Wednesday, December 8, 2010

O JORNALISTA ALEMÃO E O FURO DA CAMISINHA

Um jornalista conterrâneo do papa teria, segundo alguns, conseguido uma declaraçâo do chefe maior católico que simbolizaria uma tão impossível flexibilização da Igreja - o uso de preservativo seria permissível em alguns casos, teria dito o sumo pontífice.

Muitos apenas exclamaram - já era mais do que a hora!

Outros, como o professor da PUC-SP e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, que se prestam a uma espécie de escudo da Igreja, foram mais uma vez mobilizados para pôr panos quentes - nada mudou, insistiram eles.

Outra pergunta sensata é: para que tanto alvoroço?

Por causa da infalibilidade do papa. Um infalível que muda de ideia desce degraus de poder, nesse caso uma questão de Estado, e de Estados.

Para mim, consideradas as manifestações de todos os lados, restou evidente que Bento XVI não foi feliz com a declaração. Desagradou a Cúria Romana. Isso muito provavelmente deu mais ĩmpeto à ideia de escolher um novo papa. Mas para isso se concretizar, Bento precisa morrer. Ou renunciar, o que não fará, claro.

Outro chá da meia-noite? Sem problema. Mas voltemos à pergunta com mais afinco.


Vou contrariar até Gilberto Dimenstein, mas não houve mudança, não. Bento apenas foi lógico, mantendo-se extremamente cauteloso. Mas deixou margem para os especuladores distorcerem suas palavras. E deu trabalho para a Cúria, que teve de explicar. Mais: para não acabar tachada de preconceituosa, a Igreja foi obrigada a dizer que a declaração valia para a prostituta (mulher) também. Um transtorno!

A declaração do papa, vejam bem, chegou ao detalhe de falar de homem prostituto, justamente para descartar a barreira à concepção, porque até mesmo uma prostituta poderia engravidar, ainda que improvável. E um prostituto, em adição, já é promíscuo. Assim, não seria o uso de camisinha que o tornaria promíscuo. A Igreja defende que a liberalização do condom incita a promiscuidade.

Portanto, houve, sim, um alarde oportunista da mídia e, claro, irritante para o Vaticano. A inteligência de Bento foi incompreendida, o que, aliás, ocorre com todas as inteligências, em geral.

Há, a meu ver, outra nuance no episódio. Como a Igreja Católica, a Santa Sé, para sermos mais precisos, vive no calcanhar dos governantes deste mundo - outro dia implicou com a China por causa da nomeação de um bispo -, o lado secular não perde a oportunidade de se engafinhar com a Santa Sé. Jogos de poder.

Luiz Felipe Pondé, que esbanja sempre no patético, teve espaço extra na Folha para escrever que a Igreja eleva o nível do debate em relação a AIDS e que a declaração de Bento significava um "ato de misericórdia". Dois equívocos escancarados. A Igreja sequer debate - não é não! Ponto. Pondé mais uma vez abusou de truques, sem jamais especificar como a Igreja elevaria o nível. E Bento, claramente, não pensava em misericórdia ao proferir tal sentença. Um promíscuo indiscutível - e, bem claro, homem - portando uma camisinha: em que isso contraria os dogmas? Perfeito. Em nada.

Toda a celeuma só pode vir a ser útil se, com o acima bem claro em mente, observamos a movimentação dos agentes, os jogos de poder.  E damos mais um ponto no bordado, que ajudará ainda mais a entendermos as movimentações que virão. Não é?

Mariangela Pedro
08-12-2010

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