gay rico e mais velho.
 O artigo sequer aventa esses casos. Provavelmente, porque não arranjaram um jeito de inocentar a Igreja em ocorrências assim. Como justificar que um padre, idealizado como capaz de aconselhar, possa ser ele o ludibriado? E teria ele falta de recursos? Não, não é essa a questão. Qual é, então? Provavelmente, o isolamento, o não ter uma família, enfim... o celibato obrigatório.

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O artigo da Superinteressante é assinado por Maurício Horta. A chamada e os primeiros parágrafos estão a seguir: 

Por que a instituição que mais prega a castidade e a retidão moral é palco de tantos escândalos sexuais? A porta dos fundos da Igreja está aberta. É hora de entrar.

Idade: 7, 8, 9, 10. Sexo: masculino. Condição social: pobre. Condições familiares: de preferência, um filho sem pai, sozinho – ou com uma irmã. Onde procurar: nas ruas, escolas, famílias. Como fisgar: aulas de violão, coral, coroinha. Importantíssimo: prender a família do garoto. Possibilidades: garoto carinhoso, carente de pai. Sem moralismo. Atitudes minhas: ver do que o garoto gosta e atendê-lo em cobrança à sua entrega a mim. Como me apresentar: sempre seguro, sério, dominador, pai.

Você acaba de ler o diário de um padre condenado a 15 anos de prisão por abusos sexuais: Tarcísio Tadeu Sprícigo. Em 2000, na cidadezinha de Agudos, São Paulo, ele ensinava música para um garoto de 9 anos. Essa era a fisgada. O pagamento? Favores sexuais, prestados durante um ano. Feitas as primeiras denúncias, em 2001, a Igreja o transferiu para Anápolis, Goiânia. Lá, a história se repetiria com mais duas crianças – uma de 13 anos, outra de 5.

Bizarro. Mas nada incomum. Escândalos assim têm acontecido nos últimos anos, no mundo todo. Só nos EUA, único lugar com estatísticas concretas sobre padres que cometeram abusos sexuais, 4 392 sacerdotes católicos foram denunciados por esse tipo de crime entre 1950 e 2002. Isso dá 4% do total de pessoas que exerceram o sacerdócio no país nesse período. Um número alto, ainda mais tendo-se em mente que menos de 1% da população pode ser classificada como pedófila.(negritos nossos)

Os casos com crianças são os mais visíveis entre os que envolvem a sexualidade dos padres. Mas não faltam exemplos em outras searas. Há estimativas, veja só, de que metade dos sacerdotes brasileiros tenham amantes. Boa parte deles, homens. E denúncias de que o Vaticano abriga uma grande comunidade gay, com chefões da Igreja fazendo sexo sadomasoquista. Também existem milhares de sacerdotes que largam a batina a cada ano para casar e ter filhos. E os que matam os filhos para não ter de largar a batina. Isso é um pouco do que você vai ver nestas páginas.

Para ler o artigo completo:
http://super.abril.com.br/superarquivo/2007/conteudo_551190.shtml
ou
http://super.abril.com.br/ciencia/padres-pecados-santos-447320.shtml

Para comentar: mariangelapedro @ yahoo.com

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