O mais novo doutor em Filosofia pela USP - Luiz Augusto Contador Borges - assim respondeu a um dos arguidores da banca examinadora, que afirmou que a tese apresentava 'circularidade', ou seja, o candidato, em seu trabalho, não saía do lugar:
"É como comparar o orgasmo masculino e o feminino: o orgasmo masculino é direto; o feminimo... [ele gestibula fazendo círculos no ar] é essa circularidade", completa em tom pejorativo.
A maioria dos membros da banca riu, inclusive a professora que o arguía. A desastrosa afirmativa foi a única incisiva do agora doutor que, acumulando circularidade em suas considerações durante toda a sessão, logrou ao cabo ser aprovado... com a ressalva de incluir, na tese, os "comentários" feitos pela banca. Há alguns meses - talvez já tenha um ano - a USP permite que a tese seja 'reescrita' depois da sessão de defesa, uma saída para enfrentar o fato de que a publicação das teses na internet paoou a ser obrigatória.
O orientador, após todas as arguições, declarou que, diante de "tantas contribuições da banca, Luiz tinha agora muito em que pensar".
Terá muito que reescrever da tese.
Eu só aprovei o candidato quando ele disse que seu trabalho "é incipiente, ainda está sendo feito"; que estava ainda "no corpo a corpo com o trabalho".
Já na calçada, deparei-me com quatro dos membros da banca (são cinco, no total), e disse ao orientador: "Tinha de ser reprovado por aquele comentário sobre orgasmo. Tinha que começar tudo de novo, para aprender a não dizer asneiras gratuitas". O orientador retrucou: "Não fui eu quem disse".
Eu me recriminei por não ter escolhido, justamente no Dia Internacional da Mulher, outra defesa para assistir - havia sete opções. Amanhã, serão DOZE defesas, considerando só a FFLCH, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Um tsunami de doutores.
Aliás, tsunami também entrou na arguição daquela professora, Dra. Marisa, que "comentou" sobre a narrativa da tese: "é meio tsunami, vai levando tudo". Ela se referia à falta de critério no emprego de conceitos, o que foi reiterado pelo prof. Celso, que fez a arguição seguinte.
Esse professor, contudo, frisou que não propunha questões ao candidato, apenas fazia comentários, uma assertiva que, ainda que soe hipócrita para muitos, é bastante comum nas sessões de defesa naquela instituição.
Tenho visto, em todas as defesas, uma sessão de "comentários", de "contribuições" da banca para a reescrita da tese. E isso é declarado durante a sessão, em tom bem audível.
Outros comentários do prof. Celso:
"Em sua tautologia, você não saiu do lugar" (a tal circularidade, em outras palavras).
"Nos grandes conceitos, você não parou [não se deteve] neles; tinha [com ênfase] de parar".
"Não fez nada de novo; só repetiu Bataille".
Não é razoável supor que o agora doutor vá de fato incorporar fielmente em sua 'reescrita' esses comentários. E são apenas três, dentre os feitos pela banca.
Eu fico com a estúpida declaração sobre orgasmo atravessada na garganta.
Durante o intervalo, fui até a copa tomar água e desabafei com a copeira, que assim reagiu: "Eu entro nessas salas e tampo os ouvidos. Cansei de ouvir cada coisa..." Ela faz visitas durantes as sessões para oferecer água e café à banca. Quem apenas assiste, não tem a mordomia. Mas pode até se divertir, se se juntar à banca e rir com as asneiras. E amanhã tem mais. Muito mais. E, se for até a copa, rola um cafezinho, sim.
Para obter relação de defesas do dia, entrar no site http://www.fflch.usp.br/ e procurar por "hoje" ou "eventos" e atentar para o dia desejado.
