Wednesday, November 7, 2012

A melhor tradução do discurso completo de Obama, 06.11.2012 - o discurso da vitória


 O trabalho do cidadão, em nossa democracia, não tem fim com o voto. América nunca teve a ver com "o que pode ser feito para nós". Tem a ver com "o que pode ser feito por nós"...
Discurso do Presidente Barack Obama, em Chicago, depois  de sua reeleição na noite de ontem. Esta é uma tradução de Mariangela Pedro, editora deste blog, da transcrição feita por Roll Call, extraída de blog do Wall Street Journal http://blogs.wsj.com/washwire/2012/11/07/transcript-

Esta noite, mais de 200 anos após uma colônia ter ganhado o direito de determinar seu próprio destino, a tarefa de aperfeiçoar nossa união avança.
Ela avança graças a vocês. Ela avança porque vocês reafirmaram o espírito que triunfou sobre a guerra e a depressão; o espírito que ergueu este país, das profundezas do desespero, para as grandes alturas da esperança; a convicção de que, enquanto cada um de nós persegue seus próprios sonhos, nós somos uma família americana e que escalamos ou caímos juntos, como uma só nação e um só povo.
Esta noite, nesta eleição, vocês, o povo da América, fizeram-nos lembrar que, embora nosso caminho tenha sido difícil, embora nossa jornada tenha sido longa, nós nos recompusemos; nós retomamos a luta, e sabíamos, no fundo do nosso coração, que, para os Estados Unidos, o melhor ainda está por vir.
Desejo agradecer a todos os americanos que participaram desta eleição, quer você tenha votado pela primeira vez, ou tenha esperado na fila por muito tempo. A propósito, precisamos dar um jeito nisso. Se você bateu perna ou usou o telefone, se portou um símbolo Obama ou um símbolo Romney, você fez com que sua voz fosse ouvida e você fez a diferença.
Acabei de falar com o governador Romney e cumprimentei-o, bem como Paul Ryan [NT], pela campanha acirradamente disputada. Talvez tenhamos (os democratas) lutado mais impetuosamente, mas isso é graças ao fato de amarmos este país profundamente e importarmo-nos tão seriamente com nosso futuro. De George a Lenore, incluindo seu filho Mitt, [NT] a família Romney escolheu retribuir à América por meio de serviço público, e este é o legado que honramos e aplaudimos esta noite. Nas próximas semanas, também almejo sentar-me com o governador Romney, para falarmos sobre como podemos trabalhar juntos a fim de levar este país a avançar.
Desejo agradecer a Joe Biden, meu amigo e parceiro dos últimos quatro anos, um feliz guerreiro da América, o melhor vice-presidente que qualquer um esperaria ter.
E eu não seria o homem que sou hoje sem a mulher que concordou em casar-se comigo há 20 anos. Deixe-me dizer isto publicamente: Michelle, jamais a amei tanto. Nunca fiquei tão orgulhoso ao ver toda a América também apaixonar-se por você, como a primeira dama da nação. Sasha e Malia, bem ante nossos olhos, vocês estão crescendo para serem fortes; serem mulheres jovens, bonitas, inteligentes, como sua mãe. E estou tão orgulhoso de vocês, meninas [NT]. Mas devo dizer que, por ora, um cão é o suficiente. [NT] 
Ao melhor time de campanha, e aos melhores voluntários, na história da política. Os melhores. Os melhores de todos os tempos. Alguns de vocês eram novatos, outros estão ao meu lado desde que tudo começou. Mas todos são da família. Não importa o que façam, ou aonde forem a partir de agora, vocês levarão a memória da história que fizeram juntos e terão, por toda a vida, o apreço de um grato presidente. Obrigado por terem sempre acreditado - ao longo de cada colina, de cada vale. Vocês me deram ânimo ao longo de todo o trajeto e sempre serei grato por tudo que vocês fizeram, por todo o incrível trabalho que devotaram.
Sei que campanhas políticas podem, às vezes, parecer coisas menores, até tolas. E isso serve de carniça para os pessimistas que vociferam que a política nada mais é que uma batalha de egos ou o predomínio de certos interesses. Mas, se algum dia vocês tiverem a oportunidade de falar com gente que deu as caras em nossas reuniões, que se juntou à multidão em fila, no ginásio de uma escola, ou que viu outros trabalhando até tarde, num escritório de campanha, em algum condado pequeno, longe de casa, então descobrirão algo mais.
Então, vocês ouvirão a determinação na voz de um jovem organizador de campo, que procura bancar sua faculdade e deseja assegurar que toda criança tenha aquela oportunidade também. Vocês, então, ouvirão o orgulho na voz de um voluntário, que vai de porta em porta, porque seu irmão foi, finalmente, contratado quando a montadora abriu um novo turno. Ouvirão o profundo patriotismo na voz da esposa de um militar que, altas horas da noite, faz campanha pelo telefone, para garantir que quem luta por seu país jamais tenha de lutar por um emprego, ou por um teto, ao voltar para seu país.
É por isso que nós fazemos isso. Isso é o que a política pode ser. É por isso que eleições importam. Não são coisas pequenas; são grandes. Importantes. Democracia em uma nação de 300 milhões pode ser ruidosa, confusa, complicada. Temos nossas próprias opiniões. Cada um de nós detém profundas crenças. E, quando passamos por tempos difíceis, quando tomamos grandes decisões na condição de país, paixões e controvérsias são necessariamente avivadas.
Isso não mudará depois desta noite - nem deve. Esses argumentos são a marca de nossa liberdade. Jamais podemos esquecer que, enquanto falamos aqui, pessoas em nações distantes arriscam suas vidas apenas para terem uma chance de opinar sobre as questões que importam; pela chance de dar seu voto, como fizemos hoje.
Apesar de nossas diferenças, a maioria de nós partilha determinadas expectativas para o futuro da América. Queremos que nossos filhos cresçam num país em que eles tenham acesso às melhores escolas e professores. Num país que corresponda ao seu legado como um líder global em tecnologia, descobertas e inovação, com todos os bons empregos e empreendimentos decorrentes.
Queremos que nossas crianças vivam numa América que não seja castigada por dívida; que não esteja enfraquecida pela desigualdade. Que não esteja ameaçada pelo poder destrutivo de um planeta cuja temperatura aumenta. Queremos passar para elas um país que é seguro, respeitado e admirado ao redor do mundo; uma nação que é defendida pelo melhor poderio militar da Terra e pelas melhores tropas que este... este mundo jamais viu. Mas que também seja um país que siga, com confiança, também em tempos não beligerantes, de modo a construir a paz que repousa na promessa de liberdade e dignidade para todo ser humano.
Acreditamos numa América generosa; numa América sensível e tolerante, aberta aos sonhos da filha de um imigrante, que estuda em nossas escolas e reverencia nossa bandeira. Acreditamos numa América assim, também para o menino da área sul de Chicago, que perscruta uma vida muito além da próxima esquina. E também para o filho de um marceneiro de Carolina do Norte, que quer ser médico, cientista, engenheiro ou empreendedor; diplomata, ou até mesmo presidente - é este o futuro que acalentamos. É esta a visão que partilhamos. É nesta direção que precisamos ir - adiante. É para lá que precisamos ir.
Bem; vamos discordar, às vezes acaloradamente, sobre como chegar lá. Como aconteceu por mais de dois séculos, o progresso virá erraticamente. Não se tem uma linha reta. Não se tem sempre um caminho suave.
O reconhecimento, por si só, de que temos expectativas e sonhos em comum não porá fim a todo o impasse, nem solucionará todos os nossos problemas. Tampouco será um substituto para o doloroso trabalho de construir consenso e firmar acordos difíceis, necessários para levar o país adiante. Contudo, aquele vínculo comum é o ponto do qual devemos partir.
Nossa economia está-se recuperando. Uma década de guerra está terminando. Uma longa campanha (eleitoral) teve fim. E, quer eu tenha tido o seu voto, quer não, eu ouvi você, aprendi com você e você me fez um presidente melhor. E, com suas histórias e suas labutas, retorno à Casa Branca mais determinado, e mais inspirado que nunca, em relação ao trabalho a fazer e ao futuro que desponta.
Hoje, vocês votaram esperando ação, e não "política como de costume". Vocês nos elegeram para que foquemos em seus postos de trabalho, não nos nossos. Nas próximas semanas e meses, pretendo reaproximar-me dos líderes de ambos os partidos, trabalhar com eles para enfrentarmos os desafios que, somente unidos, superamos. Reduzir nosso déficit. Reformar nosso código fiscal. Rearranjar nosso sistema de imigração. Sermos independentes do óleo do exterior. Temos mais trabalho a fazer. 
Mas isso não significa que o trabalho de vocês terminou. O trabalho do cidadão, em nossa democracia, não tem fim com o voto. América nunca teve a ver com "o que pode ser feito para nós". Tem a ver com "o que pode ser feito por nós", juntos, por meio de árduo e frustrante, mas necessário, trabalho de autogovernança. É sobre este princípio que estamos alicerçados.
Este país possui mais riqueza do que qualquer outro. Mas não é isso que nos torna ricos. Temos a mais poderosa organização militar da história, mas não é isso que nos faz fortes. Nossa universidade, nossa cultura, são, todas, invejadas por todo o mundo. Mas não é isso que, sem cessar, traz o mundo às nossas margens.
O que faz a América ser excepcional são os laços que mantêm unida a mais diversificada nação da Terra. É, também, a convicção de que nosso destino é compartilhado; de que este país só entra em ação quando aceitamos certas obrigações de uns para com os outros, e para com as gerações futuras. A liberdade pela qual tantos americanos lutaram, e morreram, vem acompanhada tanto de responsabilidades, como de direitos. Entre eles estão o amor e a caridade, o dever e o patriotismo. É isto que faz a América grandiosa.
Estou esperançoso esta noite porque vi aquele espírito em ação, na América. Vi-o no negócio familiar cujos donos  cortaram seu próprio pagamento, em vez de demitir seus vizinhos. Vi esse espírito nos trabalhadores dispostos a reduzir suas horas, para não ver um amigo perder o emprego. Vi esse espírito nos soldados que se realistaram após  perderem braços ou pernas, bem como naqueles SEALs,[NT] que se embrenharam na escuridão e no perigo, porque sabiam que um companheiro, atrás deles, dava-lhes cobertura.

Eu o vi no litoral de New Jersey e New York, onde líderes de todos os partidos e níveis de governo puseram de lado suas diferenças, a fim de ajudar uma comunidade a reconstruir-se   a partir das ruínas deixadas por uma terrível tempestade. E eu o vi outro dia mesmo, em Mentor, Ohio, onde um pai contou a história de sua filha de 8 anos, cuja longa batalha, por causa da leucemia, por pouco não custou, à família, tudo o que tinham, não fosse a reforma do sistema de saúde ser aprovada apenas uns poucos meses antes de a companhia de seguro estar prestes a parar de pagar seu tratamento.
Tive oportunidade não apenas de conversar com aquele pai, mas de conhecer sua incrível filha. E, quando ele falou para a multidão que ouvia sua história, cada pai ou mãe naquela sala tinha lágrimas nos olhos, porque nós sabíamos que aquela pequena menina poderia ser nossa própria filha. E eu sei que todo americano deseja que o futuro dela seja, também, brilhante. Estes somos nós. Este é o país que tenho tanto orgulho de liderar, como presidente de vocês.
E, esta noite, apesar de todas as dificuldades por que temos passado, apesar de todas as frustrações de Washington, nunca me senti tão esperançoso quanto a nosso futuro. Nunca me senti tão esperançoso quanto à América. E peço a vocês que mantenham essa esperança. Não estou falando de otimismo cego, do tipo de esperança que ignora a enormidade das empreitadas por vir, ou os bloqueios de nossa estrada. Não estou falando de idealismo sonhador, que nos permite apenas aguardar no acostamento, ou esquivar-nos de uma luta.
Sempre acreditei que a esperança é aquela coisa obstinada dentro de nós, que insiste, apesar de todas as evidências em contrário, na ideia de que algo melhor nos espera, contanto que tenhamos a coragem de continuar buscando, trabalhando, lutando.
América, eu acredito que podemos construir sobre o progresso que fizemos, e continuar a lutar por novos postos de trabalho, novas oportunidades, novas formas de segurança para a classe média. Acredito que podemos honrar a promessa de nossos fundadores; a ideia de que, se você estiver disposto a trabalhar duro, não importa quem você seja, ou de onde tenha vindo, ou qual sua aparência, ou onde está seu coração. Não importa se você é negro ou branco, ou hispânico, ou asiático, ou um americano nativo;  se é jovem ou velho, rico ou pobre; o quanto de mobilidade você tem; se é gay ou não - você pode chegar lá, aqui na América, se estiver disposto a tentar.
Acredito que podemos abraçar este futuro juntos, porque não somos tão divididos como nossa política sugere. Não somos tão pessimistas quanto os especialistas pensam. Somos maiores do que a soma de nossas ambições individuais, e ainda somos mais do que um grupo de estados vermelhos e outros azuis. Somos, e para sempre seremos, os Estados Unidos da América.
E, juntos, com a ajuda de vocês, e a graça de Deus, continuaremos nossa jornada adiante, lembrando ao mundo  as razões por que vivermos na mais grandiosa nação da Terra.
Obrigado, América. Deus abençoe vocês. Deus abençoe estes Estados Unidos.
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Notas da Tradutora

1.PAUL RYAN - parlamentar, lidera a comissão de orçamento no congresso americano.

2. George e Lenore, pais do adversário de Obama nestas eleições, Mitt Romney, também detiveram importantes posições na política.
3. original 'guys'; parece estranho, mas alguns de nós também deixamos escapar 'cara' ao nos referirmos, na camaradagem, a alguém do sexo feminino.
4. Ao ganhar o primeiro mandato, Obama, em seu discurso de vitória, prometeu às filhas - e cumpriu - dar-lhes um cachorro. O nome dele é Bo.
5. SEALs - grupo de operações especiais da marinha dos Estados Unidos. SEAL vem de sea (mar), air (ar) e land (solo).
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