Tuesday, January 8, 2013

Relaxa! Não vai dar em nada! Diretora da USP verbaliza o sentimento do brasileiro sobre corrupção


O governo maquiou as contas públicas no final do ano. Uma pessoa, gerente de uma rede de fast food, tinha marcado de me receber: "Ponha na sua agenda"! - dando garantias de que era certo, era um compromisso. Não apareceu, não deixou recado.
No Brasil, desde a tenra idade, pode-se estar exposto à prática que, na voz da nação, foi diminuída em sua gravidade: virou apenas 'jeitinho'.

 Dois meninos pobres tentavam vender seus artigos de bomboniére para os passantes, ontem à tarde, no Conjunto Nacional, complexo de edifícios marco da cidade de São Paulo. Um segurança de uniforme preto caminhava junto a eles. Então, um dos meninos dá ao segurança um de seus produtos para venda informal
Em seguida, em vez de serem postos para fora do local, os meninos entram na loja Glee. O segurança põe a guloseima no bolso. Suborno. Já aprenderam, bem cedo.

Se você está jubilante porque seu filho ou filha entrou para a USP, talvez passe a pensar melhor a partir de agora. A USP é o local onde eu mais aprendi sobre corrupção associado à impunidade.


Nove anos como aluna regular: quatro anos e meio de mestrado (concluído com louvor e distinção), mais o mesmo tempo de doutorado - interrompido na ´'véspera' do protocolo da tese, por... corrupção.

Você saberia definir corrupção? Tomo-a como bem mais ampla, em conceito, do que a maioria dos brasileiros.

Este blog contém muito sobre meu doutorado. Aqui vamos relatar algo mais recente.

A partir de maio passado, passei a fazer uso de armários na biblioteca da Engenharia Civil, na Escola Politécnica - Poli, da USP. Tinha a chave de seis armários. Em meados do segundo semestre, trocaram as fechaduras. A funcionária dizia que eu só poderia tratar sobre a questão com a bibliotecária-chefe, no caso, Maria de Fátima S. Lanza. O problema: só no horário comercial, com uma hora e meia a duas horas para almoço. Devido a compromissos, só podia ir lá a noite, ou aos sábados, quando ela não estava.

Perto do fim do ano, consegui encontrar Lanza na biblioteca. Ela me deu uma versão sobre o destino das minhas coisas. Mencionou a diretora de todas as bibliotecas da Poli, Maria Cristina Olaio Vilela.
No mesmo dia, fui ter com esta, que me repreendeu por ter feito uso dos armários, mentiu quanto ao que eu havia lá deixado. E só. Não disse o que haviam feito com muitas coisas. "E...", incitei-a a continuar. Ela respondeu: "E aí o quê? O que mais você quer que eu diga".

Pedi-lhe, então, que me acompanhasse até a sala do diretor geral, Dr. José Roberto Cardozo. Maria Cristina Olaio caminhava entre mim e uma de suas funcionárias, pelo corredor. Quando a última cochichou algo que não pude ouvir, a diretora, ainda bem ao meu lado, não hesitou em declarar em bom som: "Relaxa. Isso não vai dar em nada".

Na antessala do diretor, Sueli Rossetti, uma de suas secretárias, fez 'charme' para marcar uma reunião. Por fim, marcou uma data para a semana seguinte. Logo após deixar a sala, retornei para perguntar a Sueli o email dela. Peguei as três funcionárias numa conversa de comadres. No dia seguinte, Sueli envia-me um email desmarcando a reunião com o diretor, sem marcar nova data. E não o fez até hoje.

"Que sacanagem!" - este é o uníssono de meus conhecidos e amigos, já a par disso. Um deles pergunta: "O que você acha que fizeram com suas coisas"?

Não foram todas para o lixo. Isso, com certeza. Ficaram com muitas das minhas coisas.
Antes de listar o que deixara nos armários, vamos deixar bem claro que, além de terem ficado com coisas minhas, aquelas funcionárias:
a) mentiram sobre o conteúdo dos armários;
b) foram contraditórias quanto ao que fizeram com meus pertences. A diretora disse uma coisas para mim. Instantes depois, disse outra coisa diante da secretária do diretor.
c) Mais assustador, Maria Cristina Olaio Vilela foi a autoria da vil sentença, que parece consagrada em toda a nação: "Relaxa; isso não vai dar em nada". Dito, pois, por uma funcionária pública, em cargo de direção.

É interesante observar que todos os envolvidos são mulheres.

Vocês, leitores, acham que elas jogaram tudo o abaixo simplesmente fora?

1) Uma malha muto pesada, de linha, tricô, gola alta, muito cara.
2) Uma bata preta da Lelis Blanc, que eu estava para reformar, em alguma hora de almoço.
3) Uma bolsa novíssima, emborrachada, cinza claro, com várias taças de cristal, acondicionadas, individualmente, na embalagem original (caixas de papelão), ainda lacradas.
4) corte de renda preta (tão em moda), que eu usaria, em parte, para reformar a tal bata de marca (aplicar a renda em locais estratégicos, dada a transparência).
5) posters dos galãs da série Crespúsculo.
6) Um escarpin preto, chic, precisando de reparos (iria para o sapateiro. Melhor, inicialmente, eu o levaria ao sapateiro).

Foi tentação demais?
Além disso, havia outras peças de roupa, dois dos armários estavam abarrotados de material (revistas, brochuras, material de congressos, manuscritos meus), além de haver mais algum material pelos demais armários.

Eis, em lista, o nome das principais funcionárias envolvidas, mencionadas antes:

MARIA CRISTINA OLAIO VILELA - diretora  das bibliotecas da Poli tel: (011) 3091-5609
SUELI ROSSETTI - secretária do diretor geral da POLI (011) 3091-5221/5223/5550
MARIA DE FÁTIMA S.LANZA - bibliotecária-chefe da biblioteca da faculdade de Engenharia Civil
(011) 3091-9023

Não é nada agradável publicar esses nomes, atrelado a feitos repugnantes. Mas não fazê-lo é tornar-se conivente com o "não vai dar em nada". Ao menos, deu nesta publicação.
É enojante, para quem ainda tenta fazer valer a honestidade, ver-se diretamente nessa situação.
Antes de publicar isto, procurei tratar os desvios dentro da USP. É tal a contaminação nessa instituição, que já parece absolutamente natural abusar. O poder é entendido precisamente assim: podemos abusar. E não vai dar em nada.

Antes de isso ir ao ar, deixei o texto programado para o dia seguinte. Assim, ainda faria mais uma tentativa - de sucesso bastante improvável - de ver uma reação digna da USP.

digitado em 07 de janeiro de 2013
programado para publicação em 08 de janeiro de 2013

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