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Friday, November 14, 2008
A fé do hibridismo e outras entortadas
Há coisas que logo conseguimos rejeitar, simplesmente descartar, e até gargalhar em função de seu ridículo. Exemplo? A cegonha como baby-delivery. Outras ilusões fazemos questão de manter – Papai Noel, Príncipe Encantado, Jesus Cristo.
Êpa! Jesus Cristo? Sim. Precisamente nesse caso, cabe indagar: o que há por trás de Jesus Cristo que o torna “impossível” de ser descartado? A resposta é: antes de mais nada, há a Igreja de Roma. Descartar Jesus Cristo equivale a se indispor com o Rei do Universo. Depois, há nossa própria ilusão, um tolo prazer do qual viramos servos.
Jesus Cristo não é mito coisa ne-nhu-ma!
É você quem o diz. Até o Papa Leão X já disse que é mito, sim. E daí?
Nada, ora. A extraordinária assessoria de comunicação do “Reino do Céu na Terra” deu um jeito. E, acima de tudo, depois que um contingente de fanáticos já comprou uma idéia medíocre, sagazmente embrulhada e fartamente endossada por formadores de opinião, nem mesmo um papa é ouvido e desfaz o equívoco, convence do contrário; ou apenas deixa lá, atrás da orelha, uma “pulguinha”.
Que mal faz Jesus Cristo? De pronto, ele apóia– portentosamente – o mal institucionalizado em Roma. Desgraça pouca é bobagem: Jesus Cristo estabeleceu a nova aliança; traduzindo, declarou e justificou o fim, o extermínio do povo da “antiga” aliança. Quem disse que tal aliança virou “antiga”? O Rei de Roma e do Universo colocou isso na boca dos inquisidores, de exploradores e até de historiadores.
A antiga “caducou”; a nova, nasceu eterna. Não, nada de conotação espiritual. Nova aliança eterna quer dizer que ninguém destrona o Rei de Roma, toma-lhe o “modesto” poder. Ele dá fim ao mundo, mas não desce.
Este discurso choca; para alguns, passa como agressivo até. Mas gargalhar da cegonha não é agressivo... Adoramos mesmo fazer pouco das superstições dos outros. Mas o fazer pouco é sempre uma pimenta malagueta quando o foco é nossa orgulhosa, imbecil e retalhada – muito mal costurada – crença.
Fim de domingo, numa farmácia de bairro nobre desta cidade “cosmopolita” (vejam só!):
- Eu acredito no poder salvífico, redentor de Cristo... Você não acre-di-ta??! - a atendente, de 18 anos, dispara, já tendo conversado comigo outras vezes, ali mesmo, na farmácia. Sempre fora muito doce, mas, naquela noite, parecia possuída.
- Bem – coço calculadamente o queixo – eu acredito em pinóquio. Você não acre-di-ta??! – imito, desarmando-a.
Isso é outra história!
Ora, a história não é outra – é a mesma velha história, na qual insisto: como dizer que você cresceu, se há coisas que você não consegue ver sob a luz?
Mais do que uma “resposta” para lidar com a incerteza sobre o que acontece após a morte, Jesus Cristo leva alguns até a fazer votos “matrimoniais”, a se casar com o tal Cristo, mesmo tendo de abrir mão de se casar com uma mulher. E daí?
E daí... não é mesmo outra coisa: temos uma “trajetória” de não-crescimento, que pode estar muito bem disfarçada e passar, para a própria pessoa, como evolução, produto de fé genuína e... amor a Deus. Praticamente ninguém pensa honestamente sobre essas três coisas, e pô-las em xeque, no que dizem respeito a terceiros, equivale a incarnar o judeu na Europa medieval.
Muito complicado; lidar com isso. Como descartar toda uma vida “baseada em Jesus Cristo”? Como rever, com total honestidade, aquela trajetória? Como suportar “chegar do trabalho” e ver a casa abaixo, descobrindo que ela era a de um tolo que a construiu na areia?
Isso é algo que praticamente ninguém suporta – e então logo se vê que de nada vale a fé do orgulhoso, uma senhora cacetada – ela é como... um chip duo core... da cegueira! Um casamento para procriar sem sexo; uma mulher exuberante na companhia de quem é inseguro e olha o tempo todo... para quem olha para ela! Tal fé resplandece na ignorância e “vira bicho” na confrontação, seja esta lúcida (raríssima) ou não. Assim, quando dou umas voltas por aí, vejo zilhões de casas na areia – muitas com um crucifixo na parede –, e até me deparo, por vezes, com curiosas construções que subsistem num híbrido estilo, parte-areia, parte-rocha. Essas construções, estranhos palacetes balança-mas-não-cai, são admiradas e seus donos são considerados sábios pela vizinhança. Foi uma construção assim que vislumbrei a partir do sermão de 7 de outubro, do Pe. M.
Maduro, aquele padre transmite, com sua exposição, segurança, seriedade, muita disciplina e bem menos criatividade. Como e por quê haveria um sacerdote de criar? O evangelho não é passível de criatividade, assim já discursou aquele que era o titular daquele missa dominical das 17,30, ao que respondo no meu livro Sermão de Amor.
Pe. M me fez mais claramente perceber outro efeito da fé, em uma trajetória bem disfarçada de não-crescimento. A fé do Pe. M permitiu a ele desenvolver e sustentar o mencionado hibridismo, através do qual elementos incompatíveis chegam a conviver aparentando harmonia. O resultado é um bastante convincente promotor dos ensinamentos de Jesus (não de Jesus Cristo, que nada ensina, só sangra), portando, ao mesmo tempo, a batina da Igreja de Roma, que não apenas trai tais ensinamentos – os insulta aviltantemente.
A fé “do hibridismo” implica que parte significativa do viver de alguém foi poupada da confrontação por terceiros e da análise isenta pela própria pessoa.
Pe. M ilustra a mentalidade que considera válidas as fidelidades “café-com-leite”: “O que a Igreja faz não interessa; o que importa é minha fé”. O psicólogo, Mr. Fowler, empregou a expressão “lealdades enviesadas”. A pessoa, lembramos, não está, inicialmente, ciente desse viés, geralmente. E, em praticamente todos os casos, repudia as oportunidades para se tornar ciente, o que resulta na persistência do não-crescimento.
Sob o título “Verdades de Mariangela Pedro”, apontei, em outra oportunidade, evidências de quão improvável é alguém dizer para outrem: “Veja! Aquele(a) que vai lá é meu (minha) amigo(a) que me ajudou a ver”. Não, ninguém faz isso, ninguém reconhece tal valor. Já ficaram gratos a mim por eu ter levado a ver uma situação, ou as políticas de determinada organização. Mas jamais por eu ter levado alguém a ver a si próprio. Discípulos de Mr. Fowler contabilizam: mais de 90 por cento das pessoas não passa do estágio inferior de desenvolvimento; em miúdos, não cresce.
Ser pecador , ou seja, pactuar com a ilusão e ser incapaz de realmente seguir Jesus, começa precisamente pela rejeição – como “mera estratégia de defesa”, de “salvar a vida” – de quem nos confronta com lucidez.
Procuro; não inimigos. Procuro outro amante da lucidez, da luz, portanto, de Jesus. E excluir a si mesmo do crivo da lucidez leva fatalmente a isto: a desconhecer Jesus, a não crescer. Contudo, persiste como otimismo injustificado meu esperar que Pe. M, diferentemente de Pe. A, não se sinta desafiado, menosprezado em sua autoridade, invadido por minhas considerações a seu respeito. Até porque ninguém se dispõe a ajudar alguém a ver, a crescer, simplesmente pela – esta sim, justa – glória de Deus Pai. Pe. M, portanto, não estará inclinado a me aceitar. O normal nos relacionamentos é pôr em cena as batidas estratégias para ser reconhecido como “amigo”.
Fé cristã, segundo discursou aquele padre, é confiar plenamente nos ensinamentos de Jesus, mas... somos “servos inúteis”, não conseguimos viver a perfeição, ele concluiu. Pe. M também me fez refletir sobre a máxima que ele propôs no domingo passado: “Deus precisa desses servos inúteis para Sua glória”. Não vejo como defender tal sentença. Ela colide com os dizeres de Jesus em “João”: “Meus ensinamentos os libertarão de fato”. “Quem peca é servo... e servo não é membro da família”.
Ensinamentos de Jesus...
O que Cristo fez e continua fazendo é justamente combater tais ensinamentos de um modo infame. Para começar, o Cristo faz-se passar pelo Jesus Mestre... estratégia – a mais infame da história – para convencer de que Cristo não é mito, que “existiu mesmo”. E incarnou, logo em quem! Então, ataca-se com a boa-nova – evangelho quer dizer bo-a no-va... Pronto, a boa nova atropela, matando, os ensinamentos. A boa nova segundo o Rei de Roma.
Bem, a verdade é que há outros “Jesus” além daquele que eu identifico como o Mestre, todos eles fundidos no “Jesus Cristo”. Mas isso só provocará ainda mais ira e, como consigo defender meu ponto apenas com “Jesus, o Mestre” e “Jesus, o Cristo”, resta justificada, neste pequeno texto, a simplificação.
É preciso rezar sempre! Concordo com Pe. M. Rezamos de fato a oração que Jesus ensinou?
O Pai Nosso aramaico, livre das propositais “simplificações” e exclusões que resultaram nas versões católica e protestante, não dá vez ao “somos pecadores” de jeito nenhum.
Seja feita a sua vontade por nós.
“Por nós”? Foi eliminado na versão cristã, em prol do “somos pecadores” – ou servos inúteis.
Voltados para o interesse que a religião nos incita, desligamos a luz, ficamos nas trevas e, ainda por cima, dormimos (ou, pior ainda, comungamos) certos da salvação. “Ninguém é perfeito”. Ou seja, não preciso me preocupar com coerência, com nenhum ensinamento de Jesus. É justamente isso que a redenção do Cristo de Mel Gibson e de tantos outros transmite: não preciso dos ensinamentos. Ensinar é apenas algo que pega bem promover ao falar da “vida” do “Jesus, o Cristo”.
“Fé não é desejar para nós”.
“...aceite este sacrifício para nosso bem...”
No domingo passado, Pe. M disse duas vezes no sermão que fé não é esperar ser atendido por Deus e receber o que se deseja. (Desenvolvi essa idéia em Sermão de Amor.) Minutos depois, ele mesmo conduz a consagração da hóstia e então conclama: - Senhor Deus aceite este sacrifício para nosso bem...
Façam do seu sim, um sim; do seu não, um não.
Alheios às nossas contradições, confiamos nos ensinamentos – e quais são eles de fato? – de Jesus, como quem confia que o sol vai nascer novamente amanhã, e nada precisa fazer para garantir que isso aconteça. É “confiar” e pendurar a faixa depois: “Agradeço a graça”.
Graça é cerne da teoria, teologia, lero-lero (o que preferir) de Paulo, não de Jesus. E Paulo é o fundador da Igreja de Roma (segundo ela mesma), e não Jesus. Paulo fundou, mas as chaves foram parar nas mãos de Pedro... ai!
Eliminando-se o lixo da cristologia, do anti-semitismo, dos fornos, anjos e... (deixe para lá), os textos do Novo Testamento, especialmente os evangelhos, revelam Sabedoria, Perfeição em ação (como nos debates entre o Mestre e as autoridades) e Profecia de fazer o queixo cair:
Não chamem ninguém na terra de pai... Vocês só tem um único pai e ele está no céu.
O Rei de Roma e do Universo adotou justamente o apelido de PAI! (papa). E o avesso do ensinamento de Jesus ficou escancarado para quem vê: “Temos um pai carrasco que adoramos. Com ele aprendemos o que é preciso para viver – o jogo do esconde-esconde”.
Cacetada!
Pe. M, apesar de irremediavelmente subordinado ao papa, parece-me alguém que “decidiu” seguir Jesus, adaptando-o à teologia incongruente do Fundador e considerando sua própria avaliação de suas limitações, não confiando de fato no ensinamento de Jesus mais crucial – o de realizar a vontade do Pai do céu na terra (e não fazer a vontade do pai da terra, achando que ganhará o céu). Qual é o problema?
Temos uma “solução”. Uma que contraria os ensinamentos de Jesus. Para adotar tal “solução” – permeada por uma lealdade enviesada – filtrou-se muito de dados e os vieses se multiplicaram. Em suma, tem-se a incapacidade de se ver as coisas como elas de fato são. E isso começa por incluir o pregar algo no sermão e logo depois contradizê-lo atrás do altar.
Exceto pelo tom um tanto baixo (justificado, me parece, por um problema físico), é agradável ouvir Pe. M; não cansa o ouvinte, não recorre aos truques de que abusa o vigário. Mas, no conteúdo, bem disfarçado, está o “café-com-leite”, a contradição. Quase ninguém a pega: Jesus a pega, através do “inimigo” (eu, no caso), para que o próprio engenheiro da contradição venha a refletir profundamente sobre ela.
Por certo, tal não é nada, nada fácil. Há um baú, cheio de coisas deste mundo que, no fim do dia, acaba pesando mais do que “nossa confiança nos ensinamentos”. Então, resta confiar na – e finalmente descobrir a – fé superior, de Jesus, o Mestre.
Escrito em 9 de outubro de 2007, terça-feira
intitulado anteriormente: Meu domingão não é do Faustão, mas é uma cacetada
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