Coerência, por favor!

Dedão da mão direita 'encapuzado', dou explicações ao motorista:

- Foi ontem, no ônibus. O balaustre quase esganou meu dedo.
- Você sabe o que é esganar?
Respondi levando a mão esquerda à altura do pescoço.

- Então, como você diz que seu dedo foi esganado?
- Estava brincado - retruco banalmente, esperando fazer o assunto morrer.
- Mas se você fala assim, isso atrai coisa ruim para você. Sua boca tem poder.
- Sua minha boca tivesse tanto poder assim... - digo na maior simpatia, sorriso largo, fazendo pouco de 'minha boca'.
- Mas você tem que falar acreditando, não pode ser brincando. Em nome de Jesus Cristo.
- Esse é o ponto. Eu só falei brincando.
Foi demais para o crente em Cristo. Se o leitor perdeu o foco por causa da referência à religião, volte ao início do diálogo e preste atenção para perceber a total falta de coerência na fala do motorista.
Essa falta de coerência anda de mãos dadas com a crença. Quanto maior é  uma, maior é a outra. Quem prima pela coerência - muito poucos - não são crentes.

Mas, o que aconteceu com meu dedo? Um balaustre solto, ainda que encaixado. Foi em me segurar, o ônibus dar um solavanco e... meu dedo ser fisgado, imprensado. Doeu, sim, pra caramba. Sangrou. Não vou processar a empresa, mas escrever pedindo que façam o conserto no ônibus. E tal trepidação exagerada indica que o veículo precisa também de amortecedores novos.

Meu querido leitor, preste atenção em suas incoerências. Então, as alheias também ficarão evidentes. Muito pouco poderá você fazer pelos outros, quanto ao sintoma mais clássico de quem é avesso ao pensar. Quanto a você, buscar ser coerente pode render-lhe, por fim, o reino do céu.

Suponho que você já aprendeu com meus textos o que conquistar o reino do céu significa de fato, segundo um certo mestre que chamam de Jesus de Nazaré.

Ótima semana!