Thursday, October 16, 2008

Ensaio sobre a cegueira - um ensaio



 

O filme não vai mudar seu modo de ver o mundo. Mas este comentário, certamente, vai mudar seu modo de ver o filme.





Para que falar sobre cegueira, para aqueles
que pensam que enxergam?
Mariangela Pedro
 
 
 

"Ensaio sobre a cegueira" (Blindness) apresenta cegueiras em si mesmo.

Primeiro, há um erro banal de tradução, na cena entre o médico e a paciente que lhe pede "ordens para manter o uso dos óculos escuros" (a sobrinha da Sonia Braga, Alice Braga):

"Ok. I order you to wear sunglasses, unless you're bathing or sleeping", diz o médico.

A legenda sai assim:... que você use óculos escuros, só no banho e para dormir.(!!)

Então... a paciente, pouco depois, desobedece, ao fazer sexo (prostituição) usando os óculos!
Unless pode ser traduzido como "a menos que", e também tem o sentido de
exceção feita a.
Assim, quem depende das legendas, já nesses primeiros minutos de projeção começa a ficar perdido... feito cego. Quem domina o inglês, tende a ficar cego de raiva por ter escolhido este filme, e não Mama mia!
 
A prostituição é justamente a razão da insólita "ordem médica", que o beiçudo médico assina com um sorriso maroto de evidente cumplicidade sexual.
Quem não vai embora depois disso, descobre que o filme não preza mesmo a sutileza - ressalta as condições físicas em que passam a viver aqueles primeiros tomados pela "cegueira como um nadar em leite", que são bruscamente isolados, em quarentena, pelas autoridades. As cenas viciam o olhar para o nu, em todos os ângulos, dos personagens de ambos os sexos; os excrementos; as feridas. E não conseguem incutir, com semelhante densidade, os aspectos psicológicos envolvidos, exceções à cena da chuva (que, por ser única, mostra-se despropositada, patética) e, explicitamente, quando "O Reino dos Cegos se espreme em torno de uma AM/FM", então guiado pelo sábio cego que não deixa seu tapa-olho jamais.
 
Com o olhar em muito perturbado pela direção voltada, equivocadamente, para as obviedades de uma epidemia de cegueira ipsi literis, o espectador, aposto, sequer consegue ler, numa das cenas da última parte do filme, a legenda com esta ótima fala: ".. ele é orgulhoso demais para ser um cão-guia".

Assim, ao longo de todo o filme, as cegueiras vão se multiplicando dos dois lados - na tela e no espectador. Quem é que nota que a paciente-prostituta é uma das mais favorecidas pela "cegueira", porque deixa de usar os óculos escuros, ao se sentir livre para mostrar seu bonito rosto? E nota ainda que ela, antes de ir para o hotel atender a um cliente, ainda com sua visão usual, toma um típico cab (táxi amarelo de Nova York) em plena Av. Paulista? (Aqui foi o diretor quem apostou que quase ninguém tem tal capacidade de observação, apesar de ver.)
 
Quem deixou a sala de projeção com a idéia de criar e patentear uma espécie de camisinha para os olhos, para prevenir a tal Doença Branca? Se você acha que pode levar a idéia adiante, não perca tempo, meu leitor! Eu tive a idéia, mas não creio ser capaz de levá-la a cabo. Ela me ocorreu ao lembrar da cena em que a prostituta vai à farmácia. Não posso afirmar (este detalhe nem eu peguei) que ela compra condons, mas tudo indica que sim. O que eu notei foi a decoração da farmácia, que remete à da cadeia Onofre. Então, a personagem de óculos escuros é rude com o caixa, fluente em inglês, enquanto ao fundo pode-se ler harmonia. Detalhe bobo? Harmonia. Está em português. sim senhor(a). Em seguida, a prostituta deixa a farmácia e toma o tal cab nova-iorquino... e ninguém nota nada de estranho.
 
Desculpe-me se isto fere seu brio, mas é claro que tal "desatenção" é parte da ampla cegueira que o livro homônimo de José Saramago retrata; pena que essa versão cinematográfica, de Fernando Meirelles, quer, parece, dela apenas caçoar, se não com ela lucrar, sem mérito algum.
 
A cegueira do diretor, de qualquer modo, fica evidente aos que enxergam. Ele é dado a clichés, coisa típica dos cegos que acham que enxergam. Apontando alguns desses clichés:
1) Foco, por vários segundos, nas frutas sobre a mesa, no instante em que o médico e a mulher deixam sua casa - ele cego, ela não. E, quando retornam, acompanhados, da quarentena, novo foco nas frutas, agora murchas. Mais banal e dejà vu do que isso?;
2) Foco também incoerentemente longo numa mulher gorda largada sobre uma cama, de bruços. (todos têm a impressão de já terem visto esta imagem, precisamente daquela mulher, centenas de vezes);
3) Dispensáveis, além de caricatas, as cenas prêt-à-porter de desastres aéreos e rodoviários.
 
Além disso, há diversas cenas que resultam gratuitas por não contribuirem para um desenvolvimento coeso e coerente da trama. Entre elas:
1) a cena do incêndio na ala 3, provocado pela ex-secretária do médico (ironicamente, sim, um oftalmologista);
2) a cena em que o médico tenta discutir a relação e provoca a esposa, afirmando que teme que ele não venha mais a ser capaz de fazer sexo com ela, porque ele agora a vê como mãe ou enfermeira dele. A esposa o repele, pouco se lixando (afinal, que novidade há nisso para ela, que sempre agiu como mãe dele?). Diante dessa reação, o médico bruscamente muda de assunto, pedindo que ela não se entregue, não declare que "pode ver". Ele teme, de fato, pela vida dela? Não; a meu ver, ele não quer é que ela passe a ser, formalmente, a líder do grupo! É isto, portanto, o que já estava por trás de "o que será de nós dois" de antes, e não o possível desinteresse sexual. Essa disputa de poder fica, também, perdida, sob a má direção;
3) a cena da negociação de sexo por comida entre duas alas de cegos. "Quem estiver naqueles dias, nós não queremos". E a mulher do médico faz questão de responder, vendendo o peixe: "Ninguém está naqueles dias"! (conotação de um ainda bem, porque todas nós estamos ansiosas para nos prostituir! ou, pior ainda, de um concordo com você que somos inferiores, ou sequer somos gente, naqueles dias.) Isso distrai os cegos em frente à tela, enquanto só entediaria uns poucos iluminados, porventura também diante dela.
4) a cena que destaca a mala chique, tão cuidadosamente arrumada pela esposa do médico. Onde vai parar a mala? Não se sabe como ela se extravia de vez. Nem mesmo quando os presos na quarentena dão o que ainda lhes resta em troca de comida, tal mala volta a aparecer. E a mulher do médico chega a fazer o esposo dormir sem a roupa do corpo, dizendo que a lavaria... no dia seguinte! Ela, em sua obsessão de dona de casa, não suporta vê-lo sujo; ele é que fique com o corpo exposto, mas que a roupa suja já esteja à sua espera, para ser levada muitas horas mais tarde. Miraculosamente, suas próprias roupas brancas jamais ficam sujas...
 
Em resultado dessa inconsistente abordagem, o diretor consegue detonar o livro de Saramago, vendendo algo totalmente diferente, como uma "adaptação" da obra do escritor português, laureado com o Nobel. Fiquei convencida de que o próprio diretor não entendeu nada sobre a cegueira do ensaio. A falta de sensibilidade para o espiritual o levou a privilegiar a imundice ambiental de uma cegueira física - e, quanto a isso, o centro de São Paulo, em especial, constituiu cenário irrepreensível.

Nem mesmo a degradação moral "aparece" com algum requinte. Somente quem não é normalmente "cego" viu com muita clareza a hipócrita sutileza do médico ao declarar que "cada mulher deve decidir, segundo o que lhe restou de moralidade". A questão aqui também é a troca de sexo por comida, e o médico declara aquilo sabendo que sua própria esposa estava entre as mulheres que, se aceitassem fazer sexo com os homens da outra ala de cegos, poderiam obter comida para o grupo de sua ala. A mulher do médico, diante da "orientação" deste, junta-se às mulheres que topam o sexo por comida.
Depois disso, o médico oftalmologista jamais volta a apresentar sequer reles traços de liderança sobre os cegos, sobre cuja condição ele nada consegue afirmar (ironia das mais finas...); a eficiente mulher - que até então vivera à sombra do esposo médico - rouba a liderança deste e torna-se a líder de fato do grupo. Em função do fascínio que detém em relação a essa liderança, ela mal guarda o segredo de que pode ver. Ela permanece centrada em si mesma, e em ninguém mais.
Mas isso sou eu quem vê.
E ninguém mais?
 
Dentre tantas cegueiras, ilude-se quem supõe que The New York Times servirá de colírio. Feito cego em tiroteio, o jornal interpreta, em resenha, que a tônica do filme é a responsabilidade pelos outros. Alguns periódicos internacionais chegam a aventar que a mulher do médico é um anjo, já que é a única pessoa a não ser acometida pela Doença Branca, e cuida de todos os outros (não, ela cuida apenas daqueles de sua ala). Um pouco mais de corrida com os olhos e aprendemos que ela tingiu os cabelos, do ruivo para o loiro, para evocar melhor a imagem de um anjo. E as indestrutíveis roupas brancas serviriam para este mesmo objetivo.
 
Ora, então temos um anjo que mata, com um golpe de tesoura, o chefe da ala 3!
Não há como concordar, de modo algum, que o foco seja a responsabilidade. A mulher do médico é, claramente, uma pessoa eminentemente carente, obcecada por cumprir tarefas: fazer sobremesas para o marido, fazer o café assim que pula da cama (sem esquecer o beijinho também maternal, automático), etc. É com esse estilo comportamental que ela lidera, no confinamento da "quarentena", o grupo de cegos da primeira ala - não se tem uma liderança de coração, mas uma liderança de tarefa. Isso é patente. Ela chega a explodir em lágrimas ao simplesmente notar que esquecera de dar corda em seu relógio. Nem este isolamento do mundo a esmorece - ela é exímia no limpar bundas, no contar histórias para uma criança. Isso ainda se mantém, mais tarde, finda a quarentena: "Neste lado temos carrots and peas, no centro, crackers and (não me lembro) e na outra extremidade, anchoves".
 
Lamento, por isso, que o filme acabe justamente quando é a vez de ela ficar "cega" - deixaria de ser tão chata, com certeza.

"Fiquem juntos; não quero perder mais nenhum de vocês". Esse pavor de ficar só - e servir compulsivamente a quem, então? - foi justamente o que levou a mulher do médico a decidir ir com o marido para a quarentena. E ela assim o decide não no último segundo, como somos levados a crer, mas chega a planejar isso, enganando o marido, o que fica claro quando se nota, por fim, que ela trancara a casa quando, supostamente, saíra até o portão apenas para se despedir do esposo. "A casa está trancada, mas isso não significa que não haja ninguém", ela alerta aos demais, ao retornarem da quarentena e serem convidados a morarem com ela.
 
Altruísmo? Não, ela não suportaria agora ficar sem o inebriamento de exercer sua maternidade sem limites sobre mais alguns, uma vez voltando a viver só com o esposo. Este, de volta ao lar, faz sexo de novo com a mulher, de modo tão apaixonado que ninguém consegue ver nele aquele homem que declarara à esposa temer pela relação entre eles (portanto, a disputa pelo poder, resta comprovado, era mesmo o cerne da questão). Enquanto tem relação sexual com ela, toca-lhe a face e, após o clímax, diz-lhe que tudo de que ele precisa é se lembrar do rosto dela, o que ele jamais declarara e não o declararia, não tivesse ficado "cego".
 
Mas... essa esposa, que tudo vê, se mostra, diante de tanta entrega, um dead-fish, um peixe-morto. Aliás, esta foi a queixa de um dos homens, da ala dominadora, sobre o desempenho sexual de outra das mulheres que então transavam por comida e que, por isso, é espancada e morre. Procure notar, leitor, como um dead-fish se refere a outro: a atriz principal (Julianne Moore) finalmente cresce em sua performance, na cena em que a mulher do médico informa sobre a morte por espancamento a um dos homens envolvidos no bacanal assassino, que sequer notara um crime violento na "festa" - e a cegueira, neste caso, não faria, como de fato não fez, a menor diferença.
 
Dead-fish? Tudo é relativo. A mulher do médico, após a primeira lauta refeição com seus liderados, uma vez reconquistada a liberdade, vai tomar banho com as demais mulheres, ainda cegas. Ela, então, nada espelha daquela indiferença de durante a intimidade com o marido; transformada de súbito, ela, acompanhada no chuveiro por pessoas do mesmo sexo, mostra-se um júbilo só; sorri abertamente, pela primeira e única vez. Quem diria? Não; a maioria cega não notou nada, não foi? (Nem mesmo o estômago saliente e a flacidez?)
 
Diante de todas essas considerações, proponho estas perguntas:
 
Que propósito pode haver em falar de cegueira para quem, arrogantemente, acha que enxerga perfeitamente?
 
Quem é mais idiota? Quem atira às cegas na direção do alvo, ou quem, com visão, grita de volta para tal atirador: "Você errou"?
Esta segunda pergunta remete à cena em que um dos líderes da ala até então dominadora atira contra a líder da outra ala (a mulher do médico) que - ele acabara de descobrir - vê. Ele erra; ela berra em resposta: "Você er-rou"!!
 
Aqui, isto me parece servir muito bem para identificar duas pessoas: o diretor do filme e eu mesma; ele atira, sem ver, contra sua audiência, que (pensa que) vê. Eu, com este longo comentário, não berro, mas tudo pode ser resumido num: "você errou"!!, já que o filme não foi capaz de deter quem quer que seja, em sua ignóbil cegueira, para vir a, finalmente, refletir, ao menos um pouco, sobre ela.
 
A mulher do médico em nada mudou com a catástrofe da Doença Branca, pela qual passou, em todos os sentidos, incólume. Tão-somente pouco antes de o primeiro "cego" recobrar a visão é que ela parece prestes a assumir sua homossexualidade... e ficar "cega" finalmente.
 
Esta, portanto, poderia ser a tônica do filme, se a adaptação do livro fosse bem-sucedida: quão poucos, dentre toda a população acometida pela "cegueira", mudaram para melhor. O homem que usa um tapa-olho todo o tempo louvou, de passagem (o diretor destinou bem mais tempo aos desastres e nus), a intimidade que a cegueira lhe proporcionara. Pelo que nos é mostrado dos cegos que perambulavam pelas ruas, para estes a cegueira apenas passou a justificar o exercício do pior que já prevalecia em cada um deles, antes da 'doença'.
 
Afinal, a cegueira era física ou não?
Se fosse estritamente física, não teríamos - nem mesmo nesta má direção - os aspectos que enumero a seguir. O diretor, contudo, não conseguiu ele mesmo entender tal cegueira como não física e, assim, apenas 'jogou' coisas espirituais do livro de Saramago, em meio aos tumultos e baixarias que priorizou nas cenas. Reparem que:
 
1) as ruas não mostram nenhuma criança. Há apenas aquela que estava no consultório do médico e que vai também para a quarentena (sem os pais, que não são encontrados). Há vários cães pelas ruas... e eles não estão cegos, apesar de até comerem carne de seres humanos mortos, acometidos pela doença. Portanto, a cegueira é peculiar aos seres humanos;
 
2) nenhum dos personagens tem nome. Não é à toa; isso está diretamente ligado a uma fala que, entretanto, como tantas outras, lamentavelmente não se encaixa no contexto criado pelo cineasta e fica perdida: "... nosso lado sem nome. É isto que somos". Tal filosofia de cego resultou totalmente irrelevante e desconexa, ao ser exteriorizada logo após a cena da pancadaria por comida, no que restou do supermercado estrangeiro que, só no filme, dá acesso direto ao centro de São Paulo, transformada, com esse hibridismo de cenários, em Cidade da Cegueira, finalmente livre, como tal, do medonho trânsito (mas a produção se esqueceu de mostrar, então, pelo menos um cab destruído ou abandonado na rua).
 
3) tendo o médico atendido o primeiro paciente cego, procura associar o caso à agnosia, termo que a mulher do médico especula como afim de agnosticismo, o que, entretanto, não tem natureza neurológica, referindo-se à dúvida em relação à existência de Deus. Outro furo é que a mulher, diante da reação de ceticismo do marido a sua especulação, indaga: "Você não estudou latim"? O médico responde: "Na verdade, [estudei] grego". E os referidos termos são de fato gregos e não latinos!
 
4) alguém decidiu colocar vendas nos santos da igreja, e também no Cristo crucificado. Por quê? Boa pergunta. Que, também, não é explorada no filme. Mas a cegueira tanto não era fundamentalmente física, que (também "de passagem") a câmera capta um pregador na igreja, no momento em que ele declara: "Paulo também foi agraciado com a cegueira..." (fina ironia, isso claramente tem a ver com Saramago, mais um excomungado.)
 
O trailer do filme proclamou este chavão: "Pior do que ser mais um que não vê é... ser o único que vê". Isto sugeria que o filme seria minimamente fiel à cegueira-marca-registrada de Saramago. Contudo, ninguém fica nem mesmo convencido do alívio de deixar de ser o único que vê quando, tendo um dos cegos recobrado a visão, a mulher do médico vai até a sacada, sorrindo estranhamente.
 
Ninguém, percebi, entende nada. Até porque, é ela quem, então, passa a ver o mar de leite.
Esse mar de leite, podemos concluir com segurança, não tem natureza neurológica. Contudo, o filme não se desenrola para a exploração devida da causa espiritual. Assim, precariamente, o filme aponta, e apenas para os muito perspicazes, duas condições antagônicas, ambas identificadas como "cegueira". Complicado, não? Duas coisas opostas, mesmo nome - cegueira.
 
Isso porque há os pontos de vista.
Ou seja, quem, com a epidemia da Doença Branca, passa a ver seu lado essência, "sem nome", é considerado doente, cego pela sociedade... que, esta sim, é cega para quem vê o essencial. A sociedade, em nome de ser maioria, e até mesmo clamando, como no filme, "proteger os demais" (conheça bem uma paróquia católica e entenderá melhor o que digo), isola aquele que vê a essência (alegoria da quarentena).
 
Se continua complicado, pelo menos estou certa de ter convencido o leitor de que adaptar Saramago não é para qualquer um.
Por isso, o mais confusamente possível, cegueira e cegueira se alternam no filme, o que sequer fica evidente para quase ninguém. O que fica no final é apenas a confusão, sem distinção das cegueiras.
 
Dúvida não deveria haver de que, forçados a ver a si mesmos, os seres humanos não reconhecem a luz interior, que transcende a existência material; chamam tal luz de "mar de leite", apavorados. Quase todos os seres estão tão corrompidos, que forçá-los (alegoricamente, com uma epidemia) a ver é deixá-los desorientados e, assim, ainda mais agressivos, arrogantes, egoístas.
 
Em suma, quase ninguém enxerga o relevante. Isso é incrivelmente patético, tendo em vista um filme que pretende abordar essa cegueira praticamente incurável, de que não escapou o próprio diretor. Ele acaba, no fim do dia, com o irônico mérito de ter feito um filme pautado na sua pretensão de ver, para uma audiência ainda mais convencida de que vê e do que vê.
 
Resultado: ninguém gosta do filme.
 
Mas Saramago está certíssimo - só mesmo uma epidemia para salvar alguns e levá-los a recomeçar, de forma diferente.

 
Nota: Este meu comentário nem de longe se assemelha com os publicados na imprensa internacional; há apenas algum eco, em relação a um ou outro aspecto negativo. Para conferir, uma boa referência é a página wikipedia, que oferece lista de links aos comentários dos principais periódicos do mundo.

Mariangela Pedro
20 outubro 2008, como versão expandida do publicado, sob o mesmo título, em 16 de outubro.

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