Monday, February 13, 2012

Por que atacar um encontro de ateus?

Matéria de ontem - Dia Não Oficial do Orgulho Ateu - do Estadão ressalta que o Primeiro Encontro Nacional de Ateus é atacado por outros descrentes.
O texto "Sob crítica, ateus buscam se unir" citou as seguintes opiniões negativas:

"Olha uma nova religião aí".
"O problema dos ateus é que parecem que vivem em função disso... [vocês, ateus] estão fazendo a mesma coisa que os religiosos".
"Também não acredito em Deus, mas essa ideia é absurda. Eles têm a necessidade de que a ciência seja uma segurança como a que Deus dá para os fiéis. Quem é ateu não precisa ficar se confrontando, provocando".

Dentre elas, temos que apenas uma é, declaradamente, de um 'descrente'. Mas o repórter - ou a redação - não resistiu à tentação de colocar 'descrentes' na síntese abaixo do título.

Todos esses comentários são destituídos de reflexão. São meras reações emocionais, como "curtir" ou "não curtir".
Se forem confundidos com um tom filosófico ou intelectual, cabe estar ciente de que quem os emite não teria uma segunda ou terceira sentenças para dizer a respeito. Diante disso, o Twitter se torna o veículo. Não passam de ideias padrão, em que apenas tira-se "X" e colocam-se "ateus" no lugar.

Analisemos uma a uma.

1.
"Olha uma nova religião aí". Apenas provocação. Há uma banalização do conceito de religião, mas quem diz isso não se preocupa com precisão de conceitos. Reagiria alegando que tal cuidado seria "outra religião".

2.
"... parecem que vivem em função disso... estão fazendo a mesma coisa que os religiosos".
Ao dizer a primeira parte, a pessoa deve ter percebido que os religiosos parecem também viver em função da própria religião. Então, ele emenda com a segunda afirmativa: estão fazendo a mesma coisa... Para começar, é um comentário vago. Tal "mesma coisa" é encontrar-se? Ora, todos os seres minimamente sadios fazendo isso o tempo inteiro. A pergunta a se enfrentar é: por que os ateus haveriam de não fazê-lo? Então desponta, mais claramente, o preconceito contra eles.

3.
a) "... ideia absurda".
Claro, é exagero. Sincronizar um encontro nacional, totalmente aberto, com atividades comuns. Coisa corriqueira hoje, absurda de modo algum.
b) "... a ciência como segurança, como Deus é segurança"...
Isso já virou cliché de tanto que foi repetido. Sugere fortemente que quem afirma isso só consegue ver o diferente sob os mesmos parâmetros com que vê a si mesmo e/ou é visto pelos outros. Assim, se Deus é segurança para nós, a ciência "tem de ser" segurança para eles.
c) "Quem é ateu não precisa ficar se confrontando, provocando".
Também sem fundamentação lógica, essa sentença me faz lembrar de outra tão reacionária: a moça que tem valor não precisa ficar se exibindo, usando roupas assim-assado. O "raciocínio" é o mesmo: sou superior, então tenho de me fechar, não aparecer, não fazer coisas "baixas". Muita gente, como se vê, ainda 'compra' esse discurso autoritário e, depois, ainda o 'vende'.

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