Monday, December 20, 2010

Deus de novo: O profano e o insano

God The Profane and the Insane

Mas em Deus você acredita, né?

Louvo os dias em que não sou assaltada por essa pergunta que força determinada resposta. Esses dias säo raros.


Jesus está sempre na minha vida, no meu coraçäo!

Pobre Jesus, penso comigo. Sequer perguntam-lhe se ele quer estar naquele coração, ou em algum coração. A mulher que proferiu tal sentença acabara de tecer, de novo, comentário jocoso sobre a cor de minha roupa, o discreto preto. Ela, no mais subalterno dos postos, trabalha, todos os dias, de uniforme...

Tento escrever algo que preste sobre o assunto Deus, mas já parto com um sentimento de exasperaçäo e controlo-me para näo resmungar: "Deixem Deus em paz!" Ou: "Esperem pela volta do cordeiro-filho-salvador-senhor-salvaguardapapal (faltou alguma função?) em silêncio!"

É sempre impressionante a dimensäo da histeria religiosa - e, admito o oxímoro, às vezes essa histeria é sutil, velada.

Cientista das boas - e não envolvo Deus apregoando "graças a Ele" -, observo continuamente.

O terço, por exemplo. Foi parar nos pulsos da Virgem Mãe. Claro, os padres não usam esse oxímoro: ou dizem Virgem Maria, ou Mãe de Deus. Mas o que ressalto agora é a heresia de fazer tal Maria divinizada portar um terço, o que é também uma tática de merchandising como tantas outras exploradas pelo catolicismo. Do terço, Jesus ficou livre, não sei por quê.

O que há de sagrado num terço?

Se um terço näo é sagrado, o merchandising o torna profano. Mas a quem cabe, com exclusividade julgar, já o fez. É sagrado.

Nestes tempos pseudo-democráticos, comentar que seja o veredicto autoritário de que algo é sagrado certamente levará a se estender a classe de fobias, adicionando-se: sacrofobia.

Näo vou comentar o sagrado - näo além das breves ideias já propostas. Excluí "sagrado" do título, quebrei a dupla tradicional. Em vez de "o sagrado e o profano", lê-se "o profano e o insano".

A Virgem Mäe, retomemos, porta um terço; Jesus tem exposto um coração com espinhos, que sangra sem parar. Ninguém quer parar o sangue.

Ao manter-se a Mäe de Deus virgem a vida toda, as mulheres que fazem sexo sáo sujas. Ora, se elas passam a ser impuras com o coito, a "sujeira" vem do homem. Mas jamais ouvi que há homens impuros...

Insistem, também, que Jesus nunca fez sexo, porque fazê-lo seria "contaminar-se" pela mulher. E nascer de uma mulher que, naturalmente, fez sexo, seria sujar-se também.

Como estas insanidades persistem?

Esta é uma pergunta a levar a sério, em lugar da questäo "Deus existe?"

Filhos e filhas insanos... de Deus! Curem-se para näo mais azucrinar os lúcidos. É uma ótima promessa para o ano novo.

Experimentem trocar o coração que sangra sem parar por um cheio de ar mais puro.

Alguns ainda ousam disparar: O que é que você tem contra a Igreja Católica!?
A lista, evidentemente, é enorme. O absurdo é, diante da lista, não ser contra.

Ah, ela ajuda a combater a fome? Mas a fome nunca vai acabar, porque näo interessa, né? A fome ajuda a converter.

Junto com o sagrado, não proliferou, em semelhante proporção, o profano, mas o insano.

O profano é o minguado reino que insiste em não ser arrastado pela hipocrisia, pelo delírio, sim, ruidoso, irritante, arrogante.

Deus não precisaria ser um delírio. Mas a "civilização" ocidental, controlada a partir de Roma, não conseguiu se satisfazer com "menos".

Outro apelo: náo me perguntem mais se eu acredito em Deus. Acabo de aprimorar a resposta, e quem perguntar vai ficar ainda mais contrariado com ela.

Você não aguenta de curiosidade? Eis minha nova resposta:

Não, eu não acredito em Deus, porque não posso acreditar em você. Quando a grande maioria dos seres humanos - cujo comportamento, mesmo o mais corriqueiro, é uma afronta à ideia de Deus - merecer crédito, então, sim, terei a Razão para acreditar Nele.

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