Saturday, July 30, 2011

Será Dom Odilo capaz de ser meu amigo? Um encontro inesquecível na Hebraica

Após o encontro com Dom Odilo Scherer e o rabino Michel Schlesinger, na Hebraica, sentimentos opostos cortejavam meu pensar.

Comecemos pelos sentimentos bons, que afluíam em virtude de meu recente experimentar: a firmeza com que o líder católico falou de igualdade, parceria e de sua admiração pela história dos judeus foi, mesmo, além de uma firmeza; passou emoção. O entusiasmo do rabino, seu desprendimento diante do outro líder religioso, sua sabedoria... que o levou clamar: "... independentemente da religião que a outra pessoa professe ou... deixe de professar, sim!, por que não?", assim aludindo também aos ateus.

A sombra dos sentimentos "negativos" - que, nesse caso", não são destrutivos em relação aos outros, mas são opacos em relação a uma existência de paz, convívio e esperança de um número enorme de pessoas. Nem tudo está indo tão bem em relação ao tal "diálogo interreligioso".

O que poderia favorecer aquela existência?

Essa foi uma das questões que Dom Odilo enfrentou, propostas por sua pequena mas relevante audiência. O arcebispo enfatizou, e a isso voltaria mais de uma vez no decorrer do envento, o conhecimento do outro e o diálogo. "É isso que permite afastar fantasmas - que acabam sendo pessoas reais", acrescentou.

Nós, os ouvintes, sentados para formar um único grande semicírculo, tivemos toda a liberdade para falar, e a maioria se dirigiu ao arcebispo, já que o rabino "estava sempre com eles".
Sim, não observei não judeus ali, além do arcebispo e das pessoas que o acompanhavam - quatro ou cinco (católicas, claro). Eu... o que sou? bem, agora você deixa o diálogo "complicado".

Vou responder assim. Todos haviam ido embora. Eu fiquei por último. Então, tomei um copo de água que sobrara e... reparei na bagunça. Comecei a juntar os copos usados, só para melhorar... Pois. acabei fazendo o serviço completo. Você já não me conhece? Coloquei o que ainda podia ser usado na mesa do escritório ao lado, recolhi inclusive as toahas, separei o lixo. Só não varri o chão, porque não avistei uma vassoura.

Prestes a finalizar tal tarefazinha, um homem surge do gabinete da presidência e dispara após conferir quem estivera ali: "De que lado você (eu) está"?
"Eu não tomo partidos. Sou analista. Pelos princípios universais".

É importante notar como todos são capazes de declarar que são "pelos princípios universais", mas colocam tais princípios, na prática, subordinados... a coisas não universais, como a religião a que grudam! Vejam vocês, que cabeças "brilhantes" se amontoam neste planeta!

Bem, se você nem notou que há, agora, uma resposta a "o que sou", acrescento que eu deixo a religião universal, que o catolicismo diz ser, para poder de fato ser fiel a princípios universais. Essa é uma declaração "complicada", de que o arcebispo não vai gostar. Mas é verdadeira. Se não deixar a religião "universal" de lado, vou inevitavelmente "tropeçar" na adesão aos princípios universais.

Não sou judia de formação. Algo me diz que tenho, como muita gente, judeus na árvore genealógica que não pode identificar. Minha formação é católica, bem estruturada - fui aluna, do jardim ao término do primeiro grau, de colégio católico. O que foi ótimo para mim. Não, não tenho nenhum trauma, ou fantasmas, que as pessoas gostam de aventar para explicar minha atual "condição". Eu a-do-rei todos os dias naquele colégio. Foi lá, numa festinha bem familiar, que eu encontrei, aos treze anos, quem seria meu marido. Esse "detalhe" remete a uma tragédia que se daria mais de vinte anos depois, mas o colégio não tem culpa nenhuma.

Bem explicado, já que nenhuma tarefa gosto de deixar incompleta, acrescento que sou católica porque (ainda) não fui excomungada. E não há como deixar de ser batizada de outro jeito - só com a excomunhão pelo papa. Direito Canônico. Mas, eu não apenas "não pratico". Eu não recomendo o catolicismo nem para meus netos. Não sigo "Jesus Cristo". Gosto de ensinamentos que foram parar nos evangelhos que chamamos bíblicos (ou canônicos), mas eles, os ensinamentos de que gosto, nada têm a ver com o mito que "morre para perdão dos pecados".

Não faça careta! Estou respondendo a uma pergunta sua, com honestidade. E sua careta faz-me enfrentar, de novo, aqueles sentimentos negativos.

Melhor voltar ao evento na Hebraica. Enquanto o semicírculo estava formado, as declarações de Dom Odilo foram auspiciosas. Quando, uma vez de pé, nos embolamos em pequenos círculos, falando desordenadamente, os "fantasmas" surgiram.

Uma senhora que, fazendo-se bem próxima de mim, elogiou "gostei muito da pergunta que você fez [para o arcebispo]", logo abordaria Dom Odilo para reclamar: "Eu ouvi ali, ali na N.Sra. do Brasil, uma pessoa declarar, durante a missa, que os judeus mataram Cristo".
Aí, Dom Odílio disse que "essa interpretação faz parte dos livros (sagrados)". A senhora não entendeu: "Como é?" O arcebispo, paciente, disse que "a condenação de Jesus foi pelos judeus, é fato histórico". Eu respiro fundo e deixo escapar: "Se falar, vou criar um problema "interreligioso". A senhora olha para mim, quase espantada, entendendo "ainda menos". "Não é fato histórico, não é", eu, por fim, declaro. Dom Odilo, agora dando passos apertados, procura mudar de interlocutor, tentando finalizar com: "Como uma pessoa pode responder por algo que aconteceu lá, há centenas de anos!" A senhora insiste: "Ah! A Inquisição"!
Dom Odilo agora está decidido a partir para outra. A senhora procura retê-lo: "Foi o papa João Paulo...II que pediu perdão?..." O arcebispo, agora algo impaciente, retruca: "Foi."

A senhora sai falando atrás dele, mas Dom Odilo não lhe dá mais atenção. Ela volta-se, então, para mim.

Não vou reproduzir aqui o que disse para ela e outros, enquanto nos "refrescávamos" após deixar a plenária. Meu propósito nesta não é dar uma aula de história 'não oficial', mas focar as dificuldades que a religião gera. E o "diálogo" entre aquela senhora e o arcebispo é excelente ilustração de que a dificuldade é inevitável.

Não adianta pedir perdão, e mostrar que não faz sentido culpar uma pessoa, hoje, por algo que seu povo fez há séculos e, ao mesmo tempo, continuar "relembrando", em atos religiosos e em educação religiosa, que aquele povo condenou o filho de Deus a morte.

A Igreja Católica não abre mão da teologia - de séculos e séculos atrás - para ser de fato universal. Entendeu agora o que isso significa? E por que eu deixo de lado minha catolicidade?

A condenação de Jesus não é fato histórico - todas as versões dos evangelhos se chocam entre si e, certo é, não houve aquele episódio em que Poncio Pilatos oferece libertar "um dos dois", e os judeus gritam "condene Jesus", em vez de condenar o bandido. Isso é conto teológico, com fim antissemita. O dia em que a Igreja Católica glossar essa e tantas outras passagens antissemitas do "novo testamento", então testemunharemos um ato de amor pelo outro digno de ser classificado como divino.

Não creio que isso venha a acontecer dentro dos próximos 500 anos.

Fiha da Paróquia São José do Jardim Europa - "passei minha vida" lá uns seis anos -, sei o quanto de fanatismo se propaga. Os fantasmas tornam-se latentes, tanto pela formação de padres (ao menos dos padres de certa ordem religiosa), quanto pela formação de novos fieis, seja qual for sua idade. Eu fui um caso 'tremendo', porque exorcizei o fantasma. Não o quis. Abertamente disse 'não' a ele.

Mas Dom Odilo enseja alguma esperança. Não é fácil se manter na Igreja Católica e se manter fiel a um código universal que podemos chamar de Deus.
Se Dom Odilo conseguir se dizer meu amigo, amigo de, sim, Mariangela Pedro, então podemos confiar em Deus. Espantar os sentimentos negativos com um sopro de ar voltado para o céu. E dizer com nossos botões:"Deixarei de fato um mundo melhor para os que vêm aí".

Volto com mais detalhes amanhã... se deus quiser. (está na massa do sangue!)

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