Fundação Logosófica - muita munição para canhão fraco
Felicidade sustentável – ou a primazia logosófica
do 'é dando que se recebe'
Mariangela Pedro
com este texto, inscrevi-me em concurso promovido pela Fundação Logosófica
O mais curioso é que acabaria evidente que os julgadores não eram gabaritados. Tal foi a superioridade do meu texto que eles o desprezaram, não tinham a capacidade de interpretar, provavelmente nem mesmo dominavam o vocabulário. Comparem meu texto com o vencedor na categoria de estudante (na qual eu também participei). O texto do vencedor está após o meu. Esse texto apresenta erros, inclusive erros elementares de pontuação, que eu aponto entre os colchetes que insiro no texto.
Os caminhos da felicidade são pomos de fantasia para os propensos à aventura. São subitens em esmaecidas páginas centrais de livros de bolso. São segredos de seitas em extinção, pairando em atmosfera de angústia. “Tudo isso e nada disso”, retrucam os intelectuais, sofismando acerca da regra de que não há regras para a felicidade que, sem se submeter a audiências marcadas, ainda assim persiste subliminarmente até em ambientes sisudos como os tribunais.
Contudo, as especulações improváveis sempre foram mais alardeadas do que a busca honesta pelo saber. Vimos enveredando para o engodo porque, soberbos ante a escalada para a pureza, também insistimos em tomar modelos teóricos como sucedâneos da consciência. Assim, modi vivendi para a felicidade ainda são frivolamente expostos tais quais ingredientes em receita culinária, concomitantemente ao esquivar-se da discussão do porquê de quase todos fracassarem em manter tais “dietas” existenciais por um período mais do que breve.
Através da mudança de enfoque, do meio externo para o interno, bem como da observância sensível da doutrina apresentada adiante, podemos adentrar o campo de investigação que nos levará a aprender e transmitir o conhecimento que torna a felicidade sustentável. É nesse campo – o da investigação logosófica – que dispomos de subsídios fecundos para a vida humana entendermos e enaltecermos.
Cabe, agora, sobremaneira, esta indagação de Carlos Pecotche, o Raumsol, por meio de quem a logosofia começou a ter voz, em 1930: “Como é possível, então, pensar que conhecimentos de tal nível hierárquico haverão de ser obtidos como um dom do céu, sem que para isto se requeira aplicação nem esforço algum”? (“A arte de ensinar e a vontade de aprender”)
Para aprofundar essa proposição pode ser útil apresentar a definição que elaborei após dominar a literatura logosófica básica: “A logosofia é o locus do pensamento superior que, encerrando a consciência de sua própria força, se eleva para mergulhar, porque precisa partir do que nutre a vida, para chegar à essência da vida; porque, de tão sublime, precisa ser íntimo da humildade; porque, aninhado ele, pensamento superior, na inteligência que somente a Inteligência poderia ter gerado, precisa re-conhecer seu próprio ninho, para não anular sua existência”.
Essa definição não remete a inócuas simplificações; delineia o pensamento voltado para a vida que valores menos universais mantêm alheia de si mesma e aponta a conseqüência última de sucumbirmos às “alternativas” restritivas de um self service esotérico ou à pseudo-sofisticação da endoutrinação clássica: a anulação de nossa existência.
Mesmo não havendo liberdade na crença, propala-se, em nome da liberdade de crença, o chavão “Deus te ama, deus nos ama”, que incita a ebulição do sentimento de autocomiseração, na vulga pretensão de substituir o sentir único que, inseparável do pensar superior, forja a vocação que cativa o espírito e torna sustentável o processo que culmina no pleno domínio consciente, pelo ser, da força de sua sabedoria e de sua individualidade.
“A voz sábia... é a que ensina o caminho sem extraviar o pensamento”. (“A arte de ensinar e a vontade de aprender”)
Ainda é exíguo o ensinar aludido na citação acima, apesar das conseqüências disso, estas mesmas carecendo, fora da logosofia, de explicitação consistente e exaustiva, embora magistralmente exploradas no romance de Robert Pirsig, Zen e a arte de manutenção de motocicletas (1984). É, portanto, mérito da logosofia ter suprido tal carência e assim, como ciência nova, plenamente justificado sua missão. Contudo, o ensinar sábio só pode se expandir com a ampliação do aprender sob a égide logosófica, o que representa um desafio face ao contexto antes descrito, crescentemente desfavorável.
Pensamento extraviado é perda de individualidade, desperdício maior que se verifica na escassez, já que a inteligência humana foi feita única em toda a Criação. Malgrado o ensino, o ser impõe a si a mais insuportável privação, por ignorar sua vida interna, em cujo âmago se abriga o bem que ao ser é exclusivo, perene, inesgotável, inextorquível, inintercambiável e único alavancador viável de sua felicidade.
A interpenetração entre o aprender e o ensinar, em logosofia, é o que permite descortinar o Sentido da Superação, condição na qual usufruímos de abundância enquanto sujeitos à limitação, o que, para o economistas convencionais, é um paradoxo. Para os logósofos, contudo, é a mais doce harmonia, o encontro indispensável, o fim do atrito que faz fermentar a angústia.
Ao aprendermos tanto quanto o estágio de nossa evolução em dado momento o permita, por fim deixamos tal estágio para traz [sic - trás], conscientes de que, ao longo de tal aprendizado, usufruímos sempre de abundância. O que antes era limitação, determinada por aquele estágio, converte-se em superação. E novo estágio evolutivo começa, tanto para quem ensina – também aprendendo –, quanto para quem aprende, que passa a ser capaz de ensinar.
A felicidade sustentável consiste em conhecer o conteúdo da vida. O imprescindível dar-se corresponde ao “internar-se em si mesmo tanto quanto o permita a própria evolução” (“A arte de ensinar e a vontade de aprender”), o que deve ser comum tanto a quem mais parece aprender, quanto a quem mais parece ensinar; tanto ao ensaísta, quanto ao seu avaliador.
De tão plena de recursos, a vida só pode ser conhecida em lotes, que podem ser produtivamente desembrulhados com o desdobrar-se da própria vida.
E ela se desdobra até num simples ensaio para um concurso, conquanto envolta pelo sentido da superação, que libera o espírito para o fecundo dar-e-receber do saber consciente. O conhecimento cerceado pelo senso de oportunidade é como um ventre que alimenta, mas que jamais, jamais conduzirá à luz.
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O texto do vencedor
Os colchetes contêm minha correção dos erros que este texto vencedor apresenta, incluindo falhas de argumentação ou encadeamento lógico.
TÍTULO DO TRABALHO: A Tocha e a Luminária
PSEUDÔNIMO: O Caminhante
CATEGORIA: Universitário
O mundo contemporâneo criou indivíduos cujo conhecimento se subjuga ao atendimento das demandas de uma sociedade liberal cada vez mais tecnocrata e individualista. Assim, o saber deixa de cumprir o seu papel original de ser fonte para o autoconhecimento humano. Em meio aos afazeres do dia-a-dia, a consciência do ser humano embota-se, fazendo com que ele desaprenda a aprender.
O verdadeiro processo de aprendizagem é aquele no qual o ser que busca o conhecimento vincula-se àquilo que é aprendido. É somente dessa forma que o ser humano reaprende a aprender. Nesse verdadeiro processo de aprendizagem, a habilidade de aprender vem como uma lembrança: o indivíduo passa a ter a consciência de algo que ele já possuía, mas do qual já se havia esquecido. É como se, nas palavras de Raumsol, as fibras da alma fossem reanimando-se. Fora do universo logosófico, o indivíduo comum pode ter duas posturas em um processo de aprendizagem: ou ele aprende, perseguindo o objetivo de melhorar as suas condições de vida, ou ele aprende de forma gratuita, porém frustrando-se ao final, por não saber em que empregar o conhecimento acumulado. A pessoa que possui a primeira postura com relação ao conhecimento aprende tendo diante de si uma meta a ser alcançada, [; ou .] todavia, infelizmente, tal meta sempre está relacionada a alguma demanda material da vida mesquinha. Por outro lado, a pessoa que aprende lançando mão da segunda postura [vírgula] assim o faz pelo próprio conhecimento: o saber é encarado não mais como meio para se atingir um objetivo prático. Contudo, esta última postura também é deficiente, pois o indivíduo que aprende baseado nela caminha sem direção [vírgula] por lhe faltarem metas a serem alcançadas.
Para resolver esse impasse é que importa o conhecimento logosófico. Pela Logosofia, entende-se que o verdadeiro conhecimento não é aquele que é aprendido para servilmente atender às demandas materialistas do mundo contemporâneo.
Mas, também, não é correto afirmar que o verdadeiro conhecimento é o que se abstém da realidade, alimentando-se, esterilmente, de si mesmo. Para a Logosofia, o conhecimento precisa fazer do indivíduo que o experimenta muito mais que mero ilustrado, ou seja, precisa fazer dele um criador por meio do pensamento [é possível ser criador sem ser por meio do pensamento?]. Saber manejar o pensamento criador é reanimar a vocação existencial do ser humano. O mundo contemporâneo não se cansa de produzir pessoas cuja função é apreender e reproduzir informações a fim de resolver os problemas imediatos da vida [idéia repetida]. Nesse enfadonho exercício de apreender e reproduzir conhecimentos, para que de forma rápida se resolvam questões, o indivíduo se esquece de que é capaz de pensar criadoramente [criando palavra... eu diria "criativamente"], tornando-se frustrado e infeliz.
O conhecimento logosófico considera o processo de aprendizagem como uma via de mão dupla, ou seja, aprendendo também se ensina. Ao aprender conscientemente, o indivíduo ensina a si mesmo como se aprende. Por outro lado, aprende-se com consciência para depois ensinar os outros. Quem, pela primeira vez, aprende de forma logosófica jamais toma o conhecimento adquirido apenas para si, mas, pelo contrário, cria-se em seu interior uma grande vontade de compartilhar o que se aprendeu. Dessa forma, pode-se afirmar que o conhecimento logosófico é fraternal.
Em um de seus textos, Raumsol fala de um conhecimento transcendente. A expressão “transcendente” tem dois significados. Primeiramente, transcendente é o conhecimento aprendido pelo indivíduo não para que ele dê uma resposta às necessidades mesquinhas do dia-a-dia, mas para que ele se transporte para além da realidade imediata, autodescobrindo-se. Assim, a pessoa aprende não com o objetivo de resolver problemas imediatos, mas para se autodescobrir e evoluir a partir da tomada de consciência de sua mediocridade. A solução dos problemas da vida será mera conseqüência desse autodescobrimento empreendido pelo indivíduo.
[qual é o segundo significado de "transcendente"?]
Também o conhecimento logosófico é transcendente, pois, uma vez obtido pelo ser humano, este tem a necessidade de transmiti-lo ou de ensiná-lo para os outros.
Para a Logosofia, ensinar não é meramente informar. Aquele que se encontra em aprendizagem só está apto a ensinar quando aquilo que ele aprendeu se espelha em seus atos. Eficaz é o ensino por meio de exemplos. O homem vive em um mundo de palavras vazias e vãs, incapazes de expressar a verdade. De acordo com a Logosofia, para que o aprendizado seja eficiente é necessário que aquele que pretende ensinar demonstre que aquilo sabido já é parte inerente do seu ser. Não há como ensinar se aquele que ensina não estiver em comunhão com aquilo a ser ensinado. Quando o aprendiz e o conhecimento estão tomados um pelo outro, o primeiro jamais se esquece do segundo, haja vista que se o contrário fosse o aprendiz esquecer-se-ia de si mesmo. [se o contrário fosse... faltou algo] Havendo a integração entre a pessoa que aprende e o conhecimento, o indivíduo poderá viver com mais segurança a sua vida, estando também apto a ensinar. [redundância- viver sua vida]
Como já se disse, o verdadeiro conhecimento é fraternal. Aprende-se verdadeiramente para ensinar o outro. Ensinar é compartilhar e dividir o que se tem de mais valioso. É por isso que Raumsol diz que aquele que ensina e aquele que aprende precisam ser generosos. A arte de ensinar e a arte de aprender, à luz da Logosofia, baseiam-se na noção de generosidade de Raumsol. O indivíduo é generoso ao aprender quando ele não se poupa em sua experiência com a sabedoria. Influenciado pela descoberta logosófica, o indivíduo, em uma postura de humildade, toma consciência da sua mediocridade como pensante [idéia repetida]. Essa tomada de consciência possibilita que ele saia de seu estado de inércia e caminhe rumo a sua evolução pessoal. Por meio do conhecimento, o ser evolui, mas também sente a incontrolável necessidade de ver a evolução de seu semelhante. É nesse momento que aquele que aprendeu verdadeiramente passa [a] ensinar conscientemente.
Lançando mão de uma metáfora de Raumsol, ao ensinar, o indivíduo deixa de ser tocha cuja chama do saber ilumina apenas a si mesmo, para se converter em luminária, lançando a luz do conhecimento a todos que o rodeiam. Se aqueles que aprenderem com generosidade também ensinarem com generosidade, o caminho é a formação de uma grande rede de indivíduos conhecedores de si mesmos com grande capacidade de estudo. Com a formação de tal rede, viabiliza-se a concretização de uma pátria forte que sirva de exemplo para as demais, com indivíduos providos de um invulnerável senso de nacionalidade.
Em síntese, o verdadeiro conhecimento perpassa o universo humano, obedecendo a três etapas: a primeira é aquela em que o indivíduo, ao aprender, ensina a si mesmo; a segunda, corresponde ao momento em que aquele que aprendeu de verdade, ensina o seu semelhante; por fim, a terceira, é a formação de uma rede, alçada ao patamar nacional, de indivíduos pensantes e criadores. A missão do conhecimento logosófico é completar essas três etapas, para que se possa chegar a uma coletividade de indivíduos pensantes e criadores [vírgula] contrapostos à sociedade liberal contemporânea.
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